Ações na Arena, Corretoras

Clear, a corretora onde os fracos não têm vez, investe nos especialistas em bolsa

Se você é daqueles investidores que acha que borboleta é aquele simpático lepidóptero que poliniza as flores e que venda coberta é um estabelecimento comercial à prova de chuva, nem deve passar perto da Clear Corretora. Criada há quatro meses, a mais jovem corretora da bolsa optou por só trabalhar com investidores com bastante experiência e conhecimento de mercado, os chamados “feras”, que montam operações como borboletas, vendas cobertas e arbitragens com opções e termos de ações no café da manhã. “Nem queremos que os novatos operem conosco, por isso, nosso preço para as operações mais básicas é mais alto que a média de mercado”, diz Roberto Lee, diretor comercial, sócio e um dos idealizadores da Clear.

Por sua sofisticação, a Clear demorou dois anos para ser montada por Lee e seus sócios, João Fortes Neto e Paolo Mason, que trabalharam com ele na Ágora e na WinTrade, e dois operadores especiais da BM&F, José Luiz Rossetto e Mauro Benati. Lee foi um dos responsáveis pela criação do WinTrade, home broker da Alpes, que marcou época com os anúncios nos quais o jogador Kaká aparecia dizendo que aplicava em ações. “Começamos a WinTrade em 2004 e logo nos tornamos uma das três maiores corretoras de varejo do mercado, e sem agentes autônomos”, lembra Lee.

Depois, porém, o mercado de pessoas físicas na bolsa foi se retraindo, mais corretoras entraram nesse segmento e teve início uma guerra de preços de corretagem que acabou com a rentabilidade de muitas casas e o interesse pelo varejo. “Nós sempre miramos a base dos clientes de varejo, o iniciante, aquele que é preciso pegar pela mão, mas esse é um público que está muito bem atendido”, admite Lee.

Segundo ele, o varejo iniciante hoje é dominado pelas corretoras dos grandes bancos, que se concentram na estratégia de “buy and hold” (compre e guarde), pois têm um público cativo entre os correntistas e conseguem rentabilidade elevada com a cobrança de taxas de custódia. “Além disso, nas independentes, tem muito agente autônomo, o que reduz o lucro, pois 50%  fica para o intermediário”, acrescenta.

Diante desse cenário, Lee e os sócios resolveram montar uma corretora para os clientes mais sofisticados, que operam sempre, com a bolsa em queda ou em alta, e com grandes volumes. Esse é o filão que muitas casas passaram a almejar nos últimos anos de mercado de lado ou em baixa.

Para conquistar esse público, a corretora oferece uma plataforma de negociação de alta frequência de última geração e serviços especializados, mais voltados para controlar os resultados do que propriamente negociar ações. Os usuários são profissionais que muitas vezes trabalham no mercado financeiro, possuem certificações especiais e que cada vez mais se distanciam das opções oferecidas pelas corretoras para o varejo.

E a opção tem sido acertada, segundo Lee. Apesar de ser um público muito menor, os especialistas são mais lucrativos que os iniciantes, apesar de serem mais exigentes também. Hoje, a Clear tem cerca de mil clientes e espera atingir o equilíbrio financeiro no ano que vem com um número não muito superior a isso, afirma Lee. “Podemos também falar com eles mais profundamente sobre as ferramentas”, acrescenta.

Lee observa que é difícil se diferenciar quando todas as corretoras negociam ações. “É como Casas Bahia, Ponto Frio, todas têm os mesmos produtos”, diz. Por isso, a Clear busca oferecer  estratégias de investimento, e não ações e opções simplesmente.

A corretora traçou também o perfil desse grande investidor em ações. Segundo Lee, eles têm parcelas diferentes de recursos em seu patrimônio. “Há o dinheiro das economias, o grosso dos recursos, que eles não querem colocar em risco de jeito nenhum, e que é aplicada no longo prazo”, observa Lee.

Outra parcela, menor, é destinada ao giro diário, e que não deve ser misturada com a outra parcela. E aí começa o trabalho da Clear, de montar uma estrutura que mostre automaticamente para o investidor o risco das posições que ele assumiu no curto prazo, as garantias disponíveis e as exigidas a cada nova operação e os resultados. “Se o cliente bate o limite de risco, paramos as negociações e executamos as garantias”, diz.

Com isso, a corretora consegue oferecer mais liberdade ao investidor sem correr risco de perdas. “Nosso controle de risco é online, o cliente pode se ajustar e reduzir posições à medida que ultrapassa os limites de garantias”, explica. Ao mesmo tempo, o cliente tem acesso a toda uma retaguarda que informa seu risco por operação e seus retornos em tempo real e o desempenho das parcelas de curto e longo prazo, separadamente.

O uso dos sistemas automatizados pela corretora permite também uma redução dos custos, que é repassado para o cliente, explica o executivo. O sistema tem algoritmos que fazem automaticamente as várias operações de compra e venda de ações ou opções de cada estratégia, o que reduz também o risco do cliente perder oportunidades com a demora na execução.

É o caso da famigerada borboleta, que exige a compra simultânea de três opções, e é feita com um comando do sistema. Além disso, o cálculo do retorno da operação é feito pelo conjunto da operação, e não em cada opção, como ocorre normalmente no mercado. “Antes, cada investidor tinha de controlar a operação por conta própria em tabela de excel”, observa Lee.

Entre os algoritmos oferecidos pela Clear, estão os de arbitragem entre papéis, o chamado long/short, com 40 pares de ações escolhidas, além de vendas cobertas, day-trade e aluguel. “Atualizamos todos os dias esses algoritmos de acordo com as oportunidades que surgem no mercado”, explica.

Lee observa que o mercado acionário brasileiro se desenvolveu bastante nos últimos dez anos e já há um público especializado que justifica um serviço mais sofisticado. Dos atuais 600 mil cadastros de pessoas físicas na Bovespa, ele estima que apenas 150 mil sejam investidores ativos. “E nosso trabalho é para o trader, para o especialista, mostramos para o cliente que nos procura que as operações são arriscadas e muitos nem voltam, pois percebem que não têm preparo ainda para usar nossas ferramentas”, diz.

Já para o especialista, o sistema ajuda a elevar a qualidade dos negócios pelo maior controle das operações, que evita que o investidor exagere nos riscos, pois fornece de maneira mais transparente as perdas e os ganhos em tempo real.

 

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