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Banco Votorantim vê risco de “espiral inflacionária” após alta do IPCA; alta de preços é “generalizada”

A alta de 1,27% do IPCA em janeiro, acima do 1,10% esperado pelo mercado e contrariando a expectativa de que a inflação em 12 meses começaria a cair este ano, mostrou que, mesmo com uma longa e profunda recessão, a inflação corrente não apenas continua em patamares elevados como está em aceleração. Essa é a avaliação do Departamento de Economia do Banco Votorantim, em relatório enviado aos clientes, e que alerta que a indexação e a perda de “ancoragem” das expectativas, ou seja, da confiança no trabalho do Banco Central e do governo na parte fiscal, aumentam a resistência dos preços, elevando os custos e o ritmo de convergência da inflação para a meta.

Para o banco, o BC deveria dar mais atenção à indexação da economia e à perda de confiança do mercado no controle da inflação embutida nas projeções de IPCA mais alto. Hoje, o relatório Focus mostrou um novo aumento das projeções para o IPCA deste ano, de 7,26% da semana anterior para 7,56% na semana passada, e também para 2017, de 5,80% para 6%. O teto da meta, de 6,5% neste ano, portanto, deve ser novamente superado pelo segundo ano consecutivo. E o do ano que vem, que vai cair para 6%, também está perto de ser superado, ainda mais se houver uma esperada retomada da economia.

Alta de preços generalizada

No relatório, assinado pelo economista Roberto Padovani, o banco avalia que a alta de preços é disseminada e vem mantendo o mesmo nível observado no começo de 2015. Além das pressões sazonais, naturais do período, transportes públicos, gasolina e preços agrícolas puxaram a alta adicional do IPCA. Mas, mais preocupante que a sazonalidade e pressões pontuais, o banco nota que a inflação se mostra “generalizada”. Não apenas os preços administrados mantêm tendência de alta, mas também os livres, indexados ao dólar ou não, não cedem e continuam em níveis elevados.

Segundo o Votorantim, todas as medidas de núcleo da inflação, que procuram retirar do cálculo as oscilações excessivas, mostram preços aumentando a um ritmo mais forte e disseminado.

Nem recessão segura

O comportamento da inflação é ainda mais preocupante, destaca o banco, quando se leva em conta a aguda desaceleração da atividade econômica. Embora o IPCA costume acompanhar os ciclos econômicos, a atual retração do consumo não tem sido suficiente para reduzir a inflação ou atenuar o repasse de custos, como tarifas públicas, mão de obra e câmbio. As projeções do mercado são de uma queda do PIB de 3,21%.

Para o banco, o cenário externo e o receio de menor crescimento global poderiam contribuir para a desaceleração da inflação brasileira. Mas a queda acentuada nos preços do petróleo e das commodities observada nos últimos meses não tem produzido efeitos relevantes sobre a inflação. No caso do petróleo, a necessidade de recompor o caixa da Petrobras impede que a estatal repasse para o consumidor a queda nos preços para a gasolina.

Incentivo ao repasse de custos

O relatório conclui que, sem os choques de câmbio e preços administrados do ano passado, como energia e combustíveis, o IPCA deste ano será menor. Ainda assim, o banco destaca a resistência da inflação observada até agora, que mostra que a indexação e a perda de referências tornam a convergência do IPCA para a meta de 4,5% mais lenta.

Para o Votorantim, a aceleração inflacionária dos últimos oito anos, associada à pouca capacidade política de controlar as contas públicas e manter apertada a política econômica, faz com que o governo não consiga coordenar as expectativas, incentivando o repasse de custos e a recuperação de margens. O resultado é o aumento da resistência dos preços, desancoragem das expectativas e custos crescente de controle da inflação, “elevando o risco de uma espiral inflacionária”.

 

 

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