Arena Especial, Finanças Comportamentais

Investidor quer ganhar 20% ao ano, mas não tolera perda e foge da bolsa, diz pesquisa

Uma pesquisa feita pelo superintendente-executivo da Santander Brasil Asset Management, Aquiles mosca, mostra que o investidor brasileiro médio espera 20% ao ano de retorno nos próximos 10 anos para seus investimentos. Mas 75% dos 300 participantes da pesquisa não estão dispostos a tolerar perdas mínimas, mesmo que por apenas seis meses. E, finalmente, 70% deles não querem nem ouvir falar de investir em ações.

A pesquisa foi apresentada durante o 7º Congresso Anbima de Fundos Imobiliários, realizado hoje em São Paulo.

Como os investidores veem um cenário mais desafiador em 2013, a rentabilidade almejada pelos participantes da pesquisa é mais “modesta”: 13% no ano. “Isso é cerca de 170% do CDI, não sei onde vão obter essa rentabilidade”, diz Mosca. A pesquisa mostra ainda que os participantes esperam conseguir essa rentabilidade elevada aplicando seus recursos em investimentos imobiliários (50%), sejam em fundos ou imóveis propriamente, investimentos em commodities e, para uma minoria que pensa no mercado de ações, papéis de grandes empresas, como Vale e Petrobras.

A pesquisa aponta diversas conclusões do ponto de vista das finanças comportamentais. A principal delas, segundo o criador do estudo, é que a educação financeira ainda é muito precária no país. Uma rentabilidade de 20% ao ano sem correr riscos maiores do que os da renda fixa e de ações de grandes empresas é praticamente impossível, segundo o executivo.

Mosca explica que o investidor está acostumado a se apegar a cenários e informações que já conhece para tomar decisões de aplicações financeiras. “E para remediar esse problema, não há atalho, é necessário correr atrás de muita informação e, se for preciso, da ajuda de um profissional de investimentos.”

Excesso de confiança e outros vieses

Além da falta de educação financeira, outro viés que a pesquisa mostra, e que já é estudado pelo ramo das finanças comportamentais, é o do excesso de otimismo. Segundo dados do superintendente da asset do Santander, entre 2003 e 2007, fase em que a bolsa brasileira viveu um de seus melhores momentos, o número de pessoas físicas investindo em ações chegou a 550 mil.

Desse total, mais de 250 mil pessoas começaram a investir em bolsa apenas nos dois últimos anos da escalada. “O investidor comum tem excesso de confiança, de otimismo, tende a se concentrar muito na alta e achar que vai ter continuidade”, aponta Mosca. E esse é um viés tão perigoso quanto o da falta de educação financeira.

Quando veio a crise global de 2008, e a posterior queda de 40% do Índice Bovespa, a maioria desses investidores se desfez de suas ações. “Mais de 190 mil pessoas compraram ações quando a maior parte do movimento de alta já havia acontecido e decidiram vender os papéis no fundo do poço, perdendo muito”, lembra.

Segundo o executivo, as pessoas tendem a atribuir a si mesmas os sucessos na bolsa, mas culpam o mercado em caso de fracasso. Além disso, outra tendência de comportamento é vender ações que já subiram demais e manter em carteira as que estão caindo vertiginosamente, sem reconhecer os erros. “O investidor gosta de pensar que está realizando lucros, que acertou, isso é prazeroso”, diz. Ao mesmo tempo, “não realiza perdas porque não quer ter a sensação de fracasso, e fica repetindo para si mesmo que ainda vai recuperar”.

O problema, segundo Mosca, é que os números denunciam a infelicidade dos investidores. Na maioria dos casos, as ações vendidas após um período de alta continuaram tendo bom desempenho e o investidor se privou desses lucros. E as ações mantidas em carteira após forte queda continuaram caindo, impondo perdas ainda maiores.

Mosca explica, contudo, que isso depende das ações. “Há papéis que são bons para se ter em carteira, e não é uma fase de perda que mostra o contrário”, diz. “Em 2001, por exemplo, a Apple divulgou resultados que vieram 2% abaixo do esperado pelo mercado e os investidores castigaram as ações da empresa”, lembra. “Dois meses depois a companhia lançou o iPod, que deu origem ao iPhone, que deu origem ao iPad, ou seja, era uma empresa que valia a pena ter em carteira.”

Por isso, o superintendente da asset do Santander ressalta que um dos caminhos para eliminar o viés do otimismo exagerado ao investir é olhar os fundamentos da empresa, em vez de se concentrar puramente nos movimentos de alta ou queda do preço de ações.

Como evitar erros comuns?

Para evitar más decisões de investimentos provocadas por tendências comportamentais, Mosca explica que a melhor saída é se conscientizar de que esses vieses existem. “É preciso saber do excesso de confiança, de otimismo, da atribuição de sucessos a si mesmo, dentre outros erros de julgamento”, diz. “Mas não é suficiente saber sobre finanças comportamentais, ainda é preciso assumir as deficiências, aprender a lidar com elas e sempre ponderar bem antes de tomar decisões.”

Mosca admite que esses cuidados dão trabalho e são considerados “muito chatos” pela maioria dos investidores. “E muitas vezes são chatos mesmo, mas o custo de não fazer isso é muito alto, significa continuar guardando dinheiro na poupança e ver a inflação comer 1,5% ao ano da sua aplicação.”

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