Fundos Multimercados, Fundos na Arena

Multimercados: com estrelas em baixa, carteiras alternativas rendem até 11% no ano

O ano está difícil para gestores de ações e também para os gestores de fundos multimercados, que buscam ganhos em todos os tipos de ativos. Levantamento feito com a ferramenta de fundos da Economática mostra que, entre 240 fundos da categoria, apenas 60 superam o juro do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, juro cobrado entre os bancos) no ano até maio. Foram considerados na amostra apenas as carteiras com patrimônio médio mais de R$ 50 milhões e mais de cem cotistas nos últimos 12 meses. Há na lista alguns que se saem muito bem, como o Polo Norte, com ganho de 10,98% até maio.

Estrelas de fora

Por isso, o maior destaque na lista dos fundos que rendem mais no ano é o que não está nela: os grandes gestores de recursos, reconhecidos pelo sucesso de suas estratégias em anos anteriores, como o Fundo Verde, de Luis Stuhlberger, ou as carteiras da SPX, da Ibiúna, ou da Gávea, do ex-Banco Central Armínio Fraga. O Verde, um dos maiores fundos hedge do mundo, com R$ 14 bilhões, teve o primeiro mês de ganhos no ano em maio.

O motivo é que a maioria desses gestores adotou uma visão muito negativa com relação aos fundamentos do Brasil e, por isso, não foi beneficiada pela melhora da bolsa e pela queda do dólar e dos juros nos últimos três meses. “A maioria dos gestores de fundos multimercados macro prevê um cenário pessimista para a economia brasileira, a despeito desse movimento de curto prazo”, afirma a Rio Bravo, referindo-se à queda dos juros nos Estados Unidos, que aumentou o apetite por risco e beneficiou os países emergentes e suas moedas e as bolsas, derrubando os juros de março para cá.

De olho na economia dos EUA

A expectativa, segundo a Rio Bravo, é que esse capital especulativo que veio para os emergentes não permaneça por muito tempo e que uma eventual reversão desse fluxo possa provocar piora súbita nos mercados. O prazo para essa saída será dado pela economia americana, cuja fraqueza adiou, por enquanto, um ajuste maior dos juros dos EUA. Se o debate voltar a ser sobre a possível alta de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano), esse movimento de maior apetite por risco pode se reverter, assim como a liquidez nos mercados emergentes, que seguiriam então na direção que os fundos multimercados da estratégia Macro estão esperando.

Estratégias menos macro

Enquanto esse ajuste não vem, os fundos que se destacam pelo melhor desempenho têm em comum estratégias menos voltadas a antecipar os movimentos dos mercados e mais aplicações específicas. Como eventos envolvendo uma empresa no mercado acionário e não a tendência do Índice Bovespa, caso do Polo Norte, ou papéis privados que rendem juros mais altos e que se saem melhor do que fundos que buscam acertar o comportamento das taxas de longo prazo, como o CSHG Crédito Privado Sigma. Há ainda os fundos que buscam ganhos no mercado internacional, como o BTG Pactual Global, ou o CSHG S&P 500. Outros, como o Advis Enduro, perdeu com o cenário mais pessimista no ano passado, mas agora se recupera com a melhora da bolsa e a queda dos juros e câmbio, o chamado kit Brasil.

Polo Norte, quase 11% no ano

Um exemplo dessas estratégias é o fundo Polo Norte, da Polo Capital Investimentos, com rendimento de 10,98% no ano e 35,79% em 24 meses até maio. O fundo aplica majoritariamente em ações, o que já não é comum entre os grandes multimercados brasileiros. Mas, apesar disso, sua carteira pouco tem a ver com o Índice Bovespa. “Nossas maiores posições são estratégias de eventos envolvendo empresas na bolsa, mudanças relevantes no campo societário ou no lucro e que não estão no preço da ação”, afirma Mariano Andrade, sócio responsável com relação com investidores da Polo Capital. Tanto que apenas 25% do risco do fundo está ligado a estratégias macro, como juros e câmbio, e 10% em crédito de empresas. “Temos uma perda reduzida em câmbio e ganhos nos juros, pois estávamos aplicados em pré, posição contrária dos outros gestores”, explica.

Mas o que manda na cota é a parte de eventos com destaque este ano para a empresa de varejo eletrônico B2W. O fundo é acionista da empresa desde 2011 e foi beneficiado este ano com o anúncio de oferta de um fundo americano, o Tiger, que queria entrar no capital da empresa. “Aí, como o volume de ações no mercado é pequeno, o preço subiu e a ação já acumula um ganho de mais de 100% no ano”, observa o gestor. “E nós achamos que o papel pode valer bem mais”, afirma Andrade. (leia mais sobre o Polo Norte).

Riscos de perda e retorno

Abaixo seguem os dados dos 20 fundos com maior rendimento no ano. Vale observar as duas últimas colunas da tabela, o prêmio neste ano em relação ao CDI e o Value at Risk das carteiras. O VaR dá uma ideia do risco que os gestores correram para obter os ganhos. No caso, o percentual mostrado é a perda potencial máxima estimada para o fundo em um mês. A referência no caso dos multimercados é a taxa básica Selic. Fundos com VaR mais elevado costumam ter mais ações em suas carteiras, caso do Polo Norte, do CSHG S&P 500 (com estratégia ligada ao índice de ações da Bolsa de Nova York) e o Advis Enduro.

 

Multimercados
Nome Classificação Gestora Patrimônio Cotistas Tx. Adm. Maio 2014 12 meses 2 anos Prêmio ano VaR mês
Polo Norte I Multiestrategia Polo Capital 382.658 273 2,50 4,78 10,98 20,12 35,79 266,30 5,56
BTG Pactual Global Cred Priv. Multiestrategia BTG Pactual 3.146.013 666 2,00 1,32 9,20 17,72 42,76 223,20 0,56
CSHG S&P 500 Long Term All Multiestrategia CSHG 72.764 206 1,50 3,13 6,30 14,86 152,90 5,98
Advis Enduro 30 Multiestrategia Advis 124.667 438 2,50 4,48 6,20 2,85 12,94 150,50 5,27
CSHG Cred P. Sigma JR Multiestrategia CSHG 215.608 503 0,60 1,58 5,66 7,01 20,30 137,30 1,32
Kapitalo Koppa Multiestrategia Kapitalo 75.917 108 1,50 1,34 5,61 11,42 29,03 136,10 0,76
Atrium Crd  Cred Priv Multiestrategia Cfo Adm. 77.957 133 0,80 1,13 5,40 12,87 131,10 0,09
Patria I Mult Ie Cred P. Estr. Específica Patria Invest 101.851 106 2,50 1,09 5,34 12,56 27,71 129,60 0,18
Brasil Plural Equity Hedge 30 Multiestrategia Brasil Plural 801.359 1.847 2,50 2,10 5,26 10,21 127,60 1,14
Manager Pl Cap Equ Hed 30 Multiestrategia J Safra 74.969 181 2,50 2,09 5,24 10,16 127,10 1,13
Gap Long Short Multiestrategia Gap Prudential 440.971 463 2,20 1,46 4,94 11,59 21,73 119,90 0,47
Mapfre Inversion Macro Mapfre 126.059 810 1,20 1,12 4,91 7,58 13,50 119,10 0,30
Itau Personnalite Hedge 30 Multiestrategia Itau Unibanco 399.987 6.296 2,00 1,06 4,90 12,17 21,11 118,80 0,14
BR Pl Cred Corp Cred Priv Multiestrategia Plural Capital 140.580 182 0,50 1,00 4,89 11,33 118,50 0,08
Advis Delta 30 Macro Advis 637.098 1.315 2,50 3,20 4,87 0,61 5,80 118,00 3,69
Bozano Quant Multiestrategia Trapezus 141.942 923 2,50 1,25 4,69 8,58 22,56 113,70 0,46
Lm Wa Multitrad. Adv Top Multiestrategia Western Asset 161.422 742 1,10 1,41 4,66 6,43 15,40 113,10 0,51
BTG Pactual Hedge Plus Multiestrategia BTG Pactual 1.178.275 2.186 3,00 1,00 4,61 7,95 21,02 111,80 0,76
Kadima II Multiestrategia Kadima 61.029 130 2,50 -0,22 4,53 11,09 18,48 110,00 1,56
CSHG Cred Priv Sigma Multiestrategia CSHG 942.809 1.279 0,50 0,97 4,50 10,24 19,16 109,30 0,08

Fonte: Economática. Fundos com patrimônio acima de R$ 50 milhões e mais de 100 cotistas na média dos últimos 12 meses. Patrimônio em R$/mil. Taxa de administração ao ano em porcentagem. Retornos em porcentagem. Prêmio em relação ao CDI no ano. VaR mensal, equivalente à perda máxima estimada para o fundo no período de um mês.

 

 

 

 

 

 

 

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