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IPCA e IGP-DI sobem mais que o esperado e elevam projeções de inflação para o ano

Dois indicadores importantes de inflação divulgados hoje mostraram que a alta de preços no país continua forte, apesar do desaquecimento da economia e dos juros elevados, o que fez consultorias e bancos elevarem suas projeções para a inflação deste mês e do ano. Essas altas podem colocar mais pressão sobre o Banco Central (BC), para uma nova rodada de alta dos juros, avalia o Banco Votorantim.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, inflação oficial usada nas metas do Banco Central, subiu 1,27% em janeiro, a maior alta desde 2003, superando 1,24% do ano passado e as projeções do mercado, que estavam em sua maioria em 1,10%. Já o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, subiu 1,53%, ante uma expectativa do mercado de 1,30%. Em 12 meses, o IGP-DI acumula 11,65%, ante 10,70% até dezembro.

Atacado mostra alta forte nos agrícolas

Mas, mais preocupante do que o IGP-DI é que os preços no atacado, estimados pelo IPA, e que representam 60% do índice, subiram 1,63% em janeiro. O IPA Agrícola subiu 2,58% no mês e 17,78% em 12 meses, ante 1,51% e 15,62% em dezembro, o que indica que as pressões dos alimentos sobre a inflação ao consumidor devem continuar nos próximos meses, avalia o Banco Fator.

Preços ao consumidor pressionam IGP-DI

Os preços ao consumidor, ou IPC, que representam 30% do IGP-DI, subiram 1,78% em janeiro, ante 0,88% em dezembro, com acumulado em 12 meses de 10,59%, ante 10,53% em dezembro. Os alimentos subiram 2,25% no mês e atingiram 12,30% em 12 meses, outro sinal de que a pressão sobre a inflação deve continuar. Já a inflação da Construção Civil, o INCC, que representa 10% do IGP-DI, subiu 0,39% em janeiro, ligeiramente acima dos 0,10% de dezembro, em função do reajuste do salário mínimo. Em 12 meses, o INCC sobe 6,92% até janeiro, menos que os 7,48% até dezembro.

Difusão sobe para 77,5% no IPCA

No IPCA, outro sinal de alerta vem do índice de difusão, que mostra o percentual de produtos em alta no indicador. Em janeiro, esse índice subiu para 77,5%, ante 74,8% em dezembro, mostrando que as altas de preços estão mais generalizadas. A média história da difusão no IPCA é de 62,7%.

Maior alta em 12 meses desde 2003

Em 12 meses, o IPCA atingiu 10,71%, superando os 10,67% de dezembro e registrando a maior alta para o período desde novembro de 2003. O dado é frustrante, pois a expectativa era que a inflação em 12 meses começasse a cair este ano, lembra o Banco ABC Brasil em relatório.

Administrados continuam puxando a inflação

A surpresa foram os preços administrados, como tarifas de água e luz, grandes vilões da inflação do ano passado e que levaram o IPCA a subir 1,24% em janeiro de 2015 e que deveriam se acalmar este ano. Os administrados subiram 1,75% em janeiro, ante 0,53% em dezembro, mas acumulam alta menor em 12 meses, de 17,20%, ante 18,06% acumulados em dezembro.

Já os preços livres subiram tanto no mês – 1,12% em janeiro, ante 1,10% em dezembro – quanto em 12 meses, para 8,76%, ante 8,50% em dezembro.

Mais inflação no ano

Diante desses sinais de inflação mais forte, a MCM Consultores elevou a estimativa de IPCA para fevereiro de 0,85% para 0,95%.Para o ano, a MCM trabalha agora com alta de 7,7%, ante 7,4% em dezembro. A desaceleração do IPCA em fevereiro deverá ser proporcionada pelo recuo do grupo Transportes, pelo menor impacto do aumento das tarifas de ônibus e uma nova queda das passagens aéreas. A projeção para o ano leva em conta um aumento da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) da gasolina em abril.

Também a projeção para o IGP-DI de fevereiro foi elevada depois do resultado acima do esperado em janeiro, diz a MCM. A estimativa passou de 0,70% a 0,80% para 0,80% a 0,90% neste mês.

Já o Banco Fator elevou a estimativa para o IPCA deste ano, para 8,30%, bem acima dos 6,5% do teto da meta de inflação do Banco Central.

Fevereiro, inflação segue forte

Para o ABC Brasil, a perspectiva para o IPCA em fevereiro não é das melhores, pois além do impacto das mensalidades escolares deve haver uma continuidade dos preços dos alimentos, que subiram 2,28% e representaram quase metade da inflação do mês.

O motivo é que a maior parte da alta veio dos produtos in natura, como tomate e batata, e que continuam pressionados no atacado, como mostra a alta de 2,58% do IPA Agrícola. “Dada a velocidade da passagem das variações do atacado para o varejo nesse tipo de produto, enquanto não observarmos uma redução nos IPA, dificilmente veremos o grupo Alimentação ajudando a inflação”, avalia o banco. “Como consequência, não podemos descartar um IPCA em fevereiro próximo do 1,22% do ano passado, postergando ainda mais a esperada convergência da inflação para níveis abaixo dos dois dígitos”.

 

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