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Títulos do Tesouro Direto caem até 7% em junho; perda é virtual para quem não resgatar

A alta dos juros nos mercados futuros e no mercado secundário de títulos públicos em junho, apesar de o Banco Central ter mantido a taxa Selic em 6,5% ao ano, provocou a queda dos preços dos papéis do governo federal negociados pelo sistema do Tesouro Direto. O juro de um papel prefixado com vencimento em 2025, por exemplo, que pagava 10,99% ao ano no fim de maio, fechou junho pagando 11,52% ao ano. Trata-se de um ajuste dos mercados ao novo cenário, de dólar em alta e pressão sobre a inflação que pode obrigar o BC a subir os juros no futuro. Só que o mercado não espera e pede juros maiores nos títulos agora, o que desvaloriza os papéis mais antigos, que pagavam juros menores.

Como a rentabilidade do título é a diferença entre o que o investidor paga hoje e o que ele vai receber no vencimento, quanto maior o juro, menor o valor atual. Da mesma fora, quanto menor o juro, maior o valor do título hoje. Dessa forma, o impacto da oscilação dos juros será maior para títulos mais longos, que têm mais juros embutidos até o vencimento.

Perda é só para quem resgatar antes

Essa oscilação, porém, é válida apenas para quem vender o papel hoje no mercado, antes do vencimento. Quem carregar o título até o fim receberá exatamente o que combinou na aplicação. A “perda” que se vê na tabela e nos extratos recebidos neste mês representa mais o custo de oportunidade, ou seja, quanto o investidor deixou de ganhar por ter aplicado por um juro mais baixo que o atual. Mas essa perda será compensada ao longo do tempo, até o vencimento, resultando no rendimento original da aplicação. É como a casa ou o carro, que oscilam de preço todos os dias, de acordo com o mercado. Só vai perder de verdade quem vender a casa ou o carro naquele dia.

Por isso, a recomendação para quem compra esses títulos longos é só aplicar o dinheiro que não vai ser necessário antes do vencimento, para evitar ter de sacar antes e o resgate cair justamente em um momento de perda.

Essas perdas dos títulos públicos serão vistas também em muitos fundos renda fixa de longa duração, que aplicam em títulos mais longos, e em multimercados, que especulam com as oscilações dos juros e apostavam na queda das taxas, o que não aconteceu.

Papel mais longo tem maior perda

Assim, quanto maior o prazo, maior o impacto da oscilação dos juros. Por isso, o papel com a maior perda em junho no Tesouro Direto é o Tesouro IPCA+ 2045, ou NTN-B Principal, papel mais longo do Tesouro Direto. O preço do título caiu 7,16%, acumulando no ano queda de 6,7%. Essa perda é efeito da alta do juro real pago pelo papel, de 5,68% para 5,86%. A diferença parece pequena na taxa, mas quando aplicada até 2045 traz o impacto visto no preço.

Papel mais curto tem perda menor

É possível ver o impacto do prazo ao comparar a queda do papel 2045 com o 2035. Ambos costumam pagar as mesmas taxas de juros, e o impacto no preço é, portanto, apenas do prazo. No caso da NTN-B 2035, a perda de junho foi de 4,05% e, no ano, de 2,47%, bem menos que a de 2045, apesar das taxas serem iguais. Por isso, quem não quer enfrentar oscilações muito fortes pode optar por papéis mais curtos.

Prefixados com juros no fim oscilam mais

Se as NTN-B sofrem o impacto apenas dos juros reais, os prefixados sofrem pois sua taxa inclui uma projeção de inflação fixa até o vencimento. Esse impacto é reduzido pelo prazo mais curtos dos papéis ou pelo fato de o título pagar juros semestrais. Os papéis com juros semestrais caem menos que os que só têm desembolso no fim.

Assim, o  título prefixado mais longo com juros semestrais, o Tesouro Prefixado com Juro Semestral, ou NTN-F, para 2029, caiu 2,55%. Já o prefixado sem juros semestrais, ou LTN, com vencimento em 2025, perdeu 2,88% em junho, apesar do prazo menor. Essas perdas refletem a alta dos juros, de 11,27% ao ano para 11,77% no caso da NTN-F para 2029 e de 10,99% ao ano para 11,52% para 2025 na LTN.

LFT não oscila

Se os papéis prefixados ou corrigidos pela inflação têm perdas, os que seguem os juros diários, ou Tesouro Selic, ou LFT, não tem oscilações pois seus juros são calculados dia após dia. Não há, portanto, variação de preço, que é corrigido pela taxa do overnight Selic, a mesma definida pelo Banco Central (BC), e que hoje está em 6,5% ao ano. O Tesouro Selic é portanto recomendado para o dinheiro de curtíssimo prazo, que não pode correr riscos de oscilações dos juros. Ou para quem não quer ver a aplicação variando até o vencimento, mesmo sabendo que não há perda real nisso.

Mas a segurança tem seu preço: se o juro cair no futuro, o ganho da LFT vai cair junto.

Abaixo, as oscilações dos preços de mercado dos títulos do Tesouro Direto.

 

 

Títulos Vencimento 30 dias* Junho No ano 12 meses
Prefixado 01/01/2019 0,52 0,5 3,34 9,98
Prefixado 01/01/2020 -0,36 -0,35 3,46 11,36
Prefixado 01/01/2021 -0,65 -0,7 3,64 12,07
Prefixado 01/01/2023 -0,47 -1,32 1,45 9,82
Prefixado 01/01/2025 -0,92 -2,88
Pré juro semestral 01/01/2021 -0,52 -0,6 3,24 11,33
Pré juro semestral 01/01/2023 -0,38 -1,15 1,51 9,29
Pré juro semestral 01/01/2025 -0,52 -1,95 -0,02 7,42
Pré juro semestral 01/01/2027 -0,36 -2,43 -1,41 5,6
Pré juro semestral 01/01/2029 -0,11 -2,55
Tesouro Selic 01/03/2021 0,44 0,44 3,09 7,35
Tesouro Selic 01/03/2023 0,33 0,33 2,92 7,21
Tesouro IPCA+ 15/05/2019 0,81 0,81 3,55 10,43
Tesouro IPCA+ 15/08/2024 -0,49 -1,25 1,64 8,72
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -2,18 -4,05 -2,47 3,52
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -4,28 -7,16 -6,7 0,16
IPCA+ juro semest. 15/08/2020 -0,08 -0,1 3,67 10,95
IPCA+ juro semest. 15/08/2024 -0,29 -0,84 2,08 9,17
IPCA+ juro semest. 15/08/2026 -0,83 -1,58 0,8 8,77
IPCA+ juro semest. 15/05/2035 -1,33 -2,57 -0,32 6,48
IPCA+ juro semest. 15/05/2045 -2,06 -3,61 -1,56 5,8
IPCA+ juro semest. 15/08/2050 -2,26 -3,89 -1,96 4,68

Fonte: Tesouro Direto. * 30 dias encerrados em 2 de julho, ou seja, de 2 de junho a 2 de julho, considerando a taxa de compra na aplicação e de venda no resgate.

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