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Juro para pessoas físicas é o maior desde 2011; cheque especial é o mais caro desde 1996

Os juros para pessoas físicas pesaram mais no bolso dos brasileiros em fevereiro. De acordo com dados divulgados hoje pelo Banco Central (BC), a taxa média de juros com recursos livres – os que podem ser aplicados livremente pelos bancos – ficou em 54,3% ao ano, ou 3,7% ao mês no último mês. O percentual é o maior desde março de 2011, início da série histórica. A alta dos juros e o desaquecimento da economia, que devem levar a uma redução na procura por empréstimos, fez o BC rever para baixo a expectativa para o crescimento do crédito este ano, de 12% para 11%.  Em fevereiro, o total de crédito do sistema financeiro cresceu 0,5% sobre janeiro e 11% sobre o mesmo mês do ano passado, atingindo R$ 3,02 bilhões.

Cheque especial campeão

A taxa de juros para pessoas físicas de fevereiro superou a de janeiro, que até então era recorde. Ela aumentou 2,3 pontos percentuais na comparação com o primeiro mês do ano e 6,4 pontos percentuais em 12 meses. Boa parte do aumento dos juros ocorreu devido ao cheque especial, cuja taxa média anual chegou a 214,2% ao ano, ou 10% ao mês, em fevereiro. O percentual é o maior desde março de 1996, quando a taxa havia ficado em 217,71% ao ano, ou 10,11% ao mês, ou seja, uma diferença muito pequena em termos mensais.

Cartão, 13,2% ao mês no rotativo

Os juros do cartão de crédito também contribuíram para o resultado. As taxas ficaram em 78,7% ao ano no mês passado, os maiores desde abril de 2011. Eles cresceram 7,8 pontos percentuais em relação a janeiro e 7 pontos percentuais em 12 meses. O cálculo dos juros do cartão leva em conta as taxas para o crédito rotativo e o crédito parcelado. As primeiras ficaram em 342,2% ao ano, ou 13,2% ao mês, o maior percentual desde o início da série histórica em março de 2011. As taxas do cartão parcelado foram 112,6% ao ano, ou 6,5% ao mês, o maior percentual desde outubro de 2012.

Inadimplência estável

A inadimplência com recursos livres para pessoas físicas e jurídicas ficou em 4,4% em fevereiro, estável tanto em relação a janeiro quanto na comparação com o mesmo mês do ano passado.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, explica que o crescimento nas taxas de juros para pessoas físicas “reflete o próprio aumento da taxa Selic [taxa básica de juros da economia, que está em 12,75% ao ano]”. Maciel ponderou, no entanto, que a série histórica que serve como base de comparação é nova, pois desde o mês passado o BC mudou a metodologia de cálculo. “Temos essa série mais curta. Obviamente, já tivemos episódios com taxas [de juros] maiores do que essa. Na séria antiga, em 2005, [a taxa] chegou a mais de 60%”, comentou. Uma das principais mudanças na metodologia para cálculo dos dados sobre crédito e juros foi a incorporação das taxas do cartão de crédito, que antes não eram consideradas.

BC reduz previsão de crescimento do crédito

Maciel informou também que o BC reduziu de 12% para 11% a projeção de crescimento do estoque das operações de crédito para 2015. Em fevereiro, as operações de crédito somaram R$ 3,026 trilhões, crescendo 0,5% em relação a janeiro e 11% no período de 12 meses.

Segundo Tulio Maciel, os motivos para a redução são as percepções quanto à atividade econômica e à demanda por crédito. Há algum tempo, o BC vem destacando que a expansão do crédito tende à moderação no país. O crédito encerrou o ano passado com crescimento de 11,3%. A autoridade monetária previa alta de 12%.

Retração no crédito livre e nos bancos privados

A previsão para expansão do crédito livre, modalidade em que os bancos podem emprestar livremente os recursos, também foi reduzida, de 7% para 6%. Já as projeções para evolução do crédito direcionado, modalidade em que os empréstimos seguem regras estabelecidas pelo governo, foi mantida em 16%. Em 2014, o crescimento dessa modalidade foi 19,6%. “Há uma desaceleração, que já está sendo observada”, destacou Tulio Maciel.

Ele também divulgou previsões para o estoque das carteiras de crédito dos bancos públicos e privados. Para os primeiros, está mantida estimativa de expansão de 14%, contra crescimento de 16,7% no fim de 2014. Para os bancos privados nacionais, a projeção de alta caiu de 9% para 7%. No caso dos bancos privados estrangeiros, foi mantida em 7%.

Crédito cresceu 11% em 12 meses

As operações de crédito do sistema financeiro somaram R$ 3,026 trilhões em fevereiro, com alta de 0,5%, na comparação com janeiro, e de 11% em 12 meses. Do total das operações de crédito, R$ 1,598 trilhão refere-se a pessoas jurídicas e R$ 1,427 trilhão a pessoas físicas.

O saldo de operações envolvendo pessoas jurídicas cresceu 0,6% em relação a janeiro e 9,6% em 12 meses. No caso de pessoas físicas, houve alta mensal de 0,3% e anual de 12,7%.

Crédito direcionado cresce 18,1%

O crédito com recursos livres, em que os bancos têm autonomia para aplicar o dinheiro captado, somou R$ 1,568 trilhão. O resultado representa alta de 0,1% em comparação a janeiro e de 5,2% em 12 meses. O crédito com recursos direcionados, em que os empréstimos devem seguir regras definidas pelo governo, alcançou saldo de R$ 1,459 trilhão, registrando alta de 0,8% no mês e de 18,1% em 12 meses.

As informações são da Agência Brasil.

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