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Para Brasilio Sallum Jr., não há golpe em curso, mas crise entre Estado e mercado

Não há golpe contra o governo, mas um processo semelhante ao que ocorreu na deposição de Fernando Collor de Mello, por motivos diferentes. A avaliação é do professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Brasilio Sallum Jr. Na visão de Sallum, que também é autor de obra que analisa o impeachment sofrido por Fernando Collor, a principal questão do atual embate político está relacionada ao entendimento de como gerir o Estado e essa é a grande diferença com o impeachment de 1992.

“Não existe golpe, isso é bobagem. No caso do Collor, havia uma acusação mais clara de corrupção, mas agora a coisa é mais sofisticada, pois ela (Dilma) não obedeceu parâmetros legais de como o Estado deve se comportar em relação aos seus recursos, que é a pedalada fiscal”, detalha.

“Estamos num processo de fortalecimento institucional da nossa democracia e de uma crise da relação do Estado e com o mercado”, avalia Sallum Jr., sobre o atual período de discussão do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Influência liberal e Estado responsável

“Estamos num processo de fortalecimento institucional da nossa democracia e de uma crise da relação do Estado e com o mercado”, avalia Sallum Jr., sobre o atual período de discussão do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Segundo ele, atualmente há uma grande influência liberal, de uma parte da sociedade mais ligada às diretrizes do capitalismo, de como o Estado deve organizar suas despesas, de maneira a dar mais espaço à atividade privada, e ajustar seus gastos, onde entram discussões como a reforma da previdência.

“Antes, com o Collor, a gestão do Estado não estava posta, hoje é isso que está em jogo, e de maneira legítima”, diz. As manifestações apontam que boa parte da sociedade também vê as coisas dessa forma, de acordo com ele. “Ela (Dilma) produziu essa crise enorme com sua gestão, foi toda produzida por ela”, completa.

Voluntarismo estatal

Na análise do professor, Dilma “exacerbou o voluntarismo estatal” no primeiro mandato e teve dificuldade de sair disso. “Quando resolveu sair, não avisou os adversários e nem os aliados, então causou um enorme desequilíbrio da situação, pois ela venceu com uma plataforma política, que era danosa, e resolveu mudar sua estratégia no meio do caminho. Todas as cartas ficaram embaralhadas”, finaliza.

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