Fundos de Crédito, Fundos na Arena

Os riscos e o que olhar na hora de aplicar em Fidc

Os fundos de investimento em direito creditório (Fidc), que reúnem valores a receber de bancos e empresas comprados com desconto, tiveram seu momento de glória na segunda metade dos anos 2000, com o crescimento do crédito consignado e, depois, com a bolha de crédito de veículos em pequenos e médios bancos e financeiras.

Os empréstimos a receber são vendidos com desconto para os fundos que, depois do pagamento, repassam os ganhos para os investidores. Com isso, os emissores dos papéis antecipam o recebimento dos valores e assim obtêm novos recursos para emprestar. O modelo é chamado de securitização de crédito.

Porém, a partir de 2010, esses fundos caíram em desgraça, com a descoberta de irregularidades envolvendo bancos como o Panamericano, o Cruzeiro do Sul e o BVA e, mais recentemente, com a empresa de factoring TrendBank. Problemas como  ocultar a inadimplência das carteiras,  duplicar os valores a receber, vender o mesmo ativo para mais de um fundo ou fazer empréstimos a empresas ligadas à instituição afastaram os investidores e levaram o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a criar regras mais rígidas para o controle dos ativos que entravam nessas carteiras e sua transparência.

Risco operacional e de fraude

Há dois riscos principais na aplicação em Fidc, diz José Eduardo de Assunção, sócio responsável pela parte operacional da Empírica Investimentos, gestora independente especializada em crédito estruturado: o risco de fraude, mais difícil de detectar, e o risco operacional puro. Por isso, é preciso analisar bem a estrutura do fundo, pois a possibilidade de erro operacional sempre existe. E isso exige acompanhar também o trabalho do custodiante, que garante a existência dos ativos, do gestor e do administrador da carteira.

Muitos problemas recentes dos Fidc foram provocados por fraudes nos próprios bancos, observa Leonardo Russo Calixto, também sócio da Empírica. “Por isso, é preciso conhecer bem o originador dos créditos”, diz. Assunção acrescenta que são poucos os investidores que vão conhecer de perto quem origina o crédito para os Fidc. Ele lembra que viajou recentemente para o interior de Minas para conhecer uma empresa que originava crédito para um Ficd onde a Empírica queria aplicar. “O diretor ficou surpreso, pois eu era o primeiro investidor do fundo a fazer isso”, afirmou Assunção.

Outro cuidado é conhecer a política de crédito e participar do comitê de crédito do gestor do Fidc, sempre que possível.

Definição dos papéis

Para Calixto, a instrução 531 da CVM permitiu reduzir bastante o risco dos Fids ao evitar o conflito de interesses entre os participantes do fundo. Isso foi possível ao determinar a segregação das atividades de gestor, administrador da carteira e custodiante. “Os maiores problemas ocorreram em estruturas verticalizadas, onde uma só instituição fazia tudo e não havia um terceiro verificando se tinha algo errado”, lembra Calixto.

Com as novas normas, ficou mais clara a responsabilidade de cada prestador de serviços. “O custodiante, por exemplo, já era responsável pela existência e pela guarda dos ativos, mas agora isso ficou mais claro legalmente”, diz.

Hoje, porém, o investidor escolhe os Fidc apenas pelo rating da carteira, até porque não tem conhecimento para fazer análise, e acaba não observando a estrutura operacional do fundo. “O investidor olha só o macro, o emissor e o tipo de recebível”, diz Calixto.

Calixto afirma que, antes de investir, é preciso ir além do documento que estabelece as regras do fundo e pensar no que pode dar errado. “Na hora da verdade, nem tudo acontece como está escrito no regulamento”, explica o gestor, destacando que às vezes o problema nem é provocado por má-fé do estruturador. “Tem problemas operacionais mesmo, de controle dos recebíveis, por exemplo”, diz.

Recompras e inadimplência

Por isso, a primeira coisa é verificar a estrutura operacional do fundo e seus ativos. É preciso também verificar se o fundo faz recompras constantes dos créditos que tem a receber, o que acaba mascarando uma eventual inadimplência pois o ativo vencido é substituído por outro a vencer. “Tem fundos nos quais esses dados de recompra não aparecem nos relatórios”, diz Calixto.

Uma forma de monitorar isso é questionar o administrador sobre as recompras e somá-la à inadimplência do fundo. Essa soma dará o risco real da carteira.

Mercado se ajustando

Os problemas com os Fidc levaram até grandes instituições que atuavam nesse segmento como prestadoras de serviços de custódia ou administração a se afastarem, pelo risco de verem seus nomes envolvidos em irregularidades. Bancos como Deutsche Bank e Citibank e até o Itaú em alguns tipos de crédito abriram espaço para outros como Santander e outros de menor porte, como o Banco Paulista.

Esse movimento acaba sendo positivo pois permite uma aproximação maior dos estruturadores menores de Fidc dos prestadores de serviços. “Podemos montar estruturas mais personalizadas e acompanhar mais de perto o trabalho dos custodiantes, gestores e administradores”, diz Assunção.

Resumindo, as dicas da Empírica para aplicar em Fidcs são:

Conhecer bem o emissor dos recebíveis

Verificar a estrutura operacional do fundo

Tentar detectar possíveis falhas de controle

Conhecer e acompanhar o trabalho dos estruturadores, custodiantes e administradores

Verificar a inadimplência e também o volume de recompras do fundo

 

 

 

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