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Por “cautela”, analistas sugerem distância das ações da Petrobras mesmo após queda de 11%

Depois da publicação hoje do balanço do terceiro trimestre de 2014 da Petrobras, que ignorou as perdas da companhia com o escândalo de corrupção deflagrado pela Operação Lava Jato, os analistas ficaram receosos em recomendar a compra dos papéis da empresa, principalmente no curto prazo. Isso apesar das fortes quedas das ações hoje, de 11,2% no papel preferencial (PN, sem voto) para R$ 9,03, e de 10,5% do ordinário (ON, com voto), para R$ 8,63.

Na avaliação da corretora Concórdia, as baixas contábeis que eram esperadas pelo mercado, que iam de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões, seriam até positivas perto do quadro de insegurança que se instala agora entre os investidores. Segundo relatório da casa, a opção da empresa de não garantir a transparência das demonstrações contábeis aponta também para uma decisão de “não realização de ajustes”, o que aumenta as incertezas e o risco do papel.

A partir disso, a Concórdia prevê cortes de investimentos na petroleira de 13% a 17% e evita a recomendação de alocação em ativos do grupo no curto prazo. De acordo com o texto enviado aos clientes, a corretora mantém uma posição de “cautela” diante da possibilidade de a estatal encontrar dificuldades na apresentação do balanço auditado dentro dos prazos exigidos pelos órgãos reguladores.

Na análise da Guide Investimentos, o momento agora é de manutenção para quem tem a ação e também de espera para quem quer comprar o ativo. O estrategista Luis Gustavo Pereira lembra que o papel já está sofrendo uma forte desvalorização, mas que a situação pode piorar. “Por enquanto, a volatilidade da ação é muito alta, o que não configura um momento ideal para a compra”, diz. Entrar na ação agora seria uma opção no momento apenas para os investidores de muito sangue frio, que estão dispostos a correr riscos mais altos.

Impacto de R$ 50 bi a R$ 60 bi

Para os investidores mais ansiosos em aproveitar a queda das ações, Pereira lembra que outros eventos envolvendo a Petrobras ainda devem ajudar na compreensão sobre os reais prejuízos que a empresa terá com o escândalo. São eles: a teleconferência da companhia marcada para amanhã a respeito da metologia usada no balanço do 3º trimestre e as demonstrações contábeis referentes ao ano passado, ainda sem previsão. O potencial impacto negativo esperado pela Guide nas contas da empresa é de 3% do valor de cada contrato superfaturado, algo em torno de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões.

Ruim mesmo sem as baixas

O economista-chefe da corretora TOV, Pedro Paulo Silveira, considera que os dados da Petrobras são ruins mesmo sem a apresentação das baixas com os desvios. Para ele, o resultado trimestral divulgado foi puxado para cima por conta de um recolhimento maior de impostos como o PIS/Cofins, em um total de R$ 820 milhões, além de algumas depreciações terem sido revistas, o que garantiu uma alta de R$ 1,6 bilhão. A companhia informou lucro líquido de R$ 3,08 bilhões no período.

Silveira aponta que, mesmo com o aumento da produção de petróleo e gás (+5,6%), com maiores exportações (185 mil bpd) e maior produção de derivados (24 mil bpd), a empresa perdeu na comparação com o segundo trimestre (-37%). Sua geração de caixa livre, o Ebtida, também foi 27,7% menor em relação ao trimestre anterior, para R$ 11,7 bilhões. Dados que levariam a um corte de nota na classificação de risco da estatal.

O economista sugere que “se os ativos em reavaliação por causa da Lava Jato são da ordem de R$ 188 bilhões e as comissões (dos corruptos) variavam entre 5% e 15%, as perdas podem ir de R$ 9,4 bilhões a R$ 28,2 bilhões”. Silveira diz que as informações “devem em credibilidade”.

Já a corretora do Itaú Unibanco já esperava uma reação negativa do mercado frente a exclusão das perdas reais da Petrobras com corrupção no balanço, além de destacar um corte de investimentos previsto de 10%. A meta de crescimento da companhia também caiu para 4,5%, ante estimativa da corretora de 8,8% neste ano. Pioram a posição da empresa brasileira as perdas com a construção das refinarias Premium I e Premium II, o que poderia significar o adiamento de projetos, e despesas com depreciação de equipamentos. O Itaú trabalha com preço justo para o papel da estatal de R$ 16,50.

 

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