Arena Especial, Banco Central

Copom aumenta os juros para 12,75% ao ano e indica nova alta

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central  (BC) elevou o juro básico da economia, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 12,75%. Foi a quarta alta consecutiva da taxa pelo Copom, o que fez o juro básico subir de 11% ao ano no fim de outubro para 12,75% agora. Em fevereiro do ano passado, a Selic estava em 10,75%. A taxa é a mais alta em seis anos.

A decisão beneficia as aplicações de renda fixa, como fundos, LCI, LCA e poupança, que passam a render mais, mas prejudica os tomadores de crédito, que terão juros maiores. Em geral, a alta dos empréstimos é muito maior que a da taxa básica Selic.

O comunicado foi mantido em grande parte, o que indicaria que os juros podem voltar a subir na próxima reunião, nos dias 28 e 29 de abril. A decisão foi unânime. Parte do mercado espera que o BC eleve os juros em mais 0,25 ponto percentual na reunião de abril, encerrando o ajuste da taxa em 13% ao ano. O dólar em alta, na casa dos R$ 3,00, a inflação pressionada e bem acima da meta de 4,5% ao ano e as dificuldades em aprovar o ajuste fiscal no Congresso tendem a justificar a continuidade da subida da Selic, apesar do desaquecimento da economia.

Em nota, o Copom informou que “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 12,75% a.a., sem viés.”

Sinalização de alta que pode ser revertida

O BC indica que deve aumentar os juros na próxima reunião, mas pode mudar de ideia até lá com a divulgação de indicadores muito ruins da economia, principalmente do emprego, afirma Mauricio Molan, economista-chefe do Santander. Para ele, o BC deverá manter os juros nos atuais 12,75% e, no quarto trimestre do ano, passar a reduzir a taxa, que fecharia 2015 em 11,75%. “A economia vai estar apresentando uma recessão intensa no quarto trimestre, o que deve levar o BC a reduzir os juros”, diz o economista, que trabalha com uma queda no PIB brasileiro de 0,9% este ano. Mesmo assim, a inflação seguirá alta. O banco projeta um IPCA de 7,6% este ano e de 5,8% no ano que vem.

Principal risco é político

Molan vê a situação política e a dificuldade do governo em aprovar o ajuste fiscal no Congresso como o principal fator de risco para o cenário de estabilização do juro no nível atual. “O principal risco é a piora do cenário político”, diz. “O cenário mais provável é que se consolide uma visão de melhora na situação fiscal, de inflação mais estável, economia mais fraca  e dólar menos pressionado”, diz. “Mas os riscos são assimétricos, a turbulência política pode levar o dólar para mais um ciclo de alta e com isso os juros também teriam de subir”, diz.

Dólar pode perder força

No momento atual, porém, Molan não mudou sua estimativa  para o dólar, apesar da alta hoje para R$ 3,00. O BC, acredita o economista, deve estender o programa de venda e contratos de swap cambial, e isso pode ajudar o dólar a perder força. O Santaner trabalha com um dólar a R$ 2,94 no fim deste ano e em R$ 3,20 no fim do ano que vem. Para Molan, a alta recente foi um movimento muito rápido e intenso e é preciso ver se há fundamentos sustentáveis para manter a cotação no nível atual. “A alta do dólar vem em cima e uma conjuntura política muito conturbada e de uma valorização da moeda americana no exterior”, diz. “Havia antes um movimetno de estabilização dos preços das commodities e do dólar, e é preciso ver se esse movimento vai voltar”, diz.

Molan observa que o comunicado de hoje do Copom sinaliza que ele vai seguir aumentando os juros. “Quando o Copom escreve a nota como escreveu, da mesma forma que na reunião anterior em que subiu o juro, ele mostra que a cabeça não mudou, que ainda estamos no processo de aperto”, diz o economista. “Se tivesse intenção de parar a alta, teria mudado.” Mas nada impede, porém, que o Copom mude de ideia até a próxima reunião, acredita Molan.

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