Arena Especial, Educação Financeira

Perdeu o emprego? O que fazer com as dívidas?

O aumento do desemprego neste ano vem com um fator que agrava a situação das famílias: o alto endividamento. Incentivadas a consumir e tomar empréstimos nos últimos anos, muitas famílias já vivem no limite da renda, que foi reduzida pela inflação. E o desemprego pode piorar ainda mais o cenário.

A expectativa é que a inadimplência aumente nos próximos meses, diz Godofredo Barros, sócio da Ipanema Credit Management, empresa especializada na compra de créditos vencidos de bancos e cobrança. Ele faz algumas sugestões para quem perder o emprego e tiver dívidas, para evitar um prejuízo ainda maior. “Nessas horas, a empresa de cobrança também tem de ter a consciência de que é preciso paciência, pois o devedor não tem como pagar se não tem fonte de renda”, diz.

A primeira sugestão de Barros para quem perdeu o emprego é entender as dívidas que a família tem, qual o valor total, o tipo de empréstimo e o custo de cada um. Não se deve esquecer de dívidas que ficam fora do banco, como o cartão de crédito ou financiamentos de lojas.

Depois, é preciso procurar o credor e avisar que perdeu o emprego e não terá como pagar as parcelas. É importante o credor saber o motivo da inadimplência, até para pensar em uma solução que garanta a retomada dos pagamentos o mais rápido possível.

O terceiro passo é tentar renegociar as dívidas e trocar as que tenham custo mais alto por outras mais baratas. “As dívidas com cartão de crédito ou cheque especial, com juros de 10%, 15% ao mês, devem ser trocadas por crédito pessoal ou outras linhas o mais depressa possível para não virar bola de neve”, diz.

Na renegociação, Barros diz que o devedor deve exigir que a proposta seja encaminhada para o comitê de crédito do banco. “O gerente às vezes não tem muito interesse em renegociar”, diz.

Outro cuidado é com as “pegadinhas” na renegociação. “Às vezes o gerente renegocia só os créditos dele e ficam de fora as dívidas com o cartão de crédito, que são as mais caras”, diz Barros. “É preciso que a renegociação englobe todas as dívidas”.

O valor também deve ser realista, dentro do que a pessoa pode pagar no futuro, talvez com uma renda mais baixa, para evitar que ela volte a dever em alguns meses.

Uma atitude fundamental é entender o orçamento doméstico, definindo quais são as despesas que não podem ser evitadas, como aluguel, água, luz, transporte, e cortando despesas que não sejam essenciais, mesmo as pequenas. “É o café da manhã na padaria, o almoçou ou jantar fora, coisas pequenas que, no fim do mês, representam parcelas significativas do orçamento”, observa.

É preciso também mudar hábitos, até mesmo o lazer, o que não significa deixar de se divertir. Barros dá o exemplo da família que vai passear no shopping. “Isso para quem não tem dinheiro é masoquismo.” A opção são parques ou programas gratuitos, como shows ao ar livre ou vídeos no lugar do cinema.

No orçamento, deve ser separado um valor para saldar as dívidas mais importantes ou que tenham o custo mais alto.

O devedor deve também admitir que tem um problema e buscar alternativas para a perda de emprego. “Às vezes a classe média, por orgulho, não aceita um salário mais baixo, não muda de profissão, insiste em um setor que já não tem futuro ou está saturado e demora a tomar consciência de que é preciso mudar de ramo ou atividade”, diz.

É importante também manter o canal de comunicação aberto com o credor, para facilitar eventuais renegociações.

Segundo Barros, também as empresas de cobrança terão de entender a situação de desemprego dos devedores. “A abordagem tem de ser diferente, um pai de família que perdeu o emprego ou mesmo um aposentado que se endividou demais têm de ser entendidos”, diz. Em alguns casos, a saída será dar mais tempo para o devedor ajustar sua vida. “Forçar uma cobrança numa situação dessas pode acabar obrigando o credor a dar um desconto maior na renegociação, o que também não interessa ao banco ou à financeira”, explica.

É importante também orientar os devedores, que às vezes não entendem de onde veio a dívida e por que ela é muito maior que o valor original. “Quanto mais informado por consumidor, mais rápido ele sai do endividamento”, afirma Barros. Ele observa que as pessoas reagem de forma diferente quando entendem de onde veio a dívida. “É diferente você dizer que alguém tem uma dívida de tanto e vai ser negativada de lembrar que ela comprou o material de construção no depósito perto da casa dela e é preciso acertar a situação”, explica Barros. “A grande maioria das pessoas quer regularizar a situação, não quer ficar devendo, mas muitas vezes não entendem o problema ou não sabem se organizar para pagar”, diz.

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