Arenas das Empresas, Negócios

Itaú garante BMG e pode ter opção de compra do banco

Ao firmar uma associação com o BMG, o Itaú conseguiu, ao mesmo tempo, aumentar sua carteira de crédito com um ativo de menor inadimplência, manter sua fatia de mercado, que está caindo com o aumento dos calotes, e ainda passar a perna no principal concorrente, o Bradesco, barrando seu crescimento. O Bradesco era cotado para comprar o BMG até segunda-feira, disputando junto com o BTG Pactual o banco mineiro. Aos 45 minutos do segundo tempo, o Itaú teria conseguido virar o jogo em cima do concorrente, como já havia feito antes, com a parceira com a Porto Seguro.

E não é só isso. Junto com a parceria, que dará origem a um novo banco, o Itaú terá direto de preferência caso os sócios resolvam vender o BMG, explicou hoje o presidente do banco, Ricardo Guimarães. “O Itaú terá direto de preferência de compra de nossa participação na nova instituição e também no banco (BMG) caso haja interesse em vender, estamos acertando isso”, disse Guimarães ao fim da entrevista coletiva para explicar a operação.

Paixão antiga

Ele lembrou que o Itaú já teve uma parceria com o BMG no passado. Em dezembro de 2004, o Itaú firmou um acordo para oferecer uma linha de crédito de até R$ 1,5 bilhão para o banco mineiro. O acordo também dava direito de preferência para o Itaú comprar participação no BMG, disse Guimarães. Na época, o banco BMG enfrentava dificuldades de captação por conta de denúncias envolvendo a instituição no escândalo do Mensalão, juntamente com o Banco Rural.

Roberto Setubal, presidente do Itaú, admitiu que o acordo atual pode evoluir para outras formas de associação. “Se tudo correr bem podemos ampliar essa parceria”, disse Setubal, deixando claro que tudo está ainda na fase inicial.

Proposta sedutora

Pelo acordo atual, o  Itaú e o BMG estão criando um banco em sociedade (joint venture), o Banco Itaú BMG Crédito Consignado, com participações de 70% e 30% respectivamente. Com essa estrutura, o Itaú conseguiu seduzir os controladores do BMG, a família Pentagna Guimarães, que não queriam vender participação, mas precisavam de recursos para continuar no mercado. Ricardo Guimarães, filho do fundador do banco, admitiu que houve outras propostas de outros bancos e que a venda do controle “era uma das alternativas”. Ele não quis, porém, entrar em detalhes sobre as negociações com outros bancos.

Já Setubal se limitou a dizer que a negociação durou “quatro ou cinco dias” e foi facilitada pelo fato de não haver compra de participação no BMG, o que dispensou auditorias e acelerou o processo. Setubal mostrou-se bastante animado com a perspectiva de aumentar sua atuação no crédito consignado, área em que o Itaú não vinha tendo tanto sucesso, como ele mesmo admite.

Dose de baixo risco para o Itaú

O Itaú tem cerca de R$ 10 bilhões em crédito consignado, para R$ 25 bilhões do BMG – quase o total da carteira de ativos do banco mineiro, de R$ 28 bilhões. “O acordo vai na direção que queremos, de reduzir o risco com mais operações de crédito de baixo risco e baixos spreads”, afirmou Setubal. Como o consignado é descontado em folha, o índice de inadimplência é um dos mais baixos do mercado, o que permite aos bancos cobrar menos. O BMG é líder no segmento de consignados para o INSS. “Com isso, vamos ampliar a oferta de crédito no país com custos mais baixos, como quer o governo”, acrescentou, respondendo assim às cobranças constantes do governo para o setor. “O setor de crédito consignado continua crescendo e pode, nos próximos anos, até igualar ou superar o volume de crédito para automóveis”, afirmou o presidente do Itaú.

Bloco na rua em 90 dias

O novo banco começará com um aporte de capital de R$ 1 bilhão, R$ 700 milhões do Itaú e R$ 300 milhões do BMG – cujos sócios farão um aporte especialmente para a operação. Com isso, Setubal espera ter o novo banco Itaú BMG estruturado em 90 dias e começando a operação no último trimestre do ano. O projeto do banqueiro é ter uma carteira de R$ 12 bilhões em dois anos, e cerca de 3 milhões de clientes.

O novo banco vai usar a estrutura atual do BMG, passando a pagar 70% do custo da equipe comercial do banco mineiro. “Com isso, 70% do custo do BMG passará a ser pago pelo novo banco”, explica Guimarães. Do que for feito de novos créditos consignados, o novo banco ficará com 70% e o BMG, 30%. “O critério de seleção dos créditos vai ser definido entre as partes”, disse Setubal.

Cheque especial de R$ 300 milhões para o BMG

Além disso, o Itaú vai fornecer uma linha de crédito para o BMG de até R$ 300 milhões mensais, que o banco mineiro usará para financiar suas operações de crédito. “Isso é importante pois nos garante uma fonte fixa de recursos para financiar nossas operações de crédito”, explica Guimarães. “Queremos crescer também em outras áreas, de financiamento de veículos e cartão de crédito, por exemplo”, disse Guimarães.

O BMG tem cerca de 5 milhões de clientes e uma das maiores carteiras de crédito consignado do mercado.

Operação pode garantir a liderança

Para o Itaú, a operação é bastante atrativa e garante a liderança no mercado de crédito entre os bancos privados, afirma um analista do mercado, que pediu para não ter seu nome citado. Hoje o Itaú tem cerca de R$ 60 bilhões em crédito para veículos, o que corresponderia a 35% do mercado. Mas a estimativa do banco é que a inadimplência da carteira total de crédito chegue a R$ 18 bilhões este ano, e uma parcela significativa dessa perda estaria concentrada no crédito para veículos. “A participação do banco nos veículos ia cair para uns 30% do mercado, e o Bradesco, que tem inadimplência menor, ia ganhar mercado”, diz o analista. Se levasse o BMG, o Bradesco ameaçaria até a liderança do Itaú no crédito em geral, conquistada após a compra do Unibanco. “O Bradesco reduziu o ritmo dos empréstimos bem antes, um ano antes do Itaú, e conseguiu com isso manter uma qualidade melhor e uma inadimplência menor”, diz.

Artigo AnteriorPróximo Artigo