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Reportagem diz que Jucá sugeriu pacto para deter Lava Jato

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo afirma que o senador Romero Jucá teria sugerido a um aliado um pacto para deter o avanço da Operação Lava Jato, que investiga desvios de recursos da Petrobras para partidos e políticos. O jornal teve acesso a gravações com diálogos do atual ministro do Planejamento com o ex-dirigente da Transpetro Sérgio Machado, ligado ao PMDB. Em um deles, Jucá afirma que “tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”, segundo o jornal.

As declarações devem criar problemas para o presidente interino Michel Temer, que tem em Jucá um de seus principais articuladores políticos e econômicos. Hoje, Temer, Jucá e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, devem levar a proposta de revisão do orçamento para este ano ao Congresso. Para a MCM Consultores, a conversa não chega a ser mortal para Jucá, mas representa um risco para o novo governo, pelo envolvimento do ministro na Lava Jato. Além disso, a gravação revela uma disputa entre alas do PMDB e que parte do partido estaria interessado em desequilibrar o governo Temer. Para a MCM, Jucá deve ficar por enquanto, mas as chances de ele sair no futuro cresceram.

Machado é mais direto

Em todo o diálogo reproduzido pelo jornal, Machado é mais direto, citando abertamente o receio com as investigações da Lava Jato, e que envolvem a ele a Jucá. Já o senador é mais comedido e mistura a discussão sobre a crise política envolvendo a presidente Dilma Rousseff e seu impacto na economia com os efeitos da Lava Jato sobre a classe política em geral. Por isso, surgem dúvidas sobre a que assuntos Jucá se refere em suas falas, se à situação política e econômica ou à Lava Jato. As gravações foram feitas poucas semanas antes da votação na Câmara que aprovou a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma, segundo a Folha.

Estancar a sangria

Nas declarações reproduzidas pelo jornal, Machado afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “está a fim de pegar vocês”, referindo-se a Jucá e outros políticos, acrescentando que o procurador “acha que eu sou o caminho, que eu sou o caixa de vocês”. A resposta de Jucá é truncada. “Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, com é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, termina, sem deixar claro a que sangria se referia, à econômica ou da Lava Jato.

Em seguida, Machado sugere que a solução mais fácil era “botar” Michel Temer e Jucá responde que só o presidente do Senado, Renan Calheiros, estaria contra “porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha, gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra”. Machado então diz que “é um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional” e Jucá acrescenta “com o Supremo (Tribunal Federal), com tudo”. Machado afirma então que “aí parava tudo” e Jucá completa “é, delimitava onde está, pronto”. Novamente, as frases tanto podem se referir à crise política quanto à Lava Jato.

Boi de piranha

Em outro trecho, Machado afirma que Renan seria o próximo a ser cassado pelos desdobramentos da Lava Jato e por isso ele deveria defender a sobrevida de Eduardo Cunha. Jucá então afirma que “tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem”, que pode dar ideia de que o objetivo seria tentar resolver a situação dos envolvidos na Lava Jato em um novo governo.

Conversas no Supremo

Jucá afirma ainda que conversou com ministros do Supremo, novamente sem deixar claro a que assunto se refere. “Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’, entendeu?”.

Jucá é alvo de um inquérito no Supremo por suposto recebimento de propina da empreiteira UTC, cujo dono, Ricardo Pessoa, afirmou ter sido procurado pelo político para ajudar na campanha do filho, candidato a vice-governador de Roraima. Pessoa afirmou ter doado R$ 1,5 milhão, que teria sido uma contrapartida pelo contrato da empreiteira com Angra 3. Jucá nega as acusações e, sobre as gravações, afirma que jamais pensaria em interferir na Lava Jato, apesar de discordar de alguns procedimentos da investigação. Ele afirmou também que falou com Machado sobre assuntos “de uma forma geral”, e não só sobre a Lava Jato.

Aécio, o primeiro a ser comido

Machado afirma ainda que as investigações vão pegar todos os partidos, “não deixarão pedra sobre pedra” e Jucá teria dito que o caso de Machado “Não pode ficar na mão de Moro” e que estaria “todo mundo na bandeja para ser comido”. Machado afirmou ainda que o PSDB e o senador Aécio Neves seria “o primeiro a ser comido” na Lava Jato. “O Aécio não tem condição, a gente sabe disso, porra, quem é que não sabe”, afirma Machado, acrescentando que “quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB”. Jucá teria afirma “é, a gente viveu tudo”, sem detalhes. Machado insiste, afirmando “o que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele [Aécio} ser presidente da Câmara?”, referindo-se ao mandato de Aécio na Câmara entre 2001 e 2002. Jucá fica em silêncio. Segundo a Folha, a assessoria de Aécio disse que “desconhece e estranha os termos dessa conversa”.

 

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