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Chinês Haitong espera novo downgrade do Brasil para o 1º trimestre de 2016

Os primeiros meses do ano que vem prometem um quadro econômico ainda complicado para os brasileiros. De acordo com as estimativas do economista-chefe do banco chinês de investimentos Haitong no Brasil, Jankiel Santos, o país deverá perder seu grau de investimento, classificação que ainda mantém junto à Fitch e à Moody’s, no fim do primeiro trimestre de 2016. A Standard & Poor’s já retirou o selo de bom pagador do país em setembro. “Teremos um novo downgrade das três agências (Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s)”, acredita.

No entanto, para ele, os possíveis rebaixamentos não deverão criar grandes problemas, uma vez que a variável de risco da economia brasileira já está em patamares de outros países sem grau de investimento. “O mercado já precificou esse recuo e o investidor estrangeiro que tinha de tirar dinheiro do Brasil já saiu”, defende. “Pode haver algum impacto inicial nos mercados, mas vai durar pouco tempo e depois os ativos podem até melhorar”, diz.

Segundo Santos, no começo do ano, estará claro a abrangência do ajuste fiscal que o governo conseguirá fazer em 2016 e serão conhecidos os números fracos de crescimento do país, que vão pesar na decisão das agências de classificação de risco. Ele lembra que Standard & Poor’s já tirou o grau de bom pagador do país e, diante de números muito ruins, Fitch e Moody’s não vão querer ficar muito atrás da concorrente na avaliação. “Mas o Brasil existe há 515 anos e só tivemos grau de investimentos por sete, não será esse o maior problema do país”, afirma.

Juros mais baixos à vista

Além disso, frente aos sinais de severa queda da atividade econômica, aumento do desemprego e redução do Produto Interno Bruto (PIB), o Banco Central (BC) deverá reduzir a taxa de juros em meados de 2016, segundo Santos. “Há a possibilidade até de a redução vir antes, se as condições da economia se mostrarem piores no primeiro trimestre”, avalia.

Ele afirma que a inflação, por sua vez, fechará 2015 em 10% e baterá os 7% em abril do ano que vem, já tirando os 4% advindos dos ‘tarifaços’ e alguma resistência de novos impostos, mas ainda em trajetória de queda, em linha com o discurso do BC.

A baixa dos juros virá como a ‘boa notícia’ do ano para o mercado, “num período em que amargaremos um 2015 muito fraco e um primeiro trimestre indo pelo mesmo caminho”.

Apesar das estimativas de que a inflação vai continuar pressionada no ano que vem, com estimativas do mercado de 6,64%, acima do teto da meta de inflação, o BC não deve subir os juros. “O BC dá mais peso para a atividade econômica do que para a inflação para definir a taxa de juros e, como no ano que vem a atividade será fraca, a tendência será mais de baixar os juros”, afirma. “Uma subida dos juros não existe para o ano que vem, a inflação acima da meta não deverá ser motivo para o BC”, completa. Para ele, a instituição não parece ‘muito’ preocupada com o sistema de metas de inflação.

PIB negativo em 2015 e 2016

Para o PIB deste terceiro trimestre, resultado a ser conhecido na próxima semana, o banco espera uma contração de 1,2% na comparação com o período imediatamente anterior. No mesmo sentido, as perspectivas para o quarto trimestre também são de queda, de 0,5%, o que forçará uma revisão das apostas de crescimento do país para o que vem, quando a equipe de Santos já estimava baixa de 1%. Com os resultados negativos de 2015, o PIB de 2016 começará no vermelho, com -2%.

O problema fiscal e um ‘tributaço’

Diante de um cenário praticamente certo envolvendo uma nota de crédito ruim do Brasil no exterior, Santos aponta como principal problema local a atuação sobre a dívida interna e a estrutura fiscal. “Os gastos públicos foram reduzidos quando comparados aos do ano passado, mas ainda são pressionados por uma forte queda da arrecadação e uma frustração tremenda de receita, parte disso vindo da economia mais fraca e do fato de o governo ter dado um monte de benesses lá atrás que são impossíveis de ser retiradas”, detalha sobre o trabalho de contenção de gastos do ministro da Fazenda Joaquim Levy.

Para fazer frente aos desequilíbrios dos anos anteriores, o governo reajustou alguns preços este ano, estratégia que também deve marcar 2016. Na visão do economista-chefe, um ‘tributaço’ deverá impulsionar novamente o aumento dos preços e, portanto, algum avanço da inflação, que ele estima em 6% pelo IPCA.

Um BNDES sem campeões nacionais

Por conta dos cortes de investimentos e gastos do governo, o economista-chefe vê o trabalho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mais seletivo. “Não teremos mais uma postura de escolha de campeões nacionais, isso acabou, as escolhas terão que ser mais criteriosas”, critica. A partir daí, o setor de infraestrutura deverá liderar na captação dos recursos do banco, prevê Santos.

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