Ações na Arena, Corretoras

CGD decide fechar corretora de atacado no Brasil até o fim do ano

A portuguesa Caixa Geral de Depósitos (CGD) decidiu fechar a corretora de atacado no Brasil. O banco estatal, que é o maior de Portugal, porém, vai continuar operando no mercado brasileiro, por meio do Banco Caixa Geral-Brasil e pela participação na Rico Investimentos.

A instituição já havia transferido a operação de varejo de bolsa para a Rico Investimentos em julho deste ano, numa operação em que se tornou acionista majoritário da instituição brasileira, mas manteve separada a operação voltada para grandes clientes e institucionais. Ontem, os funcionários das mesas de negociação foram avisados que a operação de atacado será encerrada até o fim do ano. Segundo a corretora, o encerramento das atividades será gradual.

A estatal CGD entrou no Brasil ao comprar as operações do também português Banif, em junho de 2010, na esteira da crise dos bancos em Portugal. A corretora do Banif era uma dos líderes do mercado brasileiro de investidores pessoas físicas em bolsa via home broker, por meio da Banifinvest. Em outubro de 2012, a corretora mudou de nome para DirectaInvest.

Corretoras conectadas

A CDG era líder na atividade de prestação de serviços para outras corretoras, na parte de liquidação de operações, atendendo a Máxima, a Souza Barros e a Magliano. As corretoras foram avisadas oficialmente nesta semana do fim da atividade e estão agora buscando outros prestadores de serviços. “Já estamos trabalhando com a Plural e a Votorantim, e começaremos a testar a parte operacional dos negócios na semana que vem”, diz Raymundo Magliano Neto, presidente da corretora Magliano.

A estrutura oferecida pela CGD serviu de modelo para a proposta da BM&FBovespa de reestruturação do mercado de corretoras brasileiro. O sistema prevê a criação de um tipo de corretora, as Participantes de Negociação, que usarão os serviços de outras, as Participantes de Negociação Plenas, para liquidar as operações na bolsa.

Cenário pouco favorável para o setor

Em nota divulgada hoje, a CGD Securities, braço de corretagem do grupo português, confirma o encerramento das atividades de atacado. A decisão, segundo a corretora, “foi tomada a partir da análise do cenário econômico do país para este setor, atualmente pouco favorável ao perfil de serviços oferecidos pela empresa”.

Segundo a nota, o encerramento das atividades será gradual. “É importante salientar que todos os compromissos da CGD Securities serão cumpridos, tanto com os clientes e parceiros, que terão prazos contratuais cumpridos, quanto com os funcionários, que receberão seus direitos trabalhistas como preconiza a Consolidação das Leis Trabalhistas”, diz a corretora, que acrescenta que o Banco Central (BC) e a BM&FBovespa também já foram informados.

O Grupo Caixa Geral de Depósitos, do qual faz parte a CGD Securities, tem 138 anos e está presente em 23 países de quatro continentes. “O grupo considera o Brasil um país estratégico e, por isso, os demais negócios, como o Banco Caixa Geral-Brasil, há cinco anos no país e a participação na Rico, Plataforma de Investimentos, que está em processo de aprovação junto ao Bacen, não serão afetados.”

Banif e Banco Bandeirantes

A saída da CGD do mercado de atacado encerra uma história que começou com os problemas do Banif em Portugal, que levaram o banco estatal a comprar parte de suas operações. A corretora quase foi comprada pela Sul América, mas a CGD, com aval do governo de Portugal, acabou ficando com o negócio. A CGD já tinha tentado entrar no mercado brasileiro em 1998, ao comprar o Banco Bandeirantes, que foi depois revendido para o Unibanco.

Os sócios brasileiros da Banif, porém, saíram do negócio e as dificuldades do mercado de corretagem aumentaram, especialmente no atacado, onde a disputa pelos gestores de recursos, fundos de pensão, seguradoras e outros grandes clientes se tornou mais acirrada tanto no segmento de bolsa quanto no de derivativos e mercados futuros de juros e câmbio. Apesar dos esforços para cortar despesas, a atividade para uma corretora quase independente foi se tornando pouco lucrativa.

O setor de corretagem de atacado brasileiro enfrenta uma série de desafios, com custos cada vez mais altos e concentração de clientes. As exigências da BM&FBovespa para os selos de qualidade aumentam a necessidade de investimentos em tecnologia, auditorias, controles e informações, o que eleva os custos das instituições.

Já as corretoras ligadas a bancos ou pertencentes a grupos locais e estrangeiros aumentam suas fatias mais agressivamente, concentrando as operações de empresas ligadas. Assim, os clientes institucionais concentram suas operações nas corretoras dos próprios grupos. Além disso, com esse ganho garantido em casa, essas corretoras passam a disputar os demais grandes investidores, muitas vezes de maneira predatória.  Cada vez mais, as corretoras independentes vão perdendo espaço nesse segmento, que se concentra nessas grandes instituições.

 

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