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IBCPF: planejamento financeiro evolui com o país

A ótica do planejamento financeiro no Brasil mudou nos últimos anos, acompanhando a evolução do mercado financeiro e do próprio país, afirma Luiz Sorge, presidente do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros, o IBCPF. Ele lembra que, há 12 anos, o juro no Brasil era de 18% ao ano e, nessa época, o planejamento se limitava a aproveitar da melhor maneira possível os ganhos da renda fixa, sem se preocupar muito com outros aspectos ligados ao patrimônio dos indivíduos. “Com 18% ao ano de juros, em quatro anos temos uma rentabilidade bruta de 94%, o que tornava o impacto do planejamento financeiro pequeno na vida das pessoas”, diz Sorge.

Já com os juros nominais de 11% e reais de 5% ao ano – e caminhando talvez para 2% a 3% reais no futuro -, faz sentido traçar um diagnóstico mais completo do patrimônio  das pessoas, não se limitando ao aspecto das aplicações financeiras.

Proteger os ganhos

Hoje, a situação do investidor é bem menos confortável pois, além de os rendimentos da renda fixa serem mais apertados, os mercados antes vistos como totalmente seguros não caminham apenas para cima, como por exemplo o de fundos imobiliários. “Aos poucos, as pessoas começam a ver que precisam proteger as conquistas que obtiveram”, observa Sorge.

Essa cultura de proteção ganha ainda mais importância em um cenário de juros nominais mais baixos.  “Uma coisa é aplicar a 110% do CDI com o juro a 18% ao ano, o que dá 1,5% ao mês, e outra a 11% ao ano, que significa 0,95% ao mês”, afirma.

Começa também a ter mais importância analisar formas de proteger o pouco que se ganhou. “Não evoluímos no conceito do seguro e de proteção patrimonial, das conquistas do passado”, afirma Sorge. “Poucos fazem hedge para carteiras, que nada mais é do que um seguro, mas muitos fazem para o carro”, diz.

No Brasil, lembra o executivo, o seguro de vida é obrigatório para quem financia um imóvel, como forma de evitar que as pessoas assumam o risco total ao fechar um empréstimo de tão longo prazo e valor elevado. Uma coisa que deveria ser óbvia. “Mas, para outras coisas também importantes, as pessoas não fazem seguro e às vezes perdem tudo”, diz.

Sucessão

Em um ambiente de juros mais magros, ficam também mais relevantes os custos das transações, como tributação e tarifas. Um imposto de 20% a 30% na transmissão de bens pode comer todo o ganho obtido por anos de boas aplicações acima do CDI. “Aí se torna importante o planejamento financeiro na sucessão”, diz Sorge.

Aparecem então como alternativas os fundos de previdência aberta, como PGBL e VGBL , que, além de ajudarem na sucessão, ainda servem para incentivar a disciplina financeira e o planejamento por meio de débitos mensais.

Planejamento forçado

O próprio fato de ter de fazer um cálculo para saber quanto precisará depositar num fundo de previdência para garantir determinado padrão de vida na velhice já ajuda o investidor a começar um planejamento de mais longo prazo, avalia Sorge.

O investidor terá de imaginar com quantos anos quer se aposentar, quanto precisará de renda para se manter, que despesas terá, para então definir as contribuições dentro do seu orçamento e do seu planejamento. “E um profissional CFP pode fazer a ligação entre tudo isso, entre os planos que a pessoa tem e como alcançá-los”, diz.

Diagnostico do investidor

Essa é a primeira tarefa do planejador financeiro: fazer um diagnóstico da pessoa e sua família. É preciso levantar quais são suas obrigações e riscos, se é solteiro ou casado, se tem filhos, se não tem patrimônio ou se é um empresário sujeito a riscos de perda patrimonial. “Conhecendo a vida e as necessidades financeiras e, com conhecimento do mercado financeiro, o planejador poderá fazer uma proposta que ajude a pessoa a atingir os objetivos de longo prazo correndo o menor risco possível”, diz Sorge.

Entram nesse quadro desde a idade, os planos que a pessoa tem, até a saúde. Alguém que não tem plano de saúde, por exemplo, se tiver de ir para um hospital particular numa emergência, vai gastar boa parte do patrimônio, “ou vai parar num hospital ruim”, lembra o presidente do IBCPF.

Um bom planejamento patrimonial deve abordar, portanto, aspectos fiscais e tributários, de sucessão  e de seguros. E as instituições financeiras podem ajudar com os seguros patrimoniais, de vida e a previdência complementar.

Ciclo de vida

Segundo Sorge, o planejamento deve acompanhar o ciclo de vida das pessoas e a evolução dos mercados. “A tributação, os produtos, as leis podem mudar, assim como os objetivos da pessoa”, observa o executivo. E isso precisa ser acompanhado também pela preparação os profissionais, nos cursos e exames que os CFP precisam fazer para se atualizar.

Por conta dessa necessidade, o  IBCPF está renovando sua base curricular e o peso de cada módulo para o profissional sair mais preparado para o mercado. O novo currículo deve ser aplicado a partir de 2015.

Reforma previdenciária

Outro fator que deve incentivar o planejamento financeiro é o fato de que o Brasil terá de passar, mais cedo ou mais tarde, por uma reforma previdenciária que vai de alguma maneira reduzir os valores e adiar a aposentadoria do sistema público, acredita Sorge. E essas mudanças vão influenciar o planejamento financeiro de longo prazo, alerta Sorge. “É um caminho sem volta, as pessoas vão ter de planejar sua aposentadoria e seu futuro”, diz.

Educação financeira

Sorge observa que o país preciso investir mais em educação financeira. Com a melhora de renda dos últimos anos, uma parte grande da população entrou no mercado consumidor e tornou-se também um poupador em potencial. Mas nem todos poderão ter acesso a um planejador financeiro. E talvez nem seja necessário.

Para o presidente do IBCPF, o planejamento financeiro deveria tornar-se parte da educação das famílias, especialmente nas classes sociais mais baixas, “até para evitar o superendividamento ou para que essas famílias melhorem de vida, tirando mais proveito dos poucos recursos”, diz. Ele dá o exemplo dos Estados Unidos, onde os jovens aprendem logo cedo o funcionamento do crédito habitacional de longo prazo.

Sorge defende que o planejamento financeiro deve fazer parte da cultura de toda a sociedade.  “Não é só para a alta renda, pois todos precisam saber lidar com dinheiro e com seu patrimônio e se planejar”, diz.

Mais planejadores

Com o Brasil caminhando para se tornar uma economia normal, sem as distorções da inflação e dos juros altos, quanto mais bem assessorada a pessoa, mais fácil deve ser para que ela atinja os objetivos de médio e longo prazos. E, para isso, o ideal é que ela procure um especialista. “No Brasil, a própria profissão de consultor financeiro está se desenvolvendo”, explica Sorge, que lembra que o IBCPF tem um papel importante nesse desenvolvimento.

No início, os profissionais certificados pelo IBCPF com a denominação CFP eram em sua quase totalidade profissionais de bancos. Mas, nos últimos anos, cresceram os planejadores independentes. No total, hoje o Brasil conta com 1.544 profissionais CFP. Um número ainda bem modesto diante dos 153 mil profissionais certificados pelo CFP em todo o mundo. Destes, 60 mil estão nos Estados Unidos.

Mais independentes

Mas o número no Brasil vem aumentando. Em 2014, foram 914 candidatos fazendo as provas do IBPF, ante 268 em 2010. Sorge espera chegar a 2 mil profissionais CFP até o fim do ano, 1.400 deles em instituições financeiras e 600 independentes ou em escritórios de gestão patrimonial (“family offices”). “Para os independentes, que não têm o ‘sobrenome’ de um banco por trás, a certificação é importante para dar mais segurança para o investidor”, afirma Sorge.

Código de Ética

O próprio IBCPF trabalha para garantir a credibilidade dos profissionais certificados, ao estabelecer padrões de comportamento e “compliance” mais elevados. “Temos um código de ética que, no limite, pode tirar a certificação do profissional que fizer algo errado”, explica Sorge. Além disso, a certificação ajuda a reduzir problemas com clientes. “Uma pesquisa feita na Austrália mostrou que a certificação CFP reduziu em 80% as reclamações dos clientes dos bancos”, diz.

 

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