Arena Especial, Banco Central

Copom surpreende, sobe juro para 11,25% e indica novas altas, citando inflação e preços relativos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu hoje ao elevar a taxa de juros básica Selic de 11% para 11,25% ao ano, alertando para pressões inflacionárias e abrindo espaço para novos ajustes, que podem chegar a 2 pontos percentuais, segundo analistas do mercado. Três dias depois da eleição mais disputada desde a redemocratização do país, na qual a independência do BC e políticas mais duras de combate à inflação foram alvo de fortes ataques da campanha vencedora, a alta dos juros era o que menos se esperava, ainda mais com a economia ainda se recuperando de uma recessão técnica e com a criação de empregos mostrando sinais de esgotamento.

Para justificar a alta, o BC citou pressões dos preços relativos, numa referência ao dólar, que já subiu para perto de R$ 2,50 neste mês, e às tarifas, que terão de ser reajustadas nos próximos meses, o que inclui gasolina, energia elétrica e ônibus.

Reação forte

A reação do mercado amanhã deverá ser expressiva, até pela mensagem que a mudança de postura do BC, mais duro com a inflação, dará aos analisas e investidores. A reação pode ocorrer especialmente no segmento de juros, que trabalhava com algum aumento, mas não neste ano. É possível que as taxas mais curtas tenham forte alta, enquanto as longas recuem, na expectativa de maior controle da inflação a médio prazo. A reação mais forte pode impactar também o mercado de câmbio, fortalecendo o real e derrubando o dólar, e animar os investidores em bolsa. A notícia é boa para os investidores em renda fixa, especialmente os que aplicam em taxas corrigidas pelo juro diário, Selic ou CDI, como fundos DI ou LCI e LCA.

Copom dividido

A decisão não foi unânime, com cinco integrantes do comitê votando pela alta dos juros e três contra, o que mostra a divisão de opiniões dentro do próprio BC. O comunicado que acompanhou a decisão observa que, desde a última reunião do Copom, entre outros fatores, a “intensificação dos ajustes de preços relativos na economia” aumentou a pressão sobre a inflação, tornando o “balanço de riscos” menos favorável. Ou seja, aumentou o risco de o IPCA superar o teto da meta de 6,5%. Diante disso, o BC teria se antecipado para reduzir o impacto desses preços relativos e garantir um “cenário mais benigno” para a inflação em 2015 e 2016.

Novo ciclo de alta

Para o Banco Fator, o ajuste de hoje representa o início de um novo ciclo de alta, que pode ficar entre 1 e 2 pontos percentuais, elevando a Selic para 12% a 13% ao ano. O movimento de ajuste dos preços relativos, ou seja, da taxa de câmbio e dos preços administrados citados pelo Copom, tem sustentado a inflação e sua taxa em níveis “incomodamente elevados”. Para o banco, o comitê “indica tais ajustes e outros fatores, não identificados, como tendo tornado o balanço de riscos da inflação menos favorável”. Desde o terceiro relatório trimestral de inflação “consolidou-se a expectativa de uma convergência muito lenta da inflação para níveis próximos do centro da meta”, de 4,5%. A ideia do BC, portanto, seria apertar mais os juros agora para reduzir a necessidade de apertos maiores no futuro, iniciando “o que entendemos que será um novo ciclo de alta da taxa básica”.

O Copom “arrisca, portanto, desfavorecer as condições da atividade econômica em um ambiente de riscos associados à aceleração da inflação”, avalia o Fator.

O mercado vai acompanhar agora se o governo vai também agir na parte fiscal, buscando reequilibrar as contas públicas, outro ponto que compromete o controle da inflação. Além do corte de alguns gastos e subsídios, a expectativa é de que o governo aumente impostos como a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis.

Segue abaixo o comunicado do Copom sobre a nova taxa de juros.

“O Copom decidiu elevar a taxa Selic para 11,25% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e três votos pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a.

Para o Comitê, desde sua última reunião, entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.

Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a. os seguintes membros do Comitê: Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim.”

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