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Bolsa da China: bolha estoura e mercado perde um México em duas semanas

O estouro da bolha da bolsa de valores chinesa, iniciado há duas semanas, quando o governo apertou o cerco às corretoras que financiavam os investidores, voltou a assustar os mercados hoje com a queda de 7,4% do Índice da Bolsa de Xangai. O índice chegou a subir 60% este ano, mas já perdeu 19% em relação ao pico de 12 de junho, o que equivale à pulverização de US$ 1,25 trilhão no valor de mercado das companhias que formam o referencial. Ou seja, em 14 dias, a bolsa chinesa perdeu o equivalente a um México, observa o jornal The Wall Street.

70 milhões de investidores

Ainda assim, o índice acumula alta de 30% neste ano e de 106% em 12 meses. Uma performance muito distante dos 13% de alta no ano do índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, um mercado bem mais aberto e menos sujeito aos humores do governo chinês. Recentemente, o governo chinês permitiu que estrangeiros operassem em Xangai por meio de Hong Kong, mas ainda com muitas restrições. Portanto, o grosso das operações segue com as pessoas físicas, ou seja, com 70 milhões de chineses.

Outros dois índices estariam agora indicando tendência de baixa para  mercado, após perderem mais de 20% em relação ao pico: o Shenzen Composto, da Bolsa de Shenzen, que caiu 7,9% hoje, e o ChiNext Price Index, que recuou 8,9%. Ambos caem 20% e 27% em relação aos picos de 12 de junho e 3 de junho, respectivamente.

MSCI adia índice chinês

O inferno astral da bolsa chinesa foi reforçado pela decisão da MSCI Inc. de não criar um índice regional, como ocorre em quase todos os demais mercados acionários do mundo. Os investidores internacionais usam os índices regionais do MSCI como referência dos principais papéis de determinado país ou região. Um MSCI China abriria as portas do mercado para os fundos de índices (ETF, com cotas negociadas em bolsa) americanos e europeus lançarem carteiras com esse referencial, aumentando os investimentos estrangeiros no mercado chinês.

Margens de garantia

A alta da bolsa chinesa reúne os elementos básicos de uma bolha, com o governo permitindo aos investidores se endividarem para comprar ações usando as chamadas margens de garantia. Ao mesmo tempo em que não restringia essas operações de crédito, que chegam a dezenas de bilhões de dólares, o governo reduziu os juros três vezes desde novembro para estimular a economia, incentivando ainda mais a especulação com ações.

Mais 33 milhões de contas em cinco meses

Além disso, com juros em baixa e a economia cada vez mais desaquecida, a alta das ações atraiu ainda mais os investidores atrás de retorno rápido.  Assim, entre janeiro e maio, 33 milhões de novas contas de investidores em bolsa foram abertas nas corretoras chinesas, seis vezes mais o que os 5 milhões que a nossa Bovespa estimava atingir em cinco anos.

Mas, como o que é bom não dura para sempre, o Banco Popular da China acabou com a festa ao cortar as linhas de curto prazo dos bancos em US$ 48,3 bilhões na semana passada elevando compulsórios sobre depósitos. Foi o que detonou o início do estouro da bolha.

Não interessa, porém, ao governo chinês que seu mercado de ações despenque, o que poderia provocar pânico entre os investidores e levar a uma desaceleração maior da economia. Por isso, o governo chinês voltou atrás em algumas medidas, injetando novamente dinheiro nos bancos e propondo a redução de compulsórios.

Círculo vicioso

Mesmo assim, o mercado segue altamente alavancado e deve continuar sofrendo. O total de margens da garantia emprestadas aos investidores equivale a 8,5% do valor de todas as ações negociadas na bolsa chinesa, o dobro do percentual que havia em Taiwan antes do estouro da bolha de 1990, segundo dados da consultoria Macquarie Group.

E, a cada nova queda da bolsa, cai também o valor das ações dadas em garantia dessas margens, o que obriga os investidores a colocarem mais dinheiro nas corretoras ou diminuírem suas posições, vendendo ações, e realimentando o processo de queda.

Um sinal desse processo é que as empresas mais usadas como garantia de margens são as com maiores perdas. A China First Heavy Industries, por exemplo, caiu 30%, acompanhando uma retração de 40% no volume de margens usado para sua compra.

Preço lucro de 650 vezes

Outro sinal da bolha são os preços das ações das empresas, muito acima de seus ganhos potenciais. É o caso da Beijing Baofeng Technology, fabricante de videogames online, negociada na Bolsa de Shenzen com um preço equivalente a 650 vezes seu lucro dos últimos 12 meses. A ação subiu 3.200% desde sua oferta pública em março.

A expectativa agora é como o governo chinês vai permitir que a bolha das ações murche, sem voltar a alimentá-la retomando os subsídios e o crédito fácil.

 

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