Arena Especial, Gestão de Patrimônio

Artigo: cenário atual traz oportunidades para quem planeja a aposentadoria

O atual cenário, caracterizado por inflação alta, contração econômica e incerteza quanto à eficácia do ajuste fiscal, assim como todo período de crise, apresenta riscos. Ao mesmo tempo, pode ser uma grande oportunidade para quem estiver planejando sua aposentadoria ou outro objetivo de longo prazo. A principal lição das crises deveria ser a importância do controle do orçamento e o incentivo ao planejamento.

Reserva de curto prazo

Todo mundo sofreu uma redução do poder de compra por efeito da inflação e do câmbio depreciado. Muitos viram ou verão a própria renda diminuir, seja pela perda do emprego ou pela redução dos negócios. Nessa hora, a importância de se ter uma reserva de emergência com ativos líquidos vem à tona. Na falta dela, poderá ser necessário vender ativos reservados para a aposentadoria, cujos preços podem ter sofrido mais com a crise por estarem visando um horizonte de investimento mais longo. Investimentos com alta liquidez são a caderneta de poupança, os fundos de investimento em renda fixa indexados ao DI, CDBs, LCI ou LCA. Para fazer uma comparação entre eles, é preciso lembrar que apenas poupança, LCI e LCA são isentos de imposto de renda.

Hábitos financeiros

É também o momento propício para mudar hábitos financeiros. Há um incentivo natural para examinar o orçamento familiar e racionalizá-lo, eliminando as despesas supérfluas e reduzindo outras. Este comportamento mais conservador tende a ser resiliente em períodos de “vacas gordas”, deixando as pessoas mais preparadas para futuros eventos negativos inesperados e ajudando na acumulação de recursos para aposentadoria por aumentar a capacidade de poupança. Este é o valor que pode-se aplicar na reserva de aposentadoria.

Oportunidade na incerteza

Parar de poupar em períodos de incerteza ou quando os mercados sofrem quedas relevantes é um dos erros mais comuns no planejamento para aposentadoria, pois este tipo de reação inibe a possibilidade de entrar na baixa em mercados mais afetados nas crises, como o de renda variável e o imobiliário.

Quem consegue começar ou continuar a investir em momentos de mercado negativo pode aproveitar estas oportunidades. Isto é valido especialmente para quem está no começo da fase produtiva da vida. Primeiramente, porque, neste caso, mesmo perdas consistentes constituem um valor pequeno no grande esquema da aposentadoria. Uma segunda razão é que, ao comprar quando os preços estão baixos, pode-se aproveitar para incluir na carteira de aposentadoria ativos com grande potencial de crescimento após o fim da crise. Pode até ser oportuno realocar as contribuições ou mudar a alocação de algumas economias para ativos com perfil de risco/rendimento mais alto.

Tolerância a perdas pontuais

Neste sentido, as crises também oferecem a oportunidade de entender melhor a própria tolerância ao risco e os objetivos de alocação de ativos. Muitos investidores acham que podem enfrentar com tranquilidade um período de turbulência que leva a perder parte do dinheiro investido, mas na realidade não aguentam esta pressão. Definindo corretamente o plano de longo prazo e a tolerância ao risco, deveria-se conseguir manter a alocação de ativos ao longo dos anos, com reavaliações periódicas para verificar mudanças na situação pessoal e fazer os ajustes necessários na medida em que a idade de aposentadoria se aproxima.

Diversificação da carteira

Para planejar os investimentos que bancarão a aposentadoria, é necessário montar uma carteira diversificada, cuja composição depende da capacidade de poupança, do horizonte temporal, da tolerância ao risco e dos objetivos de longo prazo da pessoa. Para garantir o melhor perfil de risco/rendimento da carteira recomenda-se sempre a diversificação entre várias classes de ativos (como renda fixa, ações, imobiliário) e entre vários tipos de ativos dentro da mesma classe (por exemplo, títulos com diferentes indexadores, setores diferentes do mercado acionário, imóveis em vários segmentos e regiões). Combinando ativos com baixa correlação, ou seja, que reagem ao mesmo evento em modo diferente, pode-se reduzir o risco e aumentar o retorno no longo prazo.

O necessário para se aposentar

A definição do patrimônio necessário para aposentadoria e da alocação de ativos adequada é específica para cada indivíduo ou família e deve ser feita com a ajuda de um profissional qualificado e de confiança. Feita esta premissa, posso indicar aqui algumas oportunidades no mercado financeiro brasileiro que podem ser atrativas neste momento.

Tesouro Direto

Neste período de juros elevados, os titulos do Tesouro Direto pós-fixados (agora Tesouro Selic) ou outros ativos referenciados à taxa Selic apresentam um rendimento excelente. Porém, em algum momento, possivelmente ao longo dos próximos 12 meses, a inflação deve dar sinais de arrefecimento, alimentando as expectativas de baixa da Selic. Pelos argumentos apresentados acima, caso este movimento se confirme, seria interessante aumentar a alocação em fundos de renda fixa de longo prazo ou, para quem investe diretamente no Tesouro Direto, em títulos prefixados.

NTN-B, corrigida pela inflação

Ainda no Tesouro Direto, os atuais níveis de rentabilidade do Tesouro IPCA+ (antiga NTN-B) estão muito atrativos. São títulos públicos, de grande liquidez e baixo risco. A rentabilidade é dada por uma taxa prefixada (hoje acima de 6% ao ano) mais a variação do índice de preços IPCA, o que significa um excelente rendimento. Por oferecer retornos altos e proteção contra a inflação, são um instrumento perfeito para compor uma carteira de aposentadoria. Porém, é importante comprar um título com vencimento próximo do prazo desejado, pois as condições citadas só valem para investidores que levam os títulos até o vencimento; caso contrário estão sujeitos à volatilidade por ter que vender ao preço de mercado.

Fundos imobiliários

Outra opção de diversificação, com maior volatilidade e maior risco de liquidez, são os fundos imobiliários, com cotas negociadas em bolsa para pessoa física. Estes papéis sofreram muito ao longo do último ano e também devem reagir quando voltarem as expectativas de juros menores. Vale lembrar a importância de avaliar, antes de investir, quais são os imóveis e os contratos subjacentes aos fundos, de que forma é feito o repasse dos alugueis e se há isenção de IR.

Mercado acionário

Por fim, o mercado acionário também apresenta oportunidades em vários setores e papéis. Para os investidores que não tiverem familiaridade com análise de empresas nem tempo para acompanhar a carteira, é recomendável que fiquem nos fundos de ações ou nos ETFs, para mitigar o risco. É necessário ter paciência, pois no curto prazo ainda podem ocorrer períodos de turbulência e o mercado tende a ter respostas exageradas. Nesta situação, é preciso resistir para não se juntar na venda coletiva – esperar para vender permitirá que o mercado se livre do pânico e os preços se reajustem.

Michela Aimar, CFP é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Email: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, da Arena do Pavini ou do IBCPF. O site e o IBCPF não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Artigo AnteriorPróximo Artigo