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Aplicações de varejo crescem 5,6% em 2015; poupança representa 65% das carteiras

As aplicações dos clientes de varejo nos bancos cresceram 5,6% no ano passado, de R$ 777,9 bilhões para R$ 821,8 bilhões, com destaque para o aumento das aplicações isentas em Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), em fundos de renda fixa e nos títulos públicos via Tesouro Direto, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

No total, são 66,6 milhões de pequenos investidores com aplicações em torno de até R$ 10 mil, e que têm nas cadernetas de poupança a maior parcela de seus recursos. “Do total dos recursos desse público, 65% estão em poupança, o que está de acordo com o perfil desse público”, explica Marcos Daré, presidente do Comitê de Varejo da Anbima. No ano passado, esse tipo de investidor aumentou a parcela em poupança, contrariando a tendência de resgates da aplicação.

Pequenos representam 40% do total de pessoas físicas

Os pequenos investidores representam 40% do total aplicado por pessoas físicas nos bancos, que atingiu R$ 2,043 trilhões em dezembro de 2015, um crescimento de 8,83% sobre 2014, segundo a Anbima. No total, são 71 milhões de investidores, um crescimento de 3,3% sobre 2014. O dado deste ano foi reforçado pelas informações de poupança, que não constavam no levantamento do ano passado. Foram consideradas aplicações em caderneta acima de R$ 100,00.

Alta renda puxou crescimento das aplicações e queda da poupança

Com 5 milhões de investidores e R$ 569,9 bilhões de patrimônio, o segmento de varejo de alta renda, em geral de pessoas com renda acima de R$ 10 mil e mais de R$ 50 mil para investir, teve um crescimento maior, de 13,46% sobre 2014, e passou a representar 27,90% do total de pessoas físicas. Nesse segmento, a poupança representava 12,6% do total, bem menos que os 16,8% de 2014.

Foi esse tipo de investidor que registrou o maior volume de resgates das cadernetas, com uma redução de 14,94% do saldo, ou R$ 12,6 bilhões. Ao mesmo tempo, houve forte crescimento na aplicação em fundos de renda fixa, papéis isentos como LCI e LCA e títulos públicos. “A tendência é que o perfil de investimentos do varejo de alta renda se aproxime cada vez mais do do private”, afirma Daré.

Private cresceu menos

Já o segmento private fechou o ano com 110 mil investidores e patrimônio total de R$ 651 bilhões, ou 31,8% do total de pessoas físicas, dos quais apenas 0,3% em poupança. O crescimento das aplicações dos clientes de alta renda foi de 9,07%, abaixo dos 11,76% do ano passado e do juro do CDI.

Aumenta parcela de renda fixa nas carteiras

Uma das características das pessoas físicas no ano passado, tanto private quanto de varejo, foi a maior concentração em aplicações de renda fixa, mais conservador, afirma Daré. Esse movimento foi incentivado pelas incertezas na economia e na política, que provocaram fortes oscilações nos mercados, e também pela alta dos juros. “Para que o investidor vai correr risco se pode aplicar e ganhar um juro real elevado na renda fixa conservadora?”, questiona.

No total das carteiras de pessoas físicas, houve uma redução das aplicações em ações de 6,1% para 4,3%. Uma parte desses recursos migrou para títulos e valores mobiliários, cujo valor aplicado cresceu 19,95%,  e para fundos de renda fixa, que cresceram 18,91%. Já os papéis isentos LCI e LCA tiveram um aumento de R$ 85 bilhões em aplicações tanto no varejo quanto na alta renda e no private.

LCI e LCA conquistam varejo

Houve uma maior popularização no varejo e no varejo de alta renda dos papéis isentos, as LCI e LCI, que antes eram mais voltadas para os clientes dos privates. “Os bancos conseguiram fazer mais operações de empréstimo para esses setores, que serviram de lastro para esses papéis, reduziram os valores de aplicação e aumentaram a oferta de LCI e LCA”, afirma Daré. Com isso, os papéis isentos se tornaram as vedetes do mercado, unindo segurança, já que são protegidos até R$ 250 mil pelo Fundo Garantidor de Crédito, baixa volatilidade e rentabilidade elevada em comparação com outras opções de mercado.

Mesmo depois que o governo mudou as regras, aumentando a carência das LCI de 60 para 90 dias, o interesse continuou. Daré observa que as LCI e LCA também atraíram os investidores de varejo, mas o do topo da pirâmide.

Poupança tem papel importante para investidor

Daré destaca que as cadernetas ainda tem um papel importante para o investido de varejo, especialmente o de baixa renda, apesar da baixa rentabilidade do ano passado para cá e dos elevados resgates. “Não podemos olhar o ano passado como trágico”, diz. “Olhando para trás, as cadernetas ganharam bastante espaço nos anos em que os juros caíram e elas renderam mais que outras aplicações, como em 2012”, lembra.

Além disso, por sua facilidade de acesso e simplicidade de funcionamento, a poupança é uma aplicação de extrema importância na composição dos investimentos da baixa renda, afirma Daré, uma vez que o investidor consegue na poupança, com um valor menor, um retorno que não conseguiria em outra aplicação. “Ele até tem fundos ou CDB com aplicação menor, mas com taxa de administração mais alta ou rentabilidades mais baixas, que no final podem render o mesmo ou até menos que a caderneta”, diz. Além disso, é uma aplicação fácil para o investidor entender e tem liquidez imediata, tem tradição e uma aplicação mínima muito baixa. “Até pela simplicidade e conservadorismo, penso que mesmo alguns clientes preferem deixar parte do dinheiro em poupança”, explica.

O levantamento da Anbima mostra também um aumento do número de profissionais de atendimento para os investidores de varejo e varejo de alta renda com certificação CPA 10, CPA 20 ou CEA/CGA, para 97 mil em dezembro do ano passado. Na média, cada profissional atende 723 clientes de varejo. Os clientes do private tinham 2 mil profissionais, ou um para 54 clientes.

Daré lembra que a Anbima incentiva a formação dos profissionais e que isso acaba também se estendendo aos clientes, que adquirem mais conhecimento sobre as aplicações.

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