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Geração perdida: recessão prolongada prejudica mais os jovens com desemprego, mostra estudo

A recessão prolongada prejudica mais os jovens ao reduzir as chances de conseguirem um emprego ou continuarem pagando os estudos. Essa é a conclusão de um estudo do Departamento Econômico do Bradesco, divulgado hoje, que mostra que, ao longo dos últimos dois anos, a forte ascensão da taxa de desemprego se deveu em grande medida ao aumento da desocupação dos jovens. Nesse período, enquanto a taxa de desemprego total passou de 7,4% para 13,3%, a de jovens de 18 a 24 anos avançou de 16,5% para 27,7%.

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Os jovens constituem o grupo mais sujeito às influências negativas da recessão econômica, já que em um momento como esse aumenta a competição por vagas de trabalho, e os mais moços, sem experiência e com baixa escolaridade, acabam sendo prejudicados, afirma o estudo, assinado por Ana Maria Bonomi Barufi. Essa realidade não é exclusiva do Brasil e se verifica em diversos países, como mostram estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Quando os jovens ficam muito tempo sem conseguir emprego, podem ter suas carreiras prejudicadas no longo prazo, com efeitos sobre sua capacidade futura de obter posições com melhores salários. Além da maior dificuldade para encontrar emprego, de maneira geral os jovens estão mais sujeitos a empregos menos estáveis e a condições mais vulneráveis no mercado de trabalho. Desse modo, apresentam taxa mais elevada de emprego temporário, em tempo parcial ou informal.

Até o início de 2015, o número de jovens trabalhando ou procurando emprego (PEA) vinha caindo, mas com o aprofundamento da recessão, mais jovens voltaram a procurar emprego. Já o número de ocupados continuou declinando, com queda de 6,8% entre o 1º trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016.

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A deterioração da taxa de desemprego dos jovens com o prolongamento da recessão econômica foi acompanhada do aumento da informalidade e da taxa de subutilização da força de trabalho deste grupo etário, diz o Bradesco. Ambos indicadores sinalizam condições de trabalho menos favoráveis, apontando que mesmo jovens que estão empregados acabam aceitando posições menos estáveis ou em tempo parcial.

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Considerando as condições de estudo e de ocupação dos jovens, o Bradesco conclui que o grupo dos que não trabalham nem estudam (os chamados “nem – nem”) aumentou nos últimos três anos. “Tal situação é indesejável pois esse contingente está mais sujeito a ficar abaixo da linha de pobreza e sem a qualificação suficiente para melhorar sua situação econômica”, alerta o estudo.

Há também um aumento significativo dos jovens que estão desocupados e não estudam, um grupo diferente do “nem – nem” porque nesse caso o jovem está em busca de uma vaga e não consegue, por isso é considerado desocupado. Essa situação é um reflexo principalmente da queda da ocupação e a maior necessidade de que os jovens passem a buscar emprego em função da queda da renda familiar.

Nem-nem são 28% dos jovens até 24 anos

Os “nem-nem” têm participação de mais de 28% no total de jovens de 18 a 24 anos, percentual bastante elevado, principalmente tendo em vista que na OCDE esse grupo representava pouco mais de 16% dos jovens de 20 a 24 anos em 2015 (em 2010, estava ao redor de 18%).

Apenas para se ter uma base de comparação, os dados da OCDE mostram que o percentual de “nem-nem” entre homens de 20 a 24 anos na Espanha passou de 16,8% em 2008 para 26,6% em 2009 e 34,0% em 2013. Já nos EUA, esse mesmo indicador foi de 15,3% em 2008 para 19,3% em 2009 e 16,5% em 2011. Ou seja, a crise econômica afetou os jovens nesses mercados de maneira relevante.

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Nem-nem cresce mesmo com mais educação

A composição dos “nem-nem” por escolaridade indica que os jovens com nível médio completo e superior incompleto têm o maior peso no total (59%). Esse grupo ganhou participação ante 2014 (53%), em função da piora das condições de emprego ter sido mais intensa para esse tipo de qualificação. Também chama a atenção o aumento absoluto dos jovens “nem-nem” com ensino superior completo (de 145 mil no 1º trimestre de 2014 para 242 mil no 1º trimestre de 2017), o que sinaliza que mesmo com elevada qualificação, eles estão encontrando dificuldades para obter oportunidades no mercado de trabalho.

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A conclusão do banco é que os jovens têm sido mais afetados pelas condições adversas do mercado de trabalho, situação agravada pelo fato de que vem crescendo o grupo dos “nem-nem”. Ficar sem trabalho nem estudo pode ter consequências sobre as perspectivas futuras de emprego e da carreira desses jovens, com impactos sobre sua produtividade.

A retomada da economia deverá criar condições mais propícias para sua empregabilidade, ainda que, tradicionalmente, pessoas com maior experiência consigam se realocar antes, lembra o banco. De todo modo, se isso significar uma situação familiar mais tranquila, mais jovens poderão se dedicar apenas aos estudos, ampliando sua qualificação e garantindo melhor posicionamento no mercado de trabalho no futuro.

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