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Santander: juro deve ficar em 6,75% até 2º tri de 2019; taxa real de 2% a 3% incentiva a economia

O Comitê de Política Monetária (Copom) indicou hoje em seu comunicado que encerrou o ciclo de corte de juros com a redução de hoje, de 0,25 ponto, com a taxa básica Selic passando de 7% ao ano para 6,75% ao ano, afirma Tatiana Pinheiro, economista do Santander. Segundo ela, a indicação deve acabar com as apostas do mercado de um novo corte de 0,25 ponto na próxima reunião e mexerá com as taxas de juros do mercado futuro. Segundo Tatiana, essa taxa é a menor em 60 anos, segundo levantamento feito pelo Santander, que inclui as distorções do período de hiperinflação e planos econômicos. “Mas podemos dizer com certeza que é a menor taxa desde a criação da Selic e do sistema de metas de inflação, em 1999.”

Surpresa foi anúncio do fim do ciclo

Ela explica que o corte de 0,25% de hoje já era esperado pelo mercado e que a novidade foi a indicação do Copom do fim do ciclo. “No fim do comunicado, o Comitê até deixa várias portas abertas, como em outros comunicados, mas o fato de dizer que neste momento o Copom achou que é melhor interromper o ciclo de redução mostra que a estratégia principal é encerrar o ciclo em 6,75%”, avalia.

Previdência poderia levar a novo corte

Para Tatiana, apenas um fator muito positivo poderia levar o Banco Central a reduzir mais ainda os juros, caso por exemplo da aprovação da reforma da Previdência. ” Acreditamos que o BC tem um cenário de inflação e atividade bastante benigno, que permite deixar os juros em 6,75% no ano inteiro e no começo de 2019, começando a elevar de novo os juros no segundo trimestre do ano que vem”, diz.

Juro de 8,5% no fim de 2019 e juro real de 3% a 4%

A taxa terminaria 2019 em 8,5%, o que significaria um juro real ou seja, acima da inflação, de 3% a 4% ao ano, que seria o juro “neutro”, nem muito baixo para incentivar o consumo e o crescimento, nem muito alto para segurar a atividade. Esse juro já considera a aprovação de uma reforma da Previdência em 2019, que permitiria um ajuste das contas públicas e uma redução do déficit atual. “O juro real neutro histórico do Brasil está em 5,7%, ou seja, haveria uma boa redução com a aprovação da reforma”, explica.

Juro hoje está em 2% a 3%, abaixo do “normal”

Segundo Tatiana, hoje, o juro real projetado para os próximos 12 meses está entre 2% e 3%, ou seja, bem abaixo do normal antigo e mesmo do novo normal, que considera a hipótese mais otimista, de aprovação das reformas. “Mesmo considerando a aprovação da reforma da Previdência, fundamental para o ajuste das contas públicas, o novo juro real brasileiro normal seria entre 3% e 4%, acima portanto do atual”, explica. “Não espero uma normalização este ano, essa vai ser uma discussão para 2019, 2020, até porque, se o país fizer as reformas e reduzir o problema fiscal, a taxa normal do país poderá ser menor”, diz.

Risco no cenário externo

Um fator de risco que poderia elevar os juros antes desse prazo seria uma mudança no cenário internacional, de crescimento das economias avançadas com inflação e juros baixos, o que provoca uma grande liquidez e a busca por ativos e mercados em países de maior risco. Segundo Tatiana, na avaliação do BC e dos agentes econômicos, porém, o cenário continua favorável, apesar do nervosismo que tomou conta dos mercados desde sexta-feira, após a divulgação de dados mais fortes de emprego nos Estados Unidos que podem indicar maior pressão sobre a inflação e sobre os juros dos EUA. “Esse cenário externo, com crescimento e taxa de juros baixa, é bastante favorável para emergentes”, diz Tatiana. “Se esse cenário mudar, vai afetar não só o Brasil, mas todos os emergentes e levaria o BC a elevar o juro antes.”

O BC até cita no comunicado a volatilidade recente nos mercados internacionais e a considerou nos debates, mas conclui que essa volatilidade não muda o cenário externo favorável. “Ele não viu como sendo significativo suficiente para mudar premissa principal”.

Projeção é que reforma da Previdência será aprovada

Um fator que poderia mexer com a trajetória dos juros seria a aprovação da reforma da Previdência ainda no começo deste ano, afirma Tatiana. Ela lembra que a intenção, do governo é votar até 28 de fevereiro o texto. Mas ela lembra que há outras coisas no calendário que também podem influenciar, como uma surpresa de inflação para baixo. “Ela deve ficar abaixo do esperado no ultimo relatório de inflação do BC neste primeiro trimestre, talvez em janeiro e fevereiro”, diz Tatiana. “Tem várias coisas no calendário, não só reforma da Previdência, que poderiam trazer a taxa neutra de juros do Brasil para baixo”, explica.

Se a reforma já tivesse sido aprovada, acrescenta Tatiana, o ciclo de corte dos juros poderia se estender mais, e a discussão estaria mais sólida sobre qual a taxa neutra após a reforma fiscal. “O grande gargalo fiscal é a Previdência, basta ver que o déficit fiscal de 1,7% do PIB do ano passado foi só da Previdência”, afirma. “Tesouro e Banco Central tiveram pequenos superávits.” Para a economista, se tivesse sido aprovada uma reforma significativa da Previdência, como foi a primeira proposta antes de maio do ano passado, já se estaria discutindo qual a taxa neutra para o Brasil e chegaria a conclusão que o juro poderia ser mais baixo.

Atividade fraca permite juro de 6,75% este ano

Mesmo sem a aprovação da Previdência agora, os juros podem ficar em 6,75% ao ano até o começo do ano que vem porque a economia ainda está fraca, explica Tatiana. O crescimento do país está abaixo do potencial, ou seja, do quanto ele poderia crescer sem provocar alta da inflação. “O juro real de 2% a 3% está muito abaixo até da hipótese mais otimista, de 3% a 4%, mas enquanto a recuperação da atividade estiver abaixo do potencial, ele pode ficar assim”, diz. Quando a atividade atingir o potencial, aí será preciso subir os juros para evitar a volta da inflação, o que Tatiana estima que ocorra no segundo trimestre do ano que vem. ” Acreditamos que a reforma da previdência vai ser aprovada no curto ou médio prazo, até 2019, e o Brasil vai trabalhar com juros reais mais baixos”, estima. “Mas hoje já estamos abaixo desse novo neutro”.

 

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