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Análise: como ficam juros, dólar e bolsa com Marina Silva na Presidência

Após as recentes mudanças no cenário para a eleição presidencial, tendo como principal fator as pesquisas apontando vitória da ambientalista Marina Silva, do PSB, a corretora Alpes traçou um panorama sobre um eventual governo da candidata e os principais impactos sobre o mercado financeiro.

Hoje, a pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com a MDA confirmou a liderança de Marina na corrida à Presidência da República. De acordo com a pesquisa, além de Marina estar em segundo lugar, com 28,2% das intenções de voto no primeiro turno, no caso de um segundo turno, ela venceria um embate com Dilma Rousseff, obtendo 43,7% das intenções de voto, ante 37,8% da adversária. Os resultados são semelhantes aos da pesquisa do Ibope divulgada ontem.

Na visão da Alpes, em um eventual segundo turno, os votos que se destinariam a Aécio Neves, do PSDB, migrariam para Marina. “A única ressalva é que as últimas pesquisas foram realizadas pouco tempo após a morte de Eduardo Campos, que gerou grande comoção pública, o que pode distorcer em parte a análise”, diz o relatório da corretora assinado pelo analista Bruno Gonçalves. Além disso, a baixa taxa de rejeição da candidata também chama a atenção.

Os possíveis nomes da equipe econômica de Marina são Eduardo Gianetti, doutor em economia e professor do Insper, André Lara Rezende, ex-diretor do BC e ex-presidente do BNDES, e Alexandre Rands, doutor em economia e presidente da consultoria Datamétrica. De acordo com a corretora, “todos com pensamento ortodoxo, trazendo um viés mais liberal, em detrimento do viés desenvolvimentista do atual governo”.

A Alpes acredita que, mantido esse viés, o mercado financeiro tende a ganhar espaço na economia como instrumento para captação para os projetos de infraestrutura necessários ao desenvolvimento do país e financiamento das empresas.

Principais propostas

Entre as principais propostas da candidata está a independência do Banco Central, a criação de um conselho de responsabilidade fiscal, o enquadramento de instituições públicas nas práticas de melhor governança corporativa, a retirada de subsídios setoriais, promoção de reformas horizontais e o foco no desenvolvimento sustentável, uma das principais características de Marina.

Uma maior independência do Banco Central permitiria a flutuação do câmbio e o combate mais rigoroso à inflação, o que, de acordo com a Alpes, mostra uma maior preocupação com o tripé econômico, que seria completado pelo maior cuidado com as contas públicas. “O conselho de responsabilidade fiscal seria uma ótima notícia com a deterioração das contas públicas, o que contribuirá também para o cenário inflacionário”, informa o relatório.

Em meio às especulações sobre a redução da meta de inflação, a corretora acredita que, com o forte represamento de preços administrados, a medida não seria aplicada imediatamente, mas depois de feitos os ajustes.

Cenário político

A corretora explica que, quando lançada a criação da Rede Sustentabilidade, o partido se colocava como “nem de esquerda e nem de direita” e trabalhava com nomes como Alfredo Syrkis, do PV do Rio de Janeiro, Domingos Dutra, do PT do Maranhão e Walter Feldman, do PSDB de São Paulo. O discurso traz uma visão de conciliação e de aproveitar nomes de ambas as principais forças políticas do país, PT e PSDB.

“Acreditamos em alguma dificuldade inicial entre Executivo e Legislativo, visto que a coligação não deve ter grande representatividade na Câmara e no Congresso.”

Relação com o mercado

Como ministra do Meio Ambiente, Marina teve uma atuação forte, o que causa algum receio no mercado, principalmente em relação à emissão de licenças ambientais. Apesar disso, de acordo com o analista da corretora, a equipe econômica formada por ela agrada ao mercado, assim como a aproximação do empresariado com nomes que incluem Guilherme Leal, da Natura, e Maria Alice Setúbal, do Itaú, e até algum aconselhamento do ex-presidente do Banco Central no governo FHC, Pérsio Arida, do BTG, um dos mais respeitados economistas do país, o que reduz as preocupações em torno de seu mandato.

Sobre um possível rebaixamento do rating, a corretora lembra que, historicamente, a mudança de governo traz algum ganho de tempo para os novos administradores. “Porém, os fundamentos estão deteriorados e, assim, a velocidade de aplicação das reformas necessárias será fator chave para evitar o rebaixamento”, afirma o relatório. A relação entre Executivo e Legislativo, que como já citado, seria complicada, pode prejudicar essa questão e limitar a velocidade das reformas.

Setores que podem se beneficiar

Com Marina no poder, os setores de combustíveis alternativos, em especial o etanol, e o de energias renováveis, principalmente a eólica, devem ser beneficiados. A Alpes acredita que os bancos e a BM&FBovespa também se beneficiariam com uma maior liberalização da economia, além de as estatais, com melhora da governança corporativa.

Setores que podem ser prejudicados

Em se tratando dos setores da economia que seriam prejudicados com Marina presidente estão a mineração, com uma maior restrição à emissão de licenças, os frigoríficos, com possível taxação para se reduzir o consumo de carne, e o de energias não renováveis, uma vez que o partido preza pelo consumo sustentável.

Para a sua campanha, a candidata rejeitou recursos em forma de doação de alguns setores, tais como da indústria do tabaco, bélica, bebidas alcóolicas e agrotóxicos, o que já dá uma ideia de sua relação com eles.

Câmbio: fluxo estrangeiro pode ajudar

É esperado um dólar ainda em alta em função do aperto monetário nos Estados Unidos e uma menor atuação do Banco Central. Apesar disso, a Alpes acredita que a mudança do panorama político pode trazer maior entrada de fluxos estrangeiros e contrabalancear este movimento no curto prazo.  “Com isso, acreditamos em um viés de alta para o dólar no longo prazo, em linha com os fundamentos e, no curto prazo, uma indefinição”, informa o relatório da corretora.

Juros tendem a cair no longo prazo

A análise da Alpes mostra que as taxas de juros de longo prazo tendem a cair, devido ao cenário fiscal e à maior preocupação com o cenário inflacionário.

No curto prazo, a corretora acredita que o futuro dos juros dependerá do câmbio e da transmissão das condições monetárias para o cenário inflacionário, com algum aumento adicional podendo ocorrer. “Não acreditamos em movimento de baixa em função da retenção dos preços administrados pressionando a inflação em 2015”, conclui o relatório.

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