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Café na Arena: sustentabilidade tem de ir além da ecologia e do marketing, diz consultor

Sustentabilidade não é só cuidar de passarinho ou fazer um belo relatório de fim de ano com criança empinando pipa na capa que ninguém consegue entender. É um assunto que passa pela própria sobrevivência de longo prazo das empresas e vai cada vez mais ganhar importância para o investidor em ações. A avaliação é de Marco Antonio Fujihara, especialista em sustentabilidade e sócio da Key Associados. Fujihara foi consultor de várias empresas e do Banco Mundial, diretor de Recursos Renováveis do Ibama, além de assessorar o Fundo Brasil Sustentabilidade, do BNDES.

Para Fujihara, os brasileiros ainda têm uma noção muito atrasada de sustentabilidade, confundindo-a com defesa do meio ambiente.Mas ela é muito mais que isso, é sinônimo de perenidade, explica. E não dá para um investidor apostar em uma empresa que não se diga perene ou não busque a perenidade ao longo do tempo, fator que passa também pelo respeito ao meio ambiente, mas avança para o respeito à sociedade e aos acionistas. O especialista observa, porém, que, no mercado de capitais brasileiro, as empresas tem se acomodado muito nessa situação de sustentabilidade como “greenwashing” (ou “banho verde”), buscando mais o marketing do que tomando medidas efetivamente sustentáveis em sua atividade.

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Mesmo assim, a sustentabilidade tem avançado no mercado de capitais, principalmente quando as empresas percebem que ela pode ser um diferencial comparativo num primeiro momento e competitivo em um segundo. Ele cita as indústrias de base florestal ou que trabalham com recursos naturais como exemplo. É até lógico, diz o consultor, uma vez que se uma mineradora não conseguir mostrar para o acionista que ela está destruindo uma montanha e não está fazendo outras coisas boas, dificilmente manterá o valor de suas ações.

O que acontece é que os investidores institucionais estão hoje trabalhando melhor essa questão da sustentabilidade do que os de varejo, explica Fujihara. E, para os fundos de pensão, que têm compromissos a longuíssimo prazo, a perenidade das empresas se torna um fator muito importante e um diferencial competitivo entre as empresas com ações em bolsa. No exterior, esse movimento é ainda mais forte e os investidores estão exigindo isso.

O impacto da sustentabilidade nos resultados das empresas também será melhor compreendido pelos investidores individuais quando entrarem em vigor no Brasil os padrões contábeis internacionais exigidos pelo IFRS, afirma Fujihara. Por esses padrões, as empresas terão de informar no mesmo relatório das demonstrações contábeis as informações relativas à sustentabilidade. Hoje, essas informações saem em relatórios separados, o que dificulta o entendimento de sua importância para os leigos. Dessa forma, ficará mais claro para o investidor o impacto das práticas sustentáveis no valor de seu investimento.

Um problema é que muitas empresas veem a sustentabilidade como uma questão de curto prazo, o que não é a forma correta, diz Fujihara. E aí reclamam do atraso dos projetos por conta do licenciamento ambiental em vez de analisar o impacto desse licenciamento na perenidade da própria empresa.

Outro fator que deve incentivar as empresas a dar mais atenção à sustentabilidade é a exigência do Banco Central (BC) de que os bancos passarão a se responsabilizar pelas atitudes sustentáveis das empresas para quem emprestam. Hoje, os bancos olham mais para esses fatores como um risco socioambiental. Mas o ideal, afirma Fujihara, é que os bancos tratem a questão não como um risco, mas uma oportunidade, já que há muitos investidores que dão preferência a papéis de empresas sustentáveis e oferecem recursos mais baratos e de prazo mais longo para elas.

Um exemplo é o sucesso dos bônus verdes (“green bonds”) no mercado europeu. Esses bônus passam pela aprovação de várias organizações certificadoras ligadas à sustentabilidade que comprovam que o projeto que financiam é perene e de longo prazo. Essas organizações funcionam como agências de rating de sustentabilidade, e seu aval cria um diferencial importante para o emissor buscar recursos no mercado. Fujihara lembra que a Brasil Foods fez uma emissão de bônus verdes, mas o país teria um espaço ainda maior para aproveitar oportunidades desse tipo.  Principalmente porque os custos das captações devem aumentar nos próximos anos com a alta dos juros americanos.

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