O Banco Fator está aprofundando seu processo de reestruturação, buscando retomar o lucro ainda este ano, apesar de todas as dificuldades do mercado brasileiro, afirma Venilton Tadini, presidente da instituição. Entre as mudanças, estão a transferência de áreas do banco e executivos da corretora para a Fator Administração de Recursos (FAR). Nesse processo, o economista Paulo Gala, estrategista da corretora, irá para a asset reforçar a área de multimercados. “É a hora de separar os meninos dos homens, queremos estar preparados para quando o mercado melhorar”, afirma Tadini.
A reestruturação inclui o aumento das operações de crédito do banco, a ampliação das atividades da gestora de recursos e o reequilíbrio da corretora, que sempre foi um dos principais negócios do grupo, mas que passa pelas dificuldades do mercado de ações brasileiro. A expectativa de Tadini é que o grupo divulgue um balanço de 2014 ainda no vermelho, mas tendendo para o azul este ano. “Boa parte das perdas do ano passado virá da corretora, pela situação do mercado em geral, mas devemos ter lucro na seguradora, equilíbrio no banco e uma pequena perda na FAR”, estima. O balanço de 2014 deve ser divulgado nos próximos dias. Tadini diz que o banco já está numa trajetória de rentabilidade positiva.
No banco, as mudanças se concentram no segmento de crédito, no qual o Fator trabalha há três anos para conquistar mercado. Isso exige, além de mais capital próprio, estruturas reforçadas de análise de risco, compliance (controles) e sistemas. Segundo Tadini, o Fator já tem uma alavancagem de quase duas vezes seu patrimônio líquido. “Nossa área de crédito está crescendo com o aprendizado, tanto a carteira quanto a estrutura operacional”, diz.
Aumento da carteira de crédito
Essa estrutura permite a organização de operações de debêntures de empresas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), por exemplo. Com isso, a carteira de crédito da instituição cresceu de R$ 450 milhões no fim de 2013 para R$ 600 milhões no fim de 2014 e deve atingir R$ 800 milhões no fim deste ano. “No crédito, dependemos da demanda e das oportunidades, mas temos também a demanda cativa dos clientes da corretora, que usam empréstimos em algumas operações de mercado garantidas pelos ativos”, diz.
Tadini lembra que as outras áreas ajudam a dar liquidez e distribuir os ativos de crédito criados pelo banco. Ele cita o segmento de gestão de fortunas, que foi criado há três anos e foi reforçado e conta agora com 2.100 clientes.
O executivo destaca, porém, que o crescimento do crédito é feito com bastante cautela. Tanto que o Banco Fator tem hoje o equivalente a mais de 50% do patrimônio em caixa. “Num momento de incerteza, preferi aumentar a liquidez e não correr riscos, sendo o mais conservador possível”, diz.
A maior dificuldade é justamente o fato de que o ajuste do grupo está sendo feito em um mercado difícil, com ambiente recessivo. Mas os dados mostram que a estratégia está no sentido correto e as sinergias entre as várias unidades do banco começam a aparecer. “Nossa vantagem é que o Fator é mais que um banco, pelas várias unidades de negócios que possuímos”, explica.
Elas incluem a corretora, origem do banco, e a asset, ambas áreas que passaram por enxugamentos no ano passado. “O mercado mudou e o tempo mostrou que fizemos o enxugamento na hora certa”, diz Tadini.
A seguradora é outro negócio em que o Fator está investindo. O foco é o seguro garantia de infraestrutura e engenharia. “Em fevereiro, tivemos R$ 20 milhões de faturamento em prêmios, um recorde e ainda mais em um momento difícil da economia”, diz Tadini. Esse desempenho ajuda o grupo neste momento de transição, destaca.
Reestruturação da corretora
A corretora da Fator foi o principal alvo do processo de reestruturação, lembra Tadini. Houve uma redução na equipe de análise, que passou a se focar mais em pequenas e médias empresas sob comando de Daniel Utsch.
A corretora deixou de atuar no segmento de varejo e os clientes com maior potencial passaram para o private bank. As mesas de operações voltadas para atender clientes institucionais e os segmentos de renda fixa e de futuros e BM&F foram reforçadas. “Agora estamos voltando a expandir a corretora, temos 31 operadores, 6 a mais que no ano passado, e devemos ter 42 até meados do ano, aumentando nossa presença no mercado de clientes institucionais”, diz Tadini.
Apesar disso, Tadini não arrisca dizer que a corretora reverterá os prejuízos este ano. “Fizemos os ajustes, mas estamos nos preparando desde 2011, e o cenário acaba sendo pior que o esperado”, diz o executivo, lembrando que há quatro anos a expectativa era de um Ibovespa a 60 mil pontos, bem mais que os atuais 50 mil pontos.
Mas ele destaca a importância do grupo ter uma corretora, para atender ao banco de investimentos como canal de distribuição das operações que o banco estrutura e para participar de outras operações. Além disso, há a sinergia com a asset, que usa os serviços e cria negócios para a corretora, e com o private, que, além de usar os serviços, também consome produtos distribuídos pela corretora. “Ela é uma estrutura importante num banco de investimentos e, quando o mercado voltar a se aquecer, estaremos preparados”, diz. “A corretora é nosso DNA, é um ativo importante para nós”, diz.
Asset terá ativos imobiliários e private equity
Na asset, a reestruturação incluiu a criação de duas novas estruturas, uma imobiliária e outra de private equity, de investimento em empresas fechadas, que vão complementar os outros pilares de fundos multimercados e de ações. A área imobiliária foi montada a partir da equipe de fundos que ficava no banco e passou para a Fator Administração de Recursos (FAR). O responsável pela área, Valderi Albuquerque, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, também trocará o banco pela gestora, que já começa com R$ 200 milhões em fundos imobiliários.
E a área de private equity está sendo desenvolvida com alguns fundos em preparação. “Estamos reforçando as estruturas de negócios na FAR, para recuperar volume de gestão e dar novas alternativas de captação”, afirma Tadini.
Equipe reforçada
As equipes da gestora também foram reforçadas, diz o executivo. “Pegamos o pessoal de primeiro time de analistas da corretora e colocamos no Sinergia”, diz Tadini. A família de fundos Sinergia é especializada em empresas pequenas ou de baixíssima liquidez e um dos mais conhecidos da FAR.
Paulo Gala na FAR
Outra medida, para auxiliar na gestão dos multimercados, é a ida do economista e estrategista da corretora Paulo Gala para FAR. Na corretora, o chefe de análise, Daniel Utsch, acumulará a parte de estrategista. “O Daniel teve de reestruturar a equipe após a saída da Lika (Takahashi, que chefiava a área de análise até o ano passado) e houve uma renovação completa”, lembra Tadini. Com o processo encerrado, ele poderá assumir a função de estrategista também.
Tadini conta com uma melhora da economia do país, mas não no curto prazo. A alta do dólar, lembra, deve continuar e terá impacto positivo sobre a indústria. Mas esse impacto levará algum tempo. “No Plano Real, em 1999, e depois, em 2003, foram dois anos para as indústrias brasileiras se beneficiarem da desvalorização forte do real”, lembra.
Impacto do dólar pode demorar
O primeiro impacto é nos produtos com preços formados no exterior, os “tradables”, que se tornam mais caros para importar e valorizam a produção local, como os têxteis, alimentícios e bens duráveis. Já a exportação industrial demora mais, até porque é preciso reconquistar mercados. “Mas o deslocamento do câmbio vai acontecer, até pelo déficit de conta-corrente que temos e que precisa cair”, diz. Com o juro local alto no curto prazo para combater a inflação, porém, a economia tende a se desaquecer ainda mais. E há ainda os problemas da operação Lava Jato, que pararam diversos projetos. “Este será um ano difícil”, resume.