O Índice Bovespa voltou nesta semana para perto dos 70 mil pontos, o maior nível desde 2011, quando o país vivia a ilusão de ter se transformado em uma potência e era o queridinho dos investidores internacionais. Seis anos depois, o Ibovespa está em 69 mil pontos, depois de uma alta acelerada de 66,22% em 12 meses, dos quais 14,65% somente neste mês e meio de 2017.
A alta da bolsa reflete um cenário externo mais favorável para os países emergentes por conta da valorização das commodities e da expectativa de maior crescimento nos Estados Unidos. Além disso, há uma melhora interna, com avanços na parte fiscal, inflação surpreendendo para baixo e juros com tendência de baixa. Isso provocou um otimismo, que se reflete também no risco-Brasil e no dólar em relação ao real, que voltou para perto de R$ 3,00, um dos menores níveis desde 2015, e nos juros futuros, que estão perto de cair abaixo de 10% ao ano. Mas há problemas ainda sérios em relação ao crescimento do país e o lucro das empresas. E o investidor, o que deve fazer agora? Ficar ou sair do mercado?
Sugestão de leitura Empiricus: Como investir em bolsa.
Em meio a esse otimismo, bancos e corretoras fazem cenários diferentes para o mercado acionário brasileiro. Na semana passada, o banco americano Goldman Sachs mandou os clientes saírem de Brasil, Índia e Polônia depois que esses mercados atingiram os limites de ganhos definidos pelo banco de 20%. Já o UBS mandou comprar ações, por conta da melhora dos fundamentos da economia.
Goldman vende
Os emergentes teriam já zerado a diferença em relação aos mercados acionários desenvolvidos diante de uma visão de maior crescimento global, diz o Goldman. O banco diz que está receoso em continuar comprado em ações dos três países, dado os riscos de uma potencial mudança de política comercial nos Estados Unidos, eleições na Europa e medidas de aperto monetário na China que podem reduzir o crescimento chinês.
A Goldman admite que continua gostando do Brasil, Índia e Polônia, mas desde que fez a recomendação de compra, logo após a queda das bolsas provocada pela eleição inesperada de Donald Trump nos EUA, os mercados subiram e a relação entre o preço das ações e seu lucro subiu para 12,2 vezes, o maior nível desde 2009. “Consequentemente, vemos uma relação risco/retorno menos favorável e recomendar ficar comprado em ações de emergentes”, diz o relatório.
Mesmo assim, o banco ainda deixa um pé nesses mercados, afirmando que os fundamentos das economias emergentes estão melhorando e que continua otimista com empresas voltadas para o mercado doméstico dos três países, que estariam menos sujeitas a turbulências globais.
UBS manda comprar
Já o suíço UBS diz que o rali do mercado acionário brasileiro não acabou e mudou sua recomendação para compra de ações brasileiras, com uma projeção de Ibovespa em 77 mil pontos no fim deste ano, o que significaria um retorno de 15% aproximadamente. A alta seria justificada pelas melhoras nos fundamentos econômicos do país e pela revisão nas expectativas de lucro das empresas. No terceiro trimestre, as projeções de lucros para este ano subiram 11% e, para 2018, 1%.
O banco lembra que a alta do ano passado foi basicamente um ajuste de preços, já que as perspectivas eram ruins para 2017 e 2018. E agora, há sinais de melhora aparecendo, diz o UBS, citando um consenso de mercado de crescimento de lucros das empresas de 17% este ano e 10% em 2018, mas que pode ser maior nas contas do banco suíço.
Petróleo em alta
Parte do otimismo do UBS vem de Petrobras, uma das principais recomendações da instituição. O banco trabalha com um aumento dos preços do petróleo de 18% neste ano e de 23% em 2018. Outro setor de destaque deve ser o de energia, que se beneficiará da entrada de investimentos diretos no país. Há também o impacto da queda dos juros, que vão provocar melhoras na parte de crédito, que deve continuar diminuindo em 2017, mas vai se beneficiar da redução da inadimplência das pessoas físicas e empresas. As quedas da inflação e dos juros devem reduzir o custo do dinheiro para as empresas e para o governo, que poderá ser beneficiado de melhoras nos ratings das agências de risco. E juro e o custo de crédito menor ajudarão a elevar os dividendos das empresas no caso de recuperação do consumo.
Além disso, o UBS cita como positivos o crescimento dos lucros do quarto trimestre do ano passado, que deve ficar acima dos 8% previstos, e os avanços do governo nas reformas, especialmente na da Previdência. Há também o retorno em dividendos das ações brasileiras, estimado em 4% ao ano em 2018, que estaria acima dos demais países, assim como sua relação entre o preço das ações e o lucro das empresas, de 11 vezes.
O UBS recomenda a compra de Petrobras, empresas de energia elétrica e empresas de construção, manda manter ações do setor financeiro e consumo e vender saúde, tecnologia da informação e matérias-primas. As principais recomendações, além de Petrobras, são CTEEP e Tim Brasil.
Guide vê índice em 75 mil pontos
Também otimista com a bolsa, Leandro Martins, analista gráfico da Rico Corretora, diz que o Ibovespa alimenta grande expectativa para o rompimento dos 70 mil pontos – em aproximação a seu topo histórico no patamar dos 74 mil. Além dos setores favorecidos diretamente com a queda da taxa Selic há importantes setores em franca tendência de alta como siderúrgicas (destaque para Gerdau), mineradoras (Vale) e bancos (Itaú).
Risco das “Trump Towers” ruírem
Mas, mesmo com o mundo bastante líquido e os EUA liderando, a bolsa brasileira pode eventualmente ter uma realização de lucros , derrubada por mercados internacionais e, localmente, pela economia fragilizada, que convive ainda com um dos maiores juros reais de sua história, algo que ninguém está falando ainda e é bastante preocupante, e um PIB que tem chances de ser negativo novamente. O alerta é de Pablo Stipanicic Spyer, diretor de Operações da Corretora Mirae.
Nos Estados Unidos, os sinais claríssimos de que um aperto monetário está a caminho (e a passos largos) devem trazer realização de lucros nas bolsas, que não se cansam de bater novos recordes, com direito a apelidos majestosos como “Trump Towers”, referência aos três principais indices, Standard & Poor’s 500, Dow Jones e Nasdaq. “A situação se resume basicamente ao seguinte: durante o Quantitactive Easing (QE, programa de recompra de papéis dos bancos promovido pelo Federal Reserve, banco central americano para estimular a economia), os EUA imprimiram US$ 4 trilhões”, afirma Spyer.
Stay ou go?
Há portanto motivos de sobra tanto para a bolsa continuar subindo um pouco mais ou cair no curto prazo. O ideal para o investidor que já ganhou bastante é fazer como o Goldman, reduzir um pouco a posição realizando os lucros, talvez voltando a parcela em bolsa da carteira para a proporção anterior ao rali deste ano. Já quem vai entrar agora no mercado pode optar por fundos multimercados, cujos gestores, espera-se, vão saber tirar melhor proveito das mudanças que se avizinham não só na bolsa, como na renda fixa. Outra alternativa são os produtos estruturados, os COEs oferecidos por bancos, e que permitem ganhar com a alta da bolsa, mas oferecem proteção de principal caso o cenário mude radicalmente.