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Presidente do Bradesco espera pico da inadimplência no 4º tri e melhora no fim de 2017

A inadimplência no crédito deve continuar subindo, atingindo seu pico no último trimestre deste ano e começando a se estabilizar no ano que vem, avalia o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Ele falou durante a apresentação dos resultados do banco do terceiro trimestre. Para Trabuco, o país está no início de um novo ciclo econômico. “Estamos saindo de um dos períodos mais duros da economia brasileira, que fez o PIB ter uma queda muito forte, de quase 7%, e a renda do trabalhador cair 14%, o que tem impacto no crédito”, disse.

 

Segundo o presidente do segundo maior banco privado do país, todos esses impactos aconteceram em um ambiente de queda no crédito, o que tende a amplificar os desafios da gestão da indústria bancaria no Brasil. “Mas os indicadores serão bons à medida que avançarmos em 2017”, acredita. A mudança na economia brasileira, a perspectiva de um PIB melhor, a queda na inflação, nos juros e o avanço do ajuste fiscal abrem a possibilidade de o país recuperar os indicadores de confiança para voltar a investir, afirmou. “E o negócio bancário vai se sobressair a partir de 2017 quando houver demanda de crédito para atender a retomar a capacidade ociosa da economia”, acrescentou.

 

Trabuco fez os comentários para explicar a queda na carteira de crédito do banco e da rentabilidade. O Bradesco reviu a previsão (guidance) para este ano para o crédito, de uma queda de zero a 4% para uma queda de 3% a 7%, já considerando a incorporação do HSBC.

 

Luiz Carlos Angelotti, vice-presidente do Bradesco, diz que o mercado espera um crescimento do crédito em geral de 5% no próximo ano. “E devemos ter um crescimento próximo do que vai crescer o sistema”, disse. Sobre os spreads (diferença entre o custo de captação e a taxa dos empréstimos) ainda há o efeito da inadimplência alta, mas a tendência futura dos atrasos é de estabilização e possível queda, mais para o fim de 2017 e início 2018. “E os spreads acompanham a inadimplência”, explica. Outro efeito deve ser a melhora da carteira também porque muitos clientes bons que não estão tomando empréstimos hoje por conta dos spreads e dos juros mais altos vão voltar a tomar crédito e isso deve jogar mais para baixo a taxa de inadimplência ao ampliar a carteira de crédito.

 

Trabuco lembra, por sua vez, que o início do ciclo de corte do juro básico, o afrouxamento monetário, está embasado em dados de verificação empírica, como o controle da inflação e sua queda para perto da meta, de 4,5% no ano que vem. “E tudo isso vai contribuir para o ajuste do nível de endividamento das pessoas e das empresas”, disse. “Quando começa um ciclo desses, ele acaba batendo na revisão dos spreads”, afirmou. Ele observou também que a economia está passando por um processo de revisão forte das empresas, de sua capacidade ociosa, e um ciclo de afrouxamento dos juros tende a bater na confiança dos empresários e consumidores e na economia em geral.

 

Angelotti observou que o aumento da inadimplência das pessoas físicas no trimestre passado pode ter sido causado pela greve dos bancários, principalmente em lugares em que os devedores não conseguiram pagar os boletos nas agências. “Mas esperamos que o pico dos atrasos seja agora neste trimestre e depois teremos uma razoável estabilização em 2017”, diz.

 

Trabuco falou também da eleição do republicano Donald Trump e suas promessas polêmicas de fechar a economia dos EUA. Para o presidente do Bradesco, a eleição do republicano mostra que a democracia americana continua funcionando, mas que, uma vez empossado, ele terá todas as variáveis para implementar suas crenças, “mas levando em conta a realidade do mundo”, destacou. Os mercados foram muito claros, observou Trabuco, com a reação forte no início, e depois houve um refluxo e um certo controle com as primeiras declarações do novo presidente. “Toda transição política, de mudança de governante, traz um nível de ansiedade, mas os fatos são soberanos e se sobrepõem a idéias, principalmente num mundo globalizado”, resumiu Trabuco.

 

Ele observou que os desafios internos do Brasil são muito maiores, como por exemplo a necessidade de criar um teto para os gastos públicos para mudar a trajetória da dívida do governo. Essa aprovação vai definir a conjuntura econômica do país nos próximos meses, afirmou. “A chave está pendurada na nossa porta”, diz.

 

Sobre o interesse do Bradesco no Banco Postal, dos Correios, Trabuco afirmou que o Bradesco já formou uma rede de franquias e distribuição que está presente em 100% dos municípios do país. “E isso nos basta, por isso, o Banco Postal não faz sentido”, afirmou, acrescentando que mesmo assim o banco está consultando os editais, para “melhorar nossa curva de aprendizado” desses processos.

 

Sobre os resultados, Angelotti destacou o impacto da fusão com o HSBC, que acabou por aumentar o provisionamento e reduzir o lucro do banco. “Tivemos um impacto de R$ 772 milhões relativos ao chamado arresto, que são operações de clientes que estavam em dia no Bradesco, mas não no HSBC, e tivemos de reclassificar e provisionar”, explicou. Além disso, o banco incorporou parte do ágio de R$ 9,5 bilhões da compra do HSBC. No terceiro trimestre, foram R$ 235 milhões. O índice de Basileia do banco, que mostra a relação do patrimônio com o total e ativos ponderados pelo risco, caiu para 11,9%, uma queda de 1,8 ponto, pela aquisição do HSBC. “Estamos confortáveis com esse nível, é suficiente, e vamos recuperar o nível de 14% nos próximos anos com os lucros acumulados”, explicou.

 

Trabuco destacou o lucro contábil, sem ajustes, no trimestre, de R$ 3,2 bilhões, 21,7% menor que no ano passado, e nos 9 meses do ano, de R$ 11,4 bilhões. Independentemente da queda, segundo o executivo, o resultado foi extremamente positivo, levando em conta que “estamos em um período de transição, com eventos extraordinários, com uma Provisão para Devedores Duvidosos maior e um arresto (padronização dos inadimplentes) do HSBC”, disse.

 

Segundo Trabuco, o balanço do trimestre passado é importante porque incorpora o HSBC. “O resultado do terceiro trimestre é um rito de passagem, é um balanço de transição porque tivemos três eventos importantes”, disse. Esses ajustes incluem as diferenças entre Bradesco e HSBC, o crescimento das despesas operacionais para a consolidação das duas casas, que será mitigado pelos ganhos de sinergia. Houve a queda do índice de Basileia pela provisão maior e pelo uso de recursos próprios do Bradesco para a aquisição do HSBC. “Não houve aumento de capital”, lembrou. E houve o crescimento das provisões pelo acréscimo da carteira de crédito do HSBC à do Bradesco. “Isso explica a queda do lucro”, disse.

 

“O que temos pela frente é um enredo de desafios corporativos e um cenário de melhora gradual das condições econômicas do país”, afirmou. “É um processo que se completa no próximo ano, das sinergias do banco com o HSBC”, disse. Ele lembrou que a integração efetiva do HSBC só começou em outubro. “Faz um mês que os sistemas e a gestão estão integradas, por isso, ficam mais pronunciados os impactos contáveis, como a inadimplência”, disse. Trabuco afirma também que o negócio bancário só vai se sobressair a partir de 2017 quando houver demanda de crédito para retomar a capacidade ociosa da economia. “Aí voltaremos à normalidade do negócio bancário básico, de concessão de crédito, de confiança nos investidores, e retomaremos as linhas de capital de giro, que foram as que mais caíram, pois com capacidade ociosa, as empresas não precisam de capital de giro.”

 

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