Arena Especial, Artigo

Hora de apertar os cintos, investir em renda fixa e aguardar a queda dos preços dos ativos

Tenho um pessimismo estrutural com a economia brasileira. Os problemas de gestão que tivemos terão consequências muito importantes no curto e médio prazos. Claramente temos um quadro de deterioração da atividade econômica com tendência a forte retração. O modelo de consumo elevado puxado por crédito, por baixa alavancagem das famílias, pelo crescimento de emprego e renda, pelos estímulos fiscais, pelos gastos do governo e, agora percebemos, pelo pesadíssimo e discutível programa de investimentos de empresa públicas, como a Petrobrás, parece ter se esgotado.

Sempre tive muita dificuldade em compreender os altos preços no Brasil. Viajei muito pelo país, especialmente quando meus filhos eram pequenos. Fui para a Amazônia, para o Nordeste, para o Sul, em diversos estados. Quando fui pela primeira vez aos Estados Unidos, na década de 90, fiquei maravilhado com a qualidade das estradas, com a segurança, o baixo preço das coisas. Decidi não mais viajar pelo Brasil a turismo. Até porque, para ficar num hotel qualquer, saía mais caro aqui, com serviço em geral não dos melhores, com preços mais altos, etc. Foi uma opção que fiz.

Com o passar do tempo, percebi algo curioso, que não tinha uma única peça comprada no Brasil: camiseta, blusa, bermuda, terno, calça, camisa, jeans, meia, cueca, suéter, casaco, cachecol, cinto, tênis, relógio, óculos, bolsa, carteira, etc., etc., etc. Sem falar nos eletrônicos, laptop, câmeras fotográficas, telefones celulares, DVD ou BlueRay players, CDs e inúmeros artigos de cozinha. Uma coisa que sempre me chamava a atenção eram os preços dos automóveis, televisores, geladeiras, sofás, camas, internet, tv a cabo, gasolina, etc. ,etc. É tudo mais barato que no Brasil! Nos últimos anos comecei a dar atenção aos preços de imóveis, pois tenho amigos que residem lá. Chama fortemente a atenção. Você pode comprar uma casa praticamente em qualquer lugar dos Estados Unidos, de bom padrão, por um terço do preço de casas equivalentes no Brasil.

Há pouco estive na Florida em férias. Tentei justificar para um americano, que percebia um altíssimo poder de compra de brasileiros por lá, o que acontecia no Brasil? Éramos um país de ricos? Como tínhamos tanta capacidade de consumo? Confesso que tive enorme dificuldade para explicar. Afinal, não estamos gerando riqueza por inovação tecnológica, por alta rentabilidade do setor agrícola, por produtividade ou forte geração de lucros de setores da economia, por lucros advindos do empreendedorismo ou efeito riqueza de ganhos em bolsa, pecuária, etc. Ou seja, é muito difícil explicar. Tenho a impressão que há muita geração de demanda advinda de dinheiro de esquemas diversos no Brasil ( vide operação Lava Jato).

Cada vez mais acredito que teremos um ajuste para baixo nos preços no Brasil. Não há renda para sustentar o nível de preço que temos. A economia está vindo para baixo e irá afetar inúmeros segmentos.

Nesses tempos difíceis, será muito importante estar atento às condições financeiras em geral, visando não prejudicar o planejamento do futuro. Não correr riscos com investimentos é uma forte recomendação. Investir em renda fixa conservadora é o mais indicado. É hora de apertar os cintos!

Fernando Meibak foi diretor dos bancos Citibank e HSBC e hoje é sócio da Moneyplan Consultoria. E-mail [email protected]

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