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Ata do Copom reforça receio do BC com atividade fraca, mas deixa em aberto início do corte dos juros

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) trouxe poucas pistas sobre a trajetória dos juros além do que já havia sido dito no comunicado da reunião da semana passada, quando a Selic foi mantida em 6,50% ao ano. Assim, o mercado ainda segue dividido sobre quando os possíveis cortes nos juros poderiam começar, se já na próxima reunião de julho ou depois. O mercado mantém as projeções de juros abaixo de 6%, com a mediana das projeções dos analistas em 5,75% para dezembro, conforme o relatório Focus. No mercado futuro da B3, a projeção até janeiro de 2022 está em 5,93%. Hoje, as projeções dos contratos futuros estão em ligeira alta, acompanhando a piora no ambiente externo e do conflito entre EUA e Irã.

No texto da ata, o colegiado reconheceu o fraco desempenho da atividade econômica, com interrupção do processo de recuperação da economia nos últimos trimestres, e reafirmou a leitura de que os núcleos de inflação estão em níveis apropriados. Mais uma vez o comitê enfatizou a importância da continuidade das reformas para uma redução da taxa de juros.

Para o Departamento Econômico do Bradesco, a principal mudança contida no documento foi no diagnóstico do arrefecimento da atividade. O comitê reconheceu que os efeitos dos choques sofridos pela economia brasileira ao longo do ano passado se dissiparam, e citou outros fatores que podem estar restringindo o crescimento, como (i) a desaceleração da economia global e (ii) as incertezas quanto à sustentabilidade fiscal – em um contexto em que há pouco espaço para o investimento público. Nesse sentido, o avanço das reformas é importante para reduzir essas incertezas e estimular o investimento privado.

As projeções de inflação apontadas no documento indicam um quadro benigno no médio prazo – os modelos apresentados indicam inflação abaixo do centro da meta neste e no próximo ano. O comitê reconheceu que o balanço de riscos evoluiu de maneira favorável, mas  ponderou ser necessário observar avanços concretos na agenda de reformas para que esse cenário benigno para a inflação se concretize.

Para o Bradesco, o Banco Central deixou aberta a possibilidade de corte de juros nas próximas reuniões, à medida que a agenda de reformas avançar e as condições de contorno da atividade e inflação permitirem um corte de juros. “Continuamos, portanto, com a expectativa de cortes na taxa Selic, encerrando este ano em 5,75%”, diz o banco.

No Banco Safra, a leitura da ta é de que o BC considera que a inflação segue sob controle e o cenário externo apresenta mais riscos de deflação por conta do desaquecimento econômico. E o cenário mais benigno depende da aprovação da reforma da Previdência. Como o cenário do Safra contempla a continuidade da agenda de reformas, com a aprovação da reforma da previdência em primeiro turno no plenário da Câmara em julho, o banco espera dois cortes de 0,50 pontos percentuais nas reuniões do Copom de julho e setembro, conduzindo a Selic a 5,50% no fim deste ano.

A ata traz uma clara indicação verbal de que, condicional a avanços concretos na agenda de reformas, o Copom retomará a flexibilização monetária em breve, avalia Marcelo Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú. “Esse ponto é colocado no parágrafo 17, no qual as autoridades afirmam que o cenário prospectivo que incorpora cortes de juros produz inflação em torno da meta em 2020”, diz o economista em relatório enviado aos clientes hoje.

O texto também atualiza a avaliação da atividade econômica, com a concessão explícita de que a recuperação foi interrompida. Ao mesmo tempo em que expressa uma visão mais benigna sobre o ambiente externo, o Copom apresenta um a avaliação ambígua sobre o impacto do ajuste fiscal na economia, diz o relatório. “De forma geral, acreditamos que o texto reforça nossa expectativa de que o Copom reiniciará o ciclo de flexibilização com um corte de 0,25 p.p. na reunião dos dias 30 e 31 de julho, condicionado ao progresso concreto no fronte da reforma”, diz o Itaú, que destaca ainda que a decisão do Copom ocorrerá algumas horas após a divulgação da decisão do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) nos EUA, algo que pode ter algum peso sobre as deliberações locais.

Já a corretora Coinvalores considera que a ata e a inflação do IPCA-15 de junho divulgados hoje dão fôlego às apostas mais otimistas em relação à queda da Selic. O BC destacou a interrupção no processo de recuperação econômica no segundo trimestre, bem como os preços controlados e a melhora no balanço de risco global. A adoção de uma política monetária mais expansionista, ou seja, de juros ainda menores, contudo, segue bastante dependente do andamento das reformas. Hoje, a comissão especial da Câmara deve discutir o relatório da reforma da Previdência e pode tentar votar o texto amanhã ou na quinta-feira.

Para a XP Investimentos, a ata não trouxe grandes novidades em relação ao comunicado. A evolução dos riscos inflacionários melhorou, devido à estagnação da economia doméstica e perspectiva de redução de juros em diversas economias, mas ainda consideram que o risco preponderante para a condução da política monetária diz respeito ao andamento das reformas estruturais da economia brasileira. “Assim, vemos ainda como pouco provável um corte de juros na próxima reunião de julho”, diz a XP.

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