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BB reduz projeções de crédito e presidente promete rentabilidade igual à concorrência

O Banco do Brasil (BB) vai retomar um nível de rentabilidade compatível com a dos seus concorrentes privados e cumprir as exigências de patrimônio mínimo da Basileia até 2019, garantiu hoje o novo presidente da instituição, Paulo Caffarelli ao comentar os resultados do segundo semestre do banco. Ao mesmo tempo, o BB reviu para baixo sua projeção de crescimento do crédito para este ano e espera uma queda mais forte nos empréstimos para grandes empresas. Mesmo assim, o executivo já espera uma melhora para o crédito no segundo semestre, acompanhando a economia brasileira.

As declarações de Caffarelli buscam passar a mensagem que a nova gestão vai imprimir ao banco estatal um perfil mais alinhado com o mercado, de compromisso de retorno para os investidores. No governo da presidente afastada Dilma Rousseff, os bancos oficiais eram vistos como instrumentos de políticas públicas e sociais, colocando a rentabilidade em segundo plano. O novo presidente diz que vai manter essas funções, mas vai perseguir o lucro.

Compromisso com retorno ao acionista

Caffarelli é funcionário de carreira do BB e ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda. Ele assumiu o posto em maio, depois da troca de comando da equipe econômica no governo interino de Michel Temer. Segundo ele, o BB “reúne todas as condições para obter retornos iguais aos de seus concorrentes” e que está “100% comprometido com o retorno para o acionista”. E que o aumento da rentabilidade deve começar já no ano que vem. “O resultado de 2017 já deve vir num nível bastante elevado em relação ao atual.”

O desafio de Caffarelli, porém, é bem significativo, já que o maior banco do país fechou o segundo trimestre com um retorno de 10,7% ao ano sobre o patrimônio líquido. Seus concorrentes privados, Itaú Unibanco e Bradesco, tiveram retornos de 20,6% e de 17,4%, respectivamente. Ou seja, o BB terá de praticamente dobrar sua rentabilidade para se igualar a eles.

Margem bruta maior

O novo presidente do BB diz que isso será possível com a melhora das margens financeiras, com o aumento das receitas de serviços, com cortes de despesas e uma gestão rígida nas perdas com inadimplência e do capital do banco.  E dá o exemplo do segundo trimestre deste ano, quando a margem financeira bruta (diferença entre o que o banco ganha com os empréstimos e o custo de captação do dinheiro) subiu 17,5% sobre o mesmo período de 2015, apesar do crescimento menor da carteira de crédito e da maior inadimplência.

Ganho maior com juros

A explicação para a margem maior está no aumento dos spreads (diferença entre a taxa de aplicação paga ao investidor e a dos empréstimos), de 7,0% no segundo trimestre de 2015, para 7,7% neste ano. Houve também um aumento das recuperações de crédito no trimestre, para R$ 1,384 bilhão, ante R$ 911 milhões no mesmo trimestre do ano passado.

Revisão da margem financeira para cima

Por conta dessa melhora, o banco reviu para cima sua estimativa de crescimento para a margem financeira bruta deste ano, de 7% a 11% antes para 11,5% a 15%, depois de fechar o primeiro semestre com alta de 15,6%.

Tarifas ajudam no resultado

Caffarelli cita ainda as receitas de tarifas, que aumentaram 12,8%, sendo que as de conta corrente cresceram 22,6% e as de administração de fundos, 10,7%. Ele prevê que as tarifas ocupem um espaço cada vez maior no mix de ganhos do banco. Hoje, elas representam 30% dos ganhos, para 60% do crédito e 10% de captações e tesouraria. A meta do banco é aumentar os serviços usados pelos clientes. “Obtivemos esse aumento neste ano sem reajustar tarifas, mas pelo crescimento da oferta de pacotes de serviços de conta corrente e pela ampliação de clientes do segmento de alta renda”, diz.

Carteira de crédito caiu 1,2% e previsão para o ano piora

Já a carteira de crédito ampliada do banco não ajudou muito, com uma retração de 1,2% em 12 meses, para R$ 751,2 bilhões. O BB reviu sua estimativa para o crescimento do crédito neste ano, de 3% a 6% para -2% a +1%, em grande parte pela retração da oferta para empresas, especialmente as de grande porte. Para pessoa jurídica, a projeção da carteira de crédito passou de crescimento de 1% a 4% para queda de 6% a 10% neste ano. Já para pessoas físicas, a projeção foi mantida, de um crescimento entre 5% e 8%.

Projetos de R$ 50 bilhões na lista de espera

Mesmo assim, Caffarelli vê uma melhora no crédito no segundo semestre, acompanhando a estabilização da economia brasileira e a retomada da confiança de consumidores e empresários, e que deve se acentuar no início do ano que vem. “Tanto que temos já R$ 50 bilhões no ‘pipeline’ em projetos para financiamento de empresas, incluindo empréstimos sindicalizados em parcerias com outros bancos”.

Ele admite, porém, que esses projetos podem não sair tão cedo. “São projetos longos, e o mais provável é que pouca coisa seja desembolsada ainda este ano, e há parte dos recursos que virá do mercado de capitais, mas o valor já mostra que há uma disposição das empresas”, diz.

Os executivos do BB lembram ainda o crescimento de 27,4% da carteira de pessoa física e do agronegócio neste ano, compensando a queda nas operações com grandes empresas. “As empresas vêm sofrendo mais o impacto da crise, especialmente as menores, de até R$ 200 milhões de faturamento anual, que representam 80% dos atrasos”, diz Walter Malieni Junior, vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos do BB.

Corte de despesas

Na parte de despesas, Caffarelli destaca o crescimento de 2,7% no segundo semestre sobre o mesmo período do ano passado, bem abaixo da inflação em 12 meses, de mais de 8% pelo IPCA.  “O corte de despesas tem de ser uma atitude permanente, seja com maior turnover (rotatividade) dos funcionários, renegociações de contratos com fornecedores, realocação de equipes ou tecnologias que aumentam a produtividade”, afirma. “A empresa tem a obrigação de se readequar para ajustar seus níveis de rentabilidade.”

Inadimplência maior e uso de reservas de emergência

Com relação à inadimplência, os executivos do banco destacam que, apesar do aumento, de 1,89% em junho de 2015 para 3,27% em março deste ano, o percentual ainda está abaixo da média do mercado, de 3,5%. O número seria menor neste trimestre, 2,85%, mas o banco optou por incluir nos atrasos uma operação de uma grande empresa do setor de óleo e gás, afirma José Mauricio Pereira Coelho, vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores. “O débito ainda não completou 90 dias de atraso, mas já fizemos as provisões e devemos baixar o valor como prejuízo até o fim do ano”, afirmou, sem citar o nome da empresa e que, segundo o mercado, é a Sete Brasil, fornecedora de sondas e plataformas para a Petrobras que entrou em recuperação judicial.

Para compensar esse atraso, o BB lançou mão do valor de provisão adicional que havia separado. Com isso, não houve aumento nas despesas de provisões que até caíram, de R$ 9,1 bilhões no primeiro trimestre para R$ 8,3 bilhões no segundo, uma diferença de R$ 868 milhões. Mas, com isso, o índice de cobertura, que mostra quanto o banco tem guardado para compensar as perdas com atrasos, recuou de 193,8% dos atrasos em março para 163,9% em junho. Em junho de 2015, esse percentual era ainda maior, 211,8%. Sem a provisão para a empresa de petróleo, a cobertura seria de 187,7%. “O efeito é zero no total de provisões, só migramos o valor de provisão adicional para normal”, explica Coelho.

Expectativa de queda nos atrasos

A expectativa do presidente do BB é que a inadimplência também se estabilize este ano e passe a cair no ano que vem. “Temos um monitoramento diário do crédito e já temos os primeiros sinais de que a inadimplência caminha para uma estabilidade, acompanhando o cenário econômico, como mostram também os preços dos ativos, como a bolsa de valores, o dólar e os CDS (papéis brasileiros negociados no exterior)”, afirma. “Há uma melhora na confiança que impacta a construção civil e os estoques do comércio e da indústria, além das exportações”, acrescenta.

Basileia melhorando

Caffarelli diz também que o banco está aumentando seu índice de capital principal, que fechou junho em 8,42% sobre os ativos ponderados pelo risco pelo Acordo da Basileia. Esse percentual, que era de 8,07% em setembro do ano passado, vem crescendo gradualmente há vários trimestres, e vai chegar a 9,5% no início de 2019, diz o executivo. “Estou confiante que chegaremos a 9,5% no início de 2019, e vamos fazer isso sem contar com um aumento de capital do governo federal via Tesouro Nacional”, fez questão de frisar.

Patagônia, venda ainda em discussão

Ele acrescentou que o crescimento do capital do banco não inclui, por enquanto, a venda de participações em outras empresas. Caffarelli confirmou que há uma discussão com os sócios do argentino Banco da Patagonia para uma eventual venda de participação, mas diz que ainda não há nada definido. “Há uma intenção de avaliar a possibilidade de fazer algo, que discutimos com outros acionistas do Patagônia, mas não há na prancheta nenhuma venda de ativos no momento”, afirma, negando assim também a venda de participação no Banco Votorantim. Segundo ele, o Votorantim está sendo “readequado” para melhorar seu resultado. “Mas ele tem segmentos diferenciados, como gestão de recursos, de fortunas”, acrescenta.

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