O Índice Bovespa fechou em queda hoje, de 0,70%, aos 52.149 pontos, o segundo pregão seguido de baixa e a menor pontuação do índice desde os 51.150 de 31 de março deste ano. O volume negociado continua baixa, com R$ 5,374 bilhões, ante uma média no ano de R$ 6,835 bilhões e de R$ 6,343 bilhões em junho.
O baixo volume e a queda do Ibovespa mostram a preocupação dos investidores com a piora do cenário externo por conta da Grécia e interno com o enfraquecimento do governo da presidente Dilma Rousseff por conta das denúncias da Operação Lava Jato e do risco de reprovação das pedaladas fiscais no mandato anterior pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em meio a tantas dúvidas, os investidores preferem não fazer nada, ficar fora aguardando os desdobramentos das crises, diz um operador de uma corretora.
Bancos, Petrobras e Vale em queda
O índice foi puxado para baixo hoje pelos bancos, que têm forte peso no Ibovespa, quase 25%. As ações preferenciais (PN, com voto) do Itaú Unibanco, maior peso individual do índice, caíram 1,71%, enquanto as PN do Bradesco recuaram 1,82%. As ordinárias (ON, com voto) do Banco do Brasil foram na contramão e subiram 0,76%, enquanto as ON do Bradesco perderam 1,94%.
Outra empresa com impacto negativo no Ibovespa foi Petrobras, acompanhando a forte queda do petróleo no exterior. A ação ON da estatal caiu 0,77% e a PN, 2,13%. Vale também recuou, 0,17% o papel ON e 1,71% o PN, também acompanhando a baixa do minério de ferro.
Maiores altas e baixas
As maiores altas do Índice Bovespa foram das PNA da Usiminas, com 3,72% de ganho, seguidas das ON da Qualicorp, com 3,49%. A empresa de planos de saúde anunciou hoje uma redução de capital que fará cada acionista receber R$ 145,81 por lote de ações. O papel já vinha subindo há alguns dias, antes do anúncio da boa notícia, acumulando ganho de 12,89% apenas nos primeiros quatro pregões desde mês. Outra alta foi de Braskem PNA, com 3,22%, Eletrobrás PNB, com 2,94% e Marfrig ON, com 2,63%.
As maiores quedas do Ibovespa foram de Copel PNB, com perda de 3,62%, Cosan ON, com -3,32%, Suzano Papel PNA, com -2,79%, Gol PN, com -2,69% e Fibria ON, com 2,57%.
Crise política
Os investidores repercutiram hoje as novas denúncias feitas pelas revistas no fim de semana envolvendo as campanhas da presidente Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A revista Veja trouxe detalhes dos depósitos feitos pelo ex-presidente da empreiteira UTC Ricardo Pessoa, não só para as campanhas, como para ministros do governo e figuras importantes do Partido dos Trabalhadores, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto e o ex-ministro José Dirceu.
Tucanos em alerta
A convenção do PSDB no fim de semana, que reelegeu o senador Aécio Neves como presidente do partido, reforçou a oposição ao governo Dilma com novos ataques e duras críticas. Mas os líderes tucanos evitaram defender abertamente o impeachment, colocando-se porém como alternativa para uma aliança com o PMDB caso o vice Michel Temer assuma ou para o caso de novas eleições se o Tribunal Superior Eleitoral considere que houve crime eleitoral nas doações da UTC.
PMDB, Cunha em guerra
Já o PMDB, aliado do governo, segue rebelado após as críticas do PT ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelas manobras para aprovar a emenda da maioridade penal. Cunha defende abertamente o rompimento do partido e a saída de Temer da articulação política, o que enfraqueceria ainda mais a presidente Dilma e facilitaria o andamento de um processo de impeachment no Congresso. Temer negou a saída, mas deu uma resposta dúbia ao afirmar que continuaria na articulação política mesmo sem a indicação oficial de Dilma. Nesse ambiente, a discussão do que falta do já capenga ajuste fiscal proposto pelo governo fica em segundo plano, aumentando o risco do país.
Bolsas da Europa em queda
Na zona do euro, para complicar um pouco mais a situação, após a vitória do ‘não’ às condições exigidas pelos credores no referendo grego, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, pediu demissão. Em seu lugar, assumiu hoje a pasta o então ministro do Exterior do país, Euclid Tsakalotos, que já vinha comandando as negociações na prática. A saída do linha dura Varoufakis foi uma tentativa de suavizar a relação com os credores europeus em um momento em que a Grécia corre contra o tempo para salvar seu sistema financeiro e a economia do país. O Stoxx 50, dos 50 papéis mais líquidos do bloco, teve baixa de 2,22%. O britânico Financial Times perdeu 0,76%, seguido pelo francês CAC, 2,01%, e o alemão DAX, 1,52%.
Saques gregos garantidos até quarta
Hoje, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que manterá o teto da Linha de Liquidez de Emergência (ELA) aos bancos gregos no mesmo nível decidido em 26 de julho, data em que a realização do referendo na Grécia foi anunciada. Ainda assim, o BCE informou que deverá reavaliar essa decisão nesta quarta-feira. Para o Deutsche Bank, com o resultado da votação grega, houve um aumento substancial das chances para o chamado ‘Grexit’, a saída da Grécia da zona do euro.
Petróleo despenca e perde 7%
Enquanto o mercado americano marcou leves perdas, com o Dow Jones caindo 0,26%, assim como o Standard & Poor’s 500, 0,39%, e o índice da Nasdaq, 0,34%, os preços das commodities despencaram. Só o barril de petróleo WTI, negociado em Nova York, caiu 7,27%, para US$ 52,79, seguido pela commodity do tipo Brent, de Londres, com recuo de 5,82%, para US$ 56,81. O movimento de baixa refletiu, além das incertezas sobre o futuro da Grécia, os problemas nas negociações do acordo nuclear entre os Estados Unidos e o Irã.
Dólar, Juros e Poupança
No Brasil, o dólar comercial teve avanço discreto de 0,03%, sendo vendido por R$ 3,14, seguido pelo dólar turismo, com alta de 0,29%, para R$ 3,35 na venda. No mercado de juros DI futuros, as taxas dos contratos com vencimento no início de 2016 passaram de 14,14% pata 14,16% ao ano. Para 2017, as projeções subiram de 13,73% para 13,74%. No longo prazo, os acordos válidos até janeiro de 2021 registraram taxas de 12,66%, ante 12,58% da semana passada. O mercado reviu para cima a estimativa para a inflação oficial deste ano, de 9% para 9,04%, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC). A expectativa é com o IPCA de junho, que sai na quarta-feira e deve vir pressionado, o que deve levar o BC a subir os juros para 14,5% até o fim do ano, segundo o Focus.
Com juros mais altos, os investidores estão trocando as cadernetas de poupança por outras aplicações. Em junho, R$ 6,2 bilhões foram resgatados da poupança pelos brasileiros, informou o Banco Central (BC). O resgate é quase o dobro do registrado em maio, quando foram sacados liquidamente R$ 3,2 bilhões. No ano, a perda é de R$ 38,5 bilhões, o maior volume de saques da história da caderneta.