Arena Previdência, Fundos PGBL

Previdência aberta deverá ter novos planos e mais risco nos PGBLs e VGBLs

Os efeitos práticos para o investidor das mudanças na previdência privada aberta aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) devem ser maior oscilação das cotas e a criação de planos que adaptem os prazos das carteiras ao horizonte de resgate dos recursos. A medida divulgada ontem exige que o prazo médio ponderado das aplicações de PGBLs e VGBLs seja superior a cinco anos até 2016. Hoje, 60% do patrimônio dos fundos está em aplicações atreladas ao juro diário Selic ou do CDI.

Média por empresa de previdência

Para uma fonte do setor que pediu para não ser citada, o mais importante é que a medida do CMN permitirá um ajuste mais suave das carteiras, pois o prazo médio levará em conta não apenas cada fundo, mas o total de cada seguradora ou empresa de previdência. Assim, o total das carteiras de previdência do Bradesco, na média, terá de superar cinco anos, e não cada plano separamente. O mesmo valerá para o Itaú, BrasilPrev e demais empresas.

Planos diferenciados pelo horizonte de resgate

Isso permitirá à instituição oferecer planos com prazo de aplicação mais curtos para os investidores que estiverem perto de se aposentar, compensando isso com fundos com papéis bem mais longos para quem está longe da aposentadoria. “Essa liberdade é fundamental para garantir ao investidor um fundo de acordo com o seu perfil, de menor volatilidade se já está perto de usar o dinheiro ou mais agressivo se ainda tiver muito tempo para esperar”, explica a fonte.

A proposta inicial do governo era limitar a aplicação por fundo em papéis atrelados ao juro diário, as LFTs, a 20%, o que prejudicaria os aplicadores mais perto do resgate.

Adaptação para os fundos atuais

Será preciso, porém, adaptar os fundos atuais, que não preveem esse tipo de separação por prazos de aplicação. Para o especialista, a opção para as instituições é criar fundos específicos para cada prazo e orientar o investidor a migrar para eles. Ou fazer o ajuste por conta própria de acordo com o perfil de cada investidor. É possível que no futuro os novos planos já saiam com essa previsão de ajuste ao longo do tempo também. “Mas será preciso organizar os planos de acordo com os prazos de alguma forma”, diz.

O especialista explica que, como as regras de prazo foram criadas agora pelo governo, ainda não é possível estimar qual o prazo médio atual da indústria de previdência aberta.

Preparar o investidor para perdas na renda fixa

Será preciso ainda orientar melhor os investidores que, ao aplicar em fundos de renda fixa com papéis mais longos, em geral NTN-Bs, papéis corrigidos pela inflação mais juros, verão as cotas oscilarem mais, podendo chegar a ter perdas em alguns dias. Hoje, como a maioria das aplicações segue o juro diário, dificilmente há perdas em fundos PGBL e VGBL de renda fixa.

As seguradoras e empresas de previdência aberta terão três anos para fazer essas adaptações, ou seja, até dezembro de 2016. Mas esse prazo poderá ser revisto caso os juros voltem a subir, por exemplo, o que inviabilizaria a estratégia de alongamento. “Há uma cláusula que fala que, em condições excepcionais, o governo pode mudar o prazo médio, para menos de 5 anos por exemplo, o que deve ocorrer se as condições de mercado mudarem”.

Antes de 2016, porém, os fundos de previdência aberta já começarão a se ajustar. Em maio, eles não poderão ter um prazo médio de aplicação menor que o deste início de janeiro. Ou seja, não poderão aplicar muito em papéis curtos. Apesar disso, a expectativa é de que isso não provoque uma movimentação muito forte das carteiras, de venda de papéis curtos. “As empresas poderão usar os recursos novos, das novas aplicações, para comprar papéis mais longos em vez de vender os títulos mais curtos”, diz o especialista.

Oscilação maior para novos poupadores

A oscilação vai aumentar especialmente para os planos em que a data de saída está mais distante, e que terão, portanto, mais papéis longos. Já quem está perto do resgate deverá ter mais papéis curtos ou atrelados ao juro diário e baixa oscilação. “Mas, num cenário de juro mais baixo, as pessoas vão ter de enfrentar risco maior para manter a rentabilidade, aplicando em  papéis mais longos”, afirma o especialista.

Para esse especialista, as seguradoras já vinham alongando os prazos das carteiras, mas de maneira muito tímida, para evitar assustar os investidores. “A volatilidade maior assustava e a pessoa ia embora”, diz o especialista. Por isso, ele acha que a mudança precisa ser feita de maneira gradual, aproveitando a queda dos juros.

Previdência aberta perdeu o bonde, diz Netquant

Já o especialista em fundos de previdência, Marcelo Nazareth, sócio da Netquant, acha que o alongamento das carteiras ocorre com grande atraso. “O investidor já perdeu todo o ganho que poderia ter ao alongar os prazos desde o ano passado com a queda dos juros básicos”, afirma.

Para ele, a rentabilidade do segmento de previdência privada aberta foi comprometida de maneira significativa pela falta de iniciativa dos gestores de comprar mais NTN-Bs de prazo mais longo. “A melhora dos ganhos agora será marginal”, diz. Para Marcelo Nazareth, daqui por diante, os fundos de previdência aberta terão maior volatilidade nas cotas, mas o retorno médio também deve ser maior.

Ele observa também que o alongamento das carteiras PGBL e VGBL será significativo e deverá aproximar o perfil de prazo dos fundos abertos dos de previdência fechada, os fundos de pensão, que têm gestão mais ativa. “A carteira dos fundos deve se aproximar mais do perfil da dívida pública do governo federal, que é retratada pelo índice IMA”, diz.

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