Arenas das Empresas, Resultados

Presidente do Bradesco diz que país passa por depuração com escândalo da Petrobras

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, diz que a forte crise enfrentada pela Petrobras por conta das denúncias da operação Lava Jato de desvio de recursos e superfaturamento de contratos causa desconforto não só para a empresa, mas para todos os setores ligados, como as construtoras da cadeira produtiva do petróleo, do açúcar e do álcool. “É um momento de reflexão, de mudança de procedimentos, estamos passando por um processo de depuração”, afirmou. O presidente do Bradesco afirmou que não tem condições de discutir todos os impactos das denúncias, mas admite que esse impacto “não é trivial”.

Sem crise sistêmica

Ele acrescentou que o reflexo dos problemas da estatal  no sistema financeiro “é de controle absoluto” e não vê risco de uma crise sistêmica. “Os bancos estão provisionados, sua estrutura de capital está ajustada aos riscos, com baixa alavancagem, não acredito em um reflexo para o setor”, disse, ao apresentar os resultados do quarto trimestre e do ano passado.

No caso específico do Bradesco, Trabuco destacou que a carteira de crédito do banco é bastante diversificada e que as operações feitas com a estatal e as empresas do setor possuem garantias ou estruturas que garantem o seu pagamento. “O crédito dado para determinada empresa possui estrutura que leva a fluxo de caixa segregado, e tem também estruturas colaterais de garantias”, afirmou, evitando citar diretamente a Petrobras ou outras empresas.

Retorno do banco sobe de 18% para 20,1%

Sobre o resultado do banco, Trabuco destacou o lucro de R$ 15,3 bilhões em 2014, com crescimento de 25,9% em relação a 2013, e o retorno sobre o patrimônio líquido, que subiu de 18% para 20,1%.

Ele citou ainda o índice de eficiência do banco, que mostra a relação entre as despesas operacionais com as receitas, e portanto quanto menor, melhor, caiu para 39,2% este ano, ante 42,1% em 2014. “Consideramos satisfatório esse retorno, ele correspondeu às expectativas e às metas e objetivos do orçamento de 2014”, disse Trabuco, destacando a busca na redução de custos, a diversificação de receitas em outros serviços além do crédito  a procura de aumentar os empréstimos em linhas de menor risco, como crédito consignado e imobiliário. “A inadimplência fechou o ano mais ou menos estável, em 3,5% da carteira de crédito, mas é a menor dos últimos anos, o que evidencia a qualidade da carteira”, disse.

O crescimento da carteira de crédito, de 6,5%, ficou perto do piso das projeções do banco, “mas foi superior ao crescimento do PIB e em sintonia com a conjuntura econômica pelo fato de 2014 não ter sido favorável par ao crescimento”, disse. Segundo Trabuco, o banco tem uma das políticas mais conservadoras em relação à inadimplência, com as provisões cobrindo 189% dos atrasos com mais de 60 dias e 156% dos vencidos há mais de 90 dias.

Moderação deve marcar crédito em 2015

Para 2015, o presidente do Bradesco diz que a moderação deve ser a tônica do mercado de crédito, compatível com a estabilidade do PIB brasileiro, que deve crescer 0,5%, segundo o departamento econômico da instituição. O banco espera um crescimento entre 5% e 9%, com média de 7% para as operações de empréstimos neste ano, puxadas especialmente pelo crédito imobiliário e pelo consignado, segmentos de menor risco. No crédito imobiliário, a estimativa é de um crescimento mais modesto que os 30% dos últimos anos, mas ainda assim na casa dos 20%, diz Luiz Carlos Angelotti, diretor de relações com investidores do banco.

Trabuco afirma ter uma “visão positiva com relação ao crédito”. “Mas, para ser realista, tem de ter relação, com o PIB, e não sendo um PIB com crescimento exuberante, crescer crédito ao redor de 7% é extremamente adequado”, diz. Se o crescimento do crédito se descolar muito do crescimento, afirma o executivo, o país “pode colher dissabores e ajustes que podem ser dolorosos”.

Ajuste fiscal não é programa econômico

O presidente do Bradesco, que foi cotado para o Ministério da Fazenda antes do atual titular, Joaquim Levy, afirma que o ajuste fiscal por que passa o país “não é programa econômico, é momento em que país equaliza suas contas”. “O grande objetivo é buscar fatores sustentáveis de crescimento, estamos vivendo um ano de transição”, afirmou.

Trabuco afirmou que está confiante que a economia brasileira vai superar seus desafios e que a equipe econômica é realista e capaz de colocar o país na rota do crescimento sustentável a partir de 2016. “Estável e duradouro”, frisou. Ele anunciou um programa de investimento adicional de R$ 1 bilhão este ano para modernizar as agências do banco para aumentar sua capacidade de atendimento.

O banco espera que a inadimplência siga também estável, em torno de 3,5% da carteira, afirma Angelotti, apesar do crescimento do desemprego. “Estimamos um aumento da ordem de 1% no desemprego”, afirmou. Outro fator que deve limitar a inadimplência é o segmento de grandes empresas, que está com um percentual de 0,8%, quanto a média história é em torno de 0,4% da carteira. Ele espera que esse percentual diminua nos próximos trimestres.

Procura por crédito ainda baixa

Angelotti disse que o banco não pretende ser mais restritivo na concessão do crédito em linhas de maior risco, e que o volume não deve crescer tanto por conta da própria demanda. Ele dá o exemplo da linha de pequenas e médias empresas que o banco oferece, e que tem R$ 28 bilhões pré-aprovados. Desse total, apenas 30% foram usados pelas empresas. Ele diz que o banco pretende trabalhar para manter o retorno de 20% sobre o patrimônio líquido, como este ano, também em 2015, que é um número que o banco considera um bom.

Lucro dos seguros crescem 18%

A área de seguros continuou sendo destaque nos resultados do Bradesco, com lucro líquido de R$ 4,4 bilhões no ano passado, 18% maio que em 2013. Os prêmios recebidos cresceram 13%, para R$ 56 bilhões. Os seguros responderam por 29% do lucro do banco no ano passado, um pouco abaixo dos 31% de 2013, mas ainda acima da fatia de outras áreas. Os serviços, especialmente com cartões de crédito, responderam por 28% do lucro, seguidos pelo crédito, com 27%.

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