A clareza na comunicação é um desafio de todos que tentam transmitir suas informações da melhor maneira possível. Os reguladores e autorreguladores do mercado financeiro também estão sensíveis a isso e estão buscando simplificar o nome das classificações dos veículos de investimento, o que tende a nos ajudar como investidores.
O Tesouro, por exemplo, renomeou este ano seus títulos, mudando a sopa de letrinhas (LFT, LTN, etc.) para nomes mais claros:
(i) Tesouro Selic, para títulos que rendem Selic + taxa contratada, as antigas LFT;
(ii) Tesouro IPCA e Tesouro IPCA com juros semestrais, que rendem IPCA + taxa contratada no vencimento ou semestral até o vencimento, respectivamente, que eram as velhas NTN-B Principal e NTN-B;
(iii) e Tesouro prefixado e Tesouro prefixado com juros semestrais, que têm o rendimento da taxa contratada no vencimento ou semestralmente e no vencimento, respectivamente, no lugar das LTN e NTN-F.
Todos eles contam com o ano do vencimento no final de cada título. Com isso, são três níveis de classificação: tipo de rentabilidade, fluxo de remuneração e data de vencimento.
Fundos mudam em julho
O mesmo foi feito na nova classificação dos fundos de investimentos, que vigorará a partir de julho pela Anbima. A nova classificação trará fundos também divididos em três níveis de detalhamento.
Três níveis de informação
No primeiro serão classificados por classe Comissão de Valores Mobiliários (CVM): renda fixa, multimercado, ações ou cambiais, já obedecendo a nova Instrução CVM 555, que regulará a indústria de fundos em breve. Esta nova instrução atualizará a Instrução 409, que já vigora há mais de uma década, buscando trazer transparência e modernidade ao mercado de fundos nacional. Serão abordados aspectos digitais, como assinatura eletrônica de assembleias, bem como novas categoria de fundos – por exemplo, o Fundo Simples (baixíssimo risco com a maior parte da sua carteira investida em títulos da dívida federal ou títulos emitidos por grandes bancos).
O novo fundo desburocratizará as movimentações, facilitando a vida de todos os investidores ao dispensar a exigência da assinatura do termo de adesão e retirando este veículo da verificação de adequação do investimento ao perfil do investidor (suitability).
Tipo de risco e gestão e estratégia
No segundo nível, a categorização é por tipo de gestão e risco, se as classes serão indexadas, por ativos ou até em investimentos no exterior.
Por último fica a subcategoria que separará por estratégia, adicionando termos como: soberano, macro, dividendos, entre outros.
Funil de informações
A lógica para o processo de escolha do investidor deverá agora seguir um “funil” de decisões por etapas. Vamos a um exemplo: na primeira categoria escolhe-se a classe – digamos que a escolha seja “Ações”. Na sequência, a opção é por qual estratégia seguir. Buscando uma estratégia de gestão que visa superar seu índice de referência, a escolha será “Ativo”. No último nível, se pensarmos que o investidor está em busca de retorno das ações de empresas que tem histórico de bons pagamentos de dividendos, a escolha é “Dividendos”. Neste funil, a nomeação é Fundo de Ações Ativo Dividendos.
Etapas de decisão
Em suma, a nova classificação é uma concatenação em 3 camadas que pode ajudar o investidor a ter um guia de uma decisão em etapas. Busca refletir a lógica do processo de investimentos, pensando em objetivo do investimento, prazo e risco que o investidor está disposto a correr em função do retorno que quer obter. Veja aqui mais informações e a tabela da nova classificação: https://www.arenadopavini.com.br/artigos/fundos-renda-fixa/anbima-lanca-nova-classificacao-de-fundos-mudancas-valem-partir-de-julho
O médico e o gestor
Infelizmente, com a complexidade do mercado financeiro, o processo de simplificação não é nada fácil. Podemos fazer o seguinte paralelo: assim como o médico tem a obrigação de fazer um completo diagnóstico do paciente antes de receitar a medicação e o tratamento adequados, também o planejador financeiro (e de forma mais abrangente os profissionais da indústria financeira) deve seguir um processo semelhante, de análise da situação pessoal/familiar e patrimonial do indivíduo antes de recomendar produtos e serviços adequados.
Apoio dos profissionais do mercado
Para que não fique na facilitação apenas do novo Fundo Simples, essa novidade deverá ser sempre apoiada por mais informação aos investidores e constante capacitação do profissional do mercado. Dessa forma, o distribuidor deve se aproximar do consumidor final, auxiliando no processo de educação e orientação na lógica de entendimento e na clareza dos fatores de risco e estratégias – mas isso não é nada simples!
Eduardo Forestieri, CFP é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Email: [email protected].
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