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Ofertas de ações e títulos crescem 8,9% no ano e atingem R$ 217 bi até setembro, diz Anbima

O volume de ofertas de ações e títulos de renda fixa de empresas brasileiras de janeiro a setembro deste ano somou R$ 217,4 bilhões, 8,9% mais que os R$ 199,6 bilhões do mesmo período do ano passado. O valor supera a média de janeiro a setembro dos últimos sete anos, de R$ 177,6 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Houve queda forte nas ofertas de ações, 77% em relação ao ano passado, mas em compensação aumentaram as ofertas de debêntures incentivadas, aquelas cujo rendimento é isento de imposto de renda para pessoas físicas.

A associação comparou também os anos de eleições presidenciais para avaliar o impacto da movimentação deste ano. Em 2018, as ofertas de renda fixa têm melhor desempenho dos últimos três anos eleitorais. Em 2014, foram R$ 215 bilhões, em 2010, R$ 259 bilhões e em 2006, R$ 69,9 bilhões. Os dados mostram que a atividade econômica e o otimismo com o país, mais fortes em 2010, foram mais significativos para o mercado de capitais.

Para José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima, há noticias de que há várias emissões de empresas represadas, esperando um ambiente mais propício para irem a mercado. “Vai depender do resultado das eleições, também do que vai acontecer no mercado externo, estamos vendo movimentações de taxas de juros nos EUA e no dólar”, diz. “Há uma rearrumação do mercado externo, além da nossa própria agenda, mas vemos o mercado mais propício para a renda variável”, diz. “As notícias dão esperança de que podemos ter um segundo semestre mais ativo”.

Sobre as captações no exterior, Lanone diz que elas vão depender ainda mais da definição de juros nos EUA e do câmbio.  “Mas o mercado local está mostrando ter mais profundidade e passa a ser uma opção”, explica. No mercado de renda variável, há uma demanda de empresas que estão esperando uma definição maior.

Ele lembra que a base de crescimento do mercado de capitais é estabilidade de taxa de juros e o crescimento da economia, independentemente de quem for presidente. “Essa é parte mais importante, e quanto mais rápido retomada de crescimento vier, mais vai aumentar a demanda por ativos do mercado de captais”, diz.

As emissões de debêntures são destaque este ano, com volume recorde de R$ 108,5 bilhões, praticamente o dobro dos R$ 54,7 bilhões do mesmo período do ano passado. As debêntures incentivadas, voltadas para a infraestrutura, são o destaque, representando 15% do total, ante 11% no ano passado. O volume de debêntures incentivadas triplicou, de R$ 5,9 bilhões para R$ 15,8 bilhões, com 39 operações, ante 25 do mesmo período de 2017. A maior parte dessas debêntures foi emitida por empresas do setor elétrico, com 71,8% do valor, seguido de transporte e logística, com 10,3% e assistência média, com 10,3%.

O prazo das debêntures também se alongou, com a média geral passando de 4,6 anos para 6,2 anos. Do total, 27% têm vencimento superior a sete anos, destada a Anbima. “Os prazos estão se dilatando em decorrência da estabilidade dos juros baixos”, afirma Laloni. “E o mercado vai se alongando também pelas debêntures de infraestrutura incentivadas, que têm prazo maior”, explica. As debêntures de 10 anos passaram de 5,8% do total emitido para 14,4% este ano, “uma excelente notícia para o mercado de capitais”, diz o executivo.

Outro sinal positivo é que mais da metade, 53,7%, das emissões de debêntures foi comprada pelos investidores finais, ou seja, não ficaram com os bancos emissores ou grandes investidores. Um sinal de que o mercado está trabalhando em sua plenitude, avalia Laloni. Ele destaca que a demanda de pessoas físicas por esses papéis está crescendo, respondendo já por 19,8% do volume ofertado. “O mercado de debentures incentivadas cresceu muito e há mais intermediários interessados, mais novas plataformas participando e os fundos de investimentos têm tido uma importância grante”, diz. “E os estrangeiros tiveram participação importante também em duas operações grandes”, destaca. “A base de investidores está bastante diversificada.”

Segundo Laloni, a maior distribuição ao investidor final mostra que o mercado está maior e com apetite grande dos investidores. “Nos últimos anos, o mercado de fundos de investimento tem crescido muito e isso demanda maior volume de papéis, um mercado maior”, explica. “E quando vemos a oferta de papeis crescendo e o mercado comprador também, isso antecipa um mercado de capitais cada vez maior.”

As ofertas de renda fixa local caíram, de R$ 46,6 bilhões para R$ 43,9 bilhões, em boa parte pela retração dos fundos de investimentos em direitos creditórios (Fidc), de R$ 13,5 bilhões no ano passado para R$ 6,8 bilhões este ano. Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRI) passaram de R$ 8 bilhões para R$ 3,6 bilhões. Entre os destaques positivos deste ano, na renda fixa, as letras financeiras mais que dobraram de volume, de R$ 2 bilhões para R$ 5,2 bilhões, com forte aumento também das notas promissórias, de R$ 18,8 bilhões no ano passado para R$ 23,7 bilhões neste, e que se consolidam como opção para financiar não só curto, como longo prazo.

As emissões de fundos imobiliários subiram 77% no ano, de R$ 5,6 bilhões para R$ 9,95 bilhões. As pessoas físicas continuam sendo os grandes compradores, com 62,7% do volume de fundos imobiliários emitidos. Mas os fundos de investimento subiram sua fatia de 15,6% para 21,8%.

Para Laloni, um dos grandes diferenciais do mercado de capitais no ano passado foram as plataformas de distribuição de investimentos, como corretoras e escritórios de agentes autônomos. “Estamos vendo mais intensamente nestes dois anos o aumento das iniciativas privadas de construção de plataformas para atender pessoas físicas”, diz. Isso criou um grande dinamismo no mercado, não só pela criação de novas empresas como também por provocar um reposicionamento da atividade de atendimento de pessoas físicas pelos grandes bancos. “Isso trouxe para o mercado iniciativas novas e permitiu à pessoa física ter mais opções tanto na indústria tradicional, dos bancos, quanto em novas plataformas”, afirma Laloni. “É só o começo de um ciclo, pois pelo número de pessoas acessando, algumas milhares apenas, o potencial é gigantesco”, afirma.

Essa tendência traz também um ganho de qualidade para o mercado, pois estimula o investidor a tomar mais risco e participar do mercado de capitais. “O movimento traz educação financeira para a pessoa física, que passa a conhecer outras alternativas de investimento, enquanto leva o investidor a tomar mais risco”, diz Laloni . “Por isso a Anbima busca também fornecer mais informações e dados para o mercado e incentivar a educação financeira”. Ele dá o exemplo do setor de fundos de investimento, que está se sofisticando para atender a esses novos investidores, com carteiras de infraestrutura, de crédito, e de opções de curto ou longo prazo. “O mercado pode crescer bastante com essas novas plataformas de distribuição de investimentos e com os bancos tradicionais também passando a oferecer mais alternativas e ajudando na educação dos investidores”, diz. “É uma tendência mundial.”

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