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Emissões de papéis isentos chegam a R$ 4 bi e são oportunidade de diversificação

O mercado está vivendo uma onda de emissões de papéis isentos para pessoas físicas neste fim de ano que pode chegar a R$ 4 bilhões. Nesse total estão principalmente Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e algumas debêntures incentivadas, que oferecem isenção de impostos para investidores pessoas físicas. Por isso o grande interesse. Estão previstas R$ 3 bilhões de ofertas de CRA, com prazos de 3 a 5 anos, e mais R$ 1 bilhão em debêntures, com prazos que vão de 5 a 7 anos. A vantagem são remunerações perto da variação do juro do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o overnight dos papéis privados) que, por serem isentas, equivalem a ganhos de 110% do CDI com imposto.

O Pão de Açúcar fez uma oferta de CRA de R$ 750 milhões na semana passada, a Brasil Foods encerra hoje a captação de um CRA de R$ 1 bilhão e a Bayer conclui uma oferta de R$ 280 milhões na quinta-feira. A Camil oferecerá CRAs de R$ 400 milhões. Já a Celpa deve oferecer debêntures de infraestrutura no valor de R$ 300 milhões. Todos esses valores estão sujeitos ainda a lotes complementares, de 35% do total. Além destas, públicas, mais quatro estão para ser anunciadas.

Um ponto importante nesse tipo de aplicação é que ele não tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), como têm as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA). Ou seja, há risco de crédito. Portanto, é preciso escolher bem os emissores ou a estrutura da operação, quem são os devedores e quem são os garantidores, pois se a empresa quebrar e não houver garantias, como recebíveis de boa qualidade ou seguradoras, o investidor pode entrar na lista de credores da massa falida. Uma vantagem no movimento atual é que os emissões dessa onda de papéi são grandes empresas, líderes de setores, multinacionais e muito conhecidas do mercado.

Outro ponto é que poucos desses papéis têm mercado secundário, ou seja, o investidor não poderá se desfazer do papel a qualquer momento. Portanto, é uma aplicação para ser vista como de longo prazo, até o vencimento.

Para Bruno Carvalho, da Guide Investimentos, a concentração de emissões neste período tem a ver com a proximidade das férias de fim de ano. “Tem de vender até 15 de dezembro”, afirma. Para ele, o mercado está vivendo um novo ciclo de transferência de recursos na renda fixa das pessoas físicas. Primeiro, foi da poupança para as LCI e LCA. Agora, a migração é para CRA e, no ano que vem, devem aumentar as ofertas de debêntures de infraestrutura.

Na oferta encerrada semana passada, do CRA do Pão de Açúcar, a procura pelo papel chegou a R$ 2,9 bilhões para uma oferta de R$ 1 bilhão, o que levou a um rateio de 34,09% por investidor. Ou seja, de cada R$ 1 mil pedidos, o investidor ficou com R$ 340,90 de papéis. O CRA do Pão de Açúcar saiu com uma remuneração de 97,5% do CDI, o que equivaleria a 111% do CDI em um papel sujeito a imposto de renda.

Para Fernando Meibak, da Sunrise Investments, há uma onda de papéis incentivados. “Muita gente está trocando outras aplicações por esse tipo de investimento”, explica, temendo até que isso provoque queda na arrecadação de impostos do governo no futuro.

Hoje termina o prazo para outra oferta de CRA da Brasil Foods, no valor de R$ 1 bilhão. Serão duas séries, uma corrigida pelo CDI, que estima taxa de 97% do indexador de remuneração, e outra pelo IPCA, com juros referenciados pelo papel do Tesouro, a NTN-B de vencimento em 2022. O papel corrigido pelo CDI vencerá em 16 de dezembro de 2020 e o em IPCA, em 18 de dezembro de 2023. A expectativa é que o papel tenha bastante procura e, com isso, poderá ter mercado secundário, também pelo valor alto da emissão e pelo baixo risco de crédito.

Outra oferta que termina nesta semana, dia 24, é do CRA da Bayer, de R$ 280 milhões, e teto de remuneração de 102% do CDI. O dinheiro será usado para securitizar a venda de insumos da fabricante alemã para produtores rurais e distribuidores. E tem uma subordinação de 15% do total, ou seja, uma garantia de que as perdas até 15% dos recebíveis sejam pagas pelo emissor ou pelos investidores principais. Os 85% que serão oferecidos ao mercado terão preferência no recebimento. Há ainda cobertura de risco pela seguradora AIG Canadá. A aplicação mínima é de R$ 1 mil.

A aplicação deve ser feita por meio de uma corretora credenciada na operação.

 

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