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Bracher: Previdência deve ser aprovada até setembro e economia está tão boa “como nunca vi”; crédito e receita de serviços crescem menos

A reforma da Previdência deve ser aprovada até o fim de setembro na Câmara e no Senado e, juntamente com as medidas anti-fraude já definidas, devem garantir uma economia de mais de R$ 1 trilhão em dez anos. “Isso deixa o Brasil em uma situação macroeconômica tão boa quanto eu nunca viu na minha carreira”, afirmou hoje o presidente do Banco Itaú Unibanco, Candido Bracher, durante entrevista sobre os resultados do banco no segundo trimestre.

Segundo ele, a reforma traz aspectos relevantes na parte fiscal do país, pois interrompe o crescimento da relação divida publica/PIB. Há ainda a melhora da questão inflacionária, pois há mais de um ano o país convive com preços bem comportados. Além disso, há mais de um ano os juros estão baixos e estáveis e agora com tendência de queda.

“Há ainda uma coisa muito importante que é a menor dependência externa”, afirmou. “Houve um tempo em que o Brasil era altamente dependente de financiamento externo e qualquer crise internacional tinha impacto muito grande crise”, lembrou. Hoje, segundo ele, a necessidade de capital externo é menor, o país tem reservas internacionais que equivalem a 20% do PIB e o déficit de contas correntes externas é baixo. “O cenário macro é muito bom”, disse. O desemprego ainda alto, de 12%, também é um fator que ajuda na retomada do crescimento sem inflação. “Com um fator de produção importante sobrando tanto, o país pode crescer sem pressões inflacionárias”, disse. “É o que me faz ser otimista com a economia no curto e médio prazo”, afirmou.

Além da reforma da Previdência, Bracher diz que outras reformas podem acelerar o crescimento ao atuar sobre a produtividade da economia. “Vejo co bons olhos as alternativas de reforma tributária, pois hoje o atual sistema é um empecilho para o desenvolvimento do país, por isso somos classificados como país difícil para fazer negócio nos rankings internacionais”, explicou. Ele espera medidas para reduzir a burocracia e cita a Medida Provisória da Liberdade Econômica aprovada recentemente que deve simplificar vários aspectos da economia.

A preocupação maior, afirma Bracher, está no cenário externo. “Vejo as economias desenvolvidas com dificuldades para crescer sustentavelmente e há ainda o risco de guerra comercial entre os Estados Unidos e a China diminuir o crescimento do comércio mundial”, disse.

Sobre as turbulências políticas no Brasil, por conta das declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro e seus confrontos com o Congresso, Bracher diz que o avanço das reformas econômicas tem permanecido apesar dessas turbulências.

Crédito cresce, mas fica no piso das projeções

Segundo Bracher, o banco não reduziu seu apetite de risco que justificasse o menor crescimento do crédito. “Se não cresce, é porque não houve demanda”, explicou. A demanda se concentra em segmentos de maior risco, pessoas fisicas e pequenas e médias, onde inadimplência é maior, por isso ocorreu um aumento do custo de crédito do banco. Bracher diz que a projeção é de crescimento de 8% da carteira de crédito neste ano. “Estaríamos em 7,7% no segundo trimestre se não fosse a variação cambial no Chile e na Colômbia”, explicou. “Como o câmbio pode ir em qualquer direção e como esperamos um segundo semestre mais aquecido, esperamos ficar mais perto do guidance, de 8% a 11% de crescimento, mas mais perto do piso, de 8%”, disse.

Receitas de serviços aumentam com fundos de terceiros

Segundo Bracher, a receita de administração de fundos cresceu no segundo trimestre, ajudando no resultado de serviços do banco, apesar da redução dos ganhos com a competição com outra gestoras. O ganho maior veio do crescimento da distribuição de fundos de terceiros, com a abertura da plataforma do banco para outras gestoras. “Tivemos um crescimento grande, 48%, dos fundos de terceiros que distribuímos, de R$ 104 bilhões para R$ 155 bilhões, e recebemos uma parte da taxa de administração desses fundos como pagamento, o chamado rebate”, explicou. Como muitos desses fundos são de risco maior e cobram uma taxa de performance se conseguirem superar o referencial de mercado, e conseguiram neste mês ter um bom desempenho, a taxa foi maior e a receita que recebemos foi grande”, explicou.

Sobre as receitas de prestação de serviços, Bracher diz que estima que o crescimento fique na parte inferior das projeções, entre 2% e 5% este ano, assim como o crédito. O motivo são as perdas com a parte de adquirência de cartões de crédito, com a subsidiária Rede envolvida na guerra das maquininhas. “Mas temos a vantagem de ter um portfolio grande de serviços, e se vamos mal em adquirência, vamos bem em outras coisas, como asset managemente e banco de investimentos”, afirmou.

Inadimplência cresce, mas tendência é de queda

A inadimplência teve um pequeno crescimento no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o que reflete o aumento da participação na carteira de linhas de crédito de maior risco, afirmou Bracher. “As provisões estão crescendo, pois estamos crescendo em linhas que têm inadimplência maior”, disse.

O cenário, porém, é favorável a uma inadimplência  menor, afirma Bracher, pela recuperação da economia e menor desemprego.

Ele diz esperar também uma redução de spreads (diferença entre juro de captação e o do empréstimo) com a economia se tornando mais favorável na concessão de crédito. O risco diminui e tende a haver maior competição entre os bancos também. “O spread está caindo, mas como mudamos o mix de crédito, com produtos em que o spread é maior, o impacto é positivo”, explica. “Mas há mais de um ano a queda do spread tem sido um fator de redução da margem financeira com os clientes”, disse.

Tributo sobre transações financeiras é “imposto do atraso”

Bracher observou que a reforma tributária é muito importante, mas admitiu que “não é fã” da proposta de criação de um imposto sobre transações financeiras feita pela equipe econômica do ministro Paulo Guedes. É um imposto altamente regressivo, pune cadeias mais longas, que tem maior quantidade de transações, tributa na origem e no destino, prejudica exportações, é imposto que de certa maneira estimula informalidade quando as pessoas e agentes se esforçam para evitar transações, é imposto do atraso, mas viveremos com os impostos que forem apresentados”, afirmou.

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