As denúncias feitas pela Polícia Federal (PF) na Operação Carne Fraca terão impacto forte na imagem das fabricantes de alimentos JBS e BR Foods, e em suas marcas Seara e Sadia e Perdigão. E não só no Brasil, mas também no exterior, onde as empresas têm forte presença. Justamente em um momento favorável para a BR Foods, devido às suspeitas de casos de gripe aviária nos Estados Unidos. Um impacto que deverá levar um bom tempo para ser superado.
A notícia da operação envolvendo os maiores fabricantes de derivados de carne repercutiu nas principais agências internacionais, como Bloomberg e The Wall Street Journal. Este último fez uma ironia afirmando que o país encontra corrupção embaixo de cada pedra que levanta.
É bem provável que as autoridades de países da Europa e Estados Unidos e países asiáticos iniciem processos de investigação sobre a qualidade dos produtos comprados do Brasil, até como forma de negociar vantagens comerciais. As denúncias colocam em dúvida os controles sanitários do país, que vão ter de ser revistos, incluindo as estruturas do Ministério da Agricultura relacionadas a esses controles, que se mostraram no mínimo falhas.
O pior estrago, porém, deve ser no consumo dos produtos das marcas, que devem sofrer com as denúncias de uso de carne estragada ou imprópria em seus produtos. E justamente no momento em que se espera uma recuperação no consumo interno por conta de sinais de melhora de emprego e da renda, ainda tímidos, mas que tendem a avançar, como mostrou o Caged ontem.
Isso sem contar os efeitos das denúncias de corrupção envolvendo as empresas e agentes públicos.
Não por acaso, os papéis das empresas despenca hoje na BM&FBovespa. A ação ordinária (ON, com voto) da JBS cai 9% e BR Foods ON 8%. A ação da BRF é a segunda mais negociada, perdendo apenas para Petrobras, o que mostra que não se trata de um movimento de venda isolado. No mesmo horário, o Índice Bovespa caía 2,23%.
Tony Ramos se explica
Até o garoto-propaganda da Friboi, o ator global Tony Ramos, falou sobre a operação Carne Fraca, lembrando que ele foi apenas contratado por uma agência de publicidade para fazer o papel, segundo o site Ego, do G1. Ele disse que visitou uma unidade da JBS e que continua consumindo carne da marca, mas acrescentou que iria procurar falar com a empresa para entender melhor o que aconteceu. “Eu espero que se apure a verdade, eles têm o direito das minhas imagens”, disse, acrescentando que “Não sei se faria novamente, se eles forem inocentados dos erros que estão sendo acusados, eu faria”, afirmou. “Eu vou checar essa informação imediatamente”, acrescentou.
Imagem muito afetada
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse hoje que a imagem do Brasil no estrangeiro vai ser muito afetada, de forma negativa, pelo resultado das investigações da Polícia Federal (PF) que culminaram na Operação Carne Fraca, deflagrada nesta quinta-feira. De acordo com a PF, os frigoríficos envolvidos no esquema criminoso colocavam ácido ascórbico em carnes vencidas e as reembalavam para venda nos mercados interno e externo.
Para Castro, a situação é preocupante, porque o Brasil demorou muito tempo para consolidar sua participação no mercado internacional e hoje é um dos grandes exportadores de carne. “Então, com isso, a imagem do país, vai ser muito afetada.”
Castro afirmou que, como a exportação de carne não é feita em bolsa de mercadorias, mas mercado físico (“oferta e demanda”), o país poderá enfrentar cancelamento de compra e redução de preços. Ele disse que o cenário só não será pior porque, nos Estados Unidos, maiores exportadores de carne de frango, apareceu mais um caso de gripe aviária. “Mas, infelizmente, vamos sentir o impacto negativo aqui.”
Emprego e US$ 12 bi em exportações
Segundo Castro, o Brasil exporta atualmente quase US$ 12 bilhões (o equivalente a quase R$ 40 bilhões) de carnes bovina, suína e de frango por ano. “É um setor que emprega muita gente. Os principais compradores da carne brasileira de frango são a Arábia Saudita, a China e o Japão, que são muito exigentes. Possivelmente, esses países vão cancelar os contratos ou pedir novos certificados.”
O presidente da AEB disse que, eventualmente, poderá haver repercussões em outros países, que podem entender que o Brasil perdeu credibilidade com a emissão de certificados. “É um cenário difícil”, afirmou Castro. Ele lamentou que, depois da notícia de ontem de que o Brasil aumentou, pela primeira vez nos últimos meses, o nível de emprego, ter essa notícia hoje “foi muito ruim”.
JBS e BF Foods negam falta de controles
Em comunicado, a JBS informou que “a JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas. A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos”.
A companhia diz ainda que “possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos” e que “repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos”.
Já a BR Foods informou que está colaborando com as autoridades para esclarecimento dos fatos. “A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas”. A empresa “assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua”.
Com informações da Agência Brasil.