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Valor de mercado da Eletrobrás sobe R$ 9 bi em um dia; venda renderá menos de R$ 20 bi, avalia banco

A disparada das ações da Eletrobrás na bolsa B3 hoje fez o valor de mercado da holding estatal do setor elétrico brasileiro ganhar R$ 9 bilhões em valor de mercado. O papel ordinário (ON, com vot0), que é também o menos líquido, fechou em alta de 49,30%, enquanto o preferencial série B (PNB, sem voto) da Eletrobrás ganhou 32,08%. Um resultado muito bom, mas incapaz de zerar as perdas dos papéis no ano, de 7,06% e 1,76%, respectivamente.

Com a alta das ações, o valor de mercado da Eletrobrás subiu de R$ 20,171 bilhões ontem para R$ 29,3 bilhões hoje, segundo dados da Economática. Ou seja, um aumento de 45%.

A operação agradou o mercado, que vê na operação uma forma de melhorar a sofrível gestão da Eletrobrás e reduzir seu uso pelo governo, como ocorreu durante a gestão de Dilma Rousseff. Nas contas do mercado, uma redução de participação do governo de 69% para 47% do capital votante seria suficiente para levantar R$ 20 bilhões, uma ajuda providencial para reduzir o déficit público do próximo ano.

Ganho com venda não chega a R$ 20 bi

Mas, para o BTG Pactual, esse valor de R$ 20 bilhões seria claramente inatingível em uma oferta secundária, de ações já existentes. Isso porque, a preços atuais, a participação do governo seria de R$ 11,6 bilhões e a redução de um terço equivaleria a R$ 3,7 bilhões. O cenário em que o governo conseguiria levantar R$ 20 bilhões seria um em que todas as medidas para tornar a Eletrobrás uma empresa eficiente, de capital privado e com melhor governança corporativa e menores custos, elevariam seu valor de mercado em 100%. Ou seja, dobrariam o valor da empresa.

Outro cenário seria o de a Eletrobrás levantar R$ 20 bilhões emitindo novas ações para pagar os débitos que têm com os bancos estatais. Caixa Econômica Federal e BNDES têm a receber da empresa R$ 18 bilhões a R$ 19 bilhões, estima do BTG. . Depois desse pagamento, os bancos estatais poderiam pagar dividendos para o Tesouro. Nesse caso, depois desse ajuste, a venda de ações do Tesouro renderia bem menos para o governo.

Ineficiente em quase tudo

Segundo o BTG, a Eletrobrás é ineficiente em quase tudo que faz. Ela controla as piores concessões de distribuição do Brasil, de acordo com a agência reguladora do setor, a Aneel, aceitou renegociar suas concessões em 2012 em termos pouco econômicos e costuma ter a menor margem sobre geração de caixa (medida pelo lucro antes de impostos, depreciação e amortização, Ebitda ou Lajida), em relação a outras grande operadoras, incluindo estatais, em suas unidades de transmissão e hidrelétricas, mesmo antes da Medida Provisória 579, do governo Dilma, que desorganizou o setor. “Privatizar a companhia é o empurrão que o país precisa”, diz o relatório do BTG, assinado pelos analistas Antonio Junqueira, João Pimentel e Gustavo Castro.

Estatal para quê?

Além dos problemas, o relatório lembra que o sistema elétrico é todo regulado e controlado pelo governo. No caso de uma hidrelétrica, a empresa precisa cumprir as regras estabelecidas pela Aneel. Ela está sujeita ainda a ter de devolver suas unidades quando a concessão expira. O crescimento do sistema também é planejado pelo governo e nenhuma nova usina pode ser instalada sem uma concorrência competitiva. “Com tudo isso, por que o governo precisa de uma empresa de energia estatal?” questiona o BTG, que responde: “é simples, ele não precisa”.

 

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