Arena Especial, Banco Central

Copom reduz juros básicos para 7% ao ano e indica novo corte em fevereiro, mas vê mais riscos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu os juros básicos da economia de 7,5% para 7% ao ano, como previsto pelo mercado. Essa é a menor taxa desde a criação do Plano Real, em 1994, e uma das menores da história do país, que sempre conviveu com inflação elevada e juros altos. Até agora, a taxa Selic mais baixa era de 7,25% ao ano, que vigorou de 11 de outubro de 2012 a 18 de abril de 2013. O BC começou a reduzir os juros, que chegaram a 14,25% ao ano em 30 de julho de 2015, em 20 de outubro de 2016. Desde então, a taxa já caiu 7,25 pontos percentuais.

Considerando a inflação projetada para os próximos 12 meses pelo mercado para o IPCA, de acordo com o relatório Focus, de 3,96%, os juros reais estariam agora perto de 3% ao ano, relativamente baixos para o nível histórico, de 5% ao ano.

O Copom deixou aberta a possibilidade de novo corte dos juros em fevereiro, mas alerta para fatores de risco que terão de ser reavaliados na época. Segundo o comunicado, para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como “adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária”. Ou seja, o corte poderia ser menor, de 0,25 ponto percentual, para 6,75% ao ano

. Ao mesmo tempo, alerta que “essa visão para a próxima reunião é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores”. e acrescenta que “para frente, o Comitê entende que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária”. O Copom ressalta que o processo de corte dos juros “continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”.

Entre os riscos destacados pelo Copom estão uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas, ou seja, a reforma da Previdência, e ajustes necessários na economia brasileira. Essa frustração pode afetar os prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação. Esse risco se intensificaria no caso de reversão do cenário externo favorável para economias emergentes.

A seguir, a íntegra do comunicado do Copom:

“O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 7,00% a.a., sem viés.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom mostra sinais compatíveis com a recuperação gradual da economia brasileira;

O cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica global vem se recuperando sem pressionar em demasia as condições financeiras nas economias avançadas. Isso contribui para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes;

O Comitê julga que o cenário básico para a inflação tem evoluído, em boa medida, conforme o esperado. O comportamento da inflação permanece favorável, com diversas medidas de inflação subjacente em níveis confortáveis ou baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2017 apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 3,0%. As projeções para 2018, 2019 e 2020 mantiveram-se em torno de 4,0%, 4,25% e 4,0%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 2,9% para 2017, 4,2% para 2018 e 4,2% para 2019. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2017 e 2018 em 7,0% e 2019 em 8,0%.

O Comitê ressalta que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a combinação de (i) possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos e da (ii) possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (iii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.  Esse risco se intensifica no caso de (iv) reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 7,00% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2018 e 2019, é compatível com o processo de flexibilização monetária.

O Copom entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural.  As estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo Comitê.

A evolução do cenário básico, em linha com o esperado, e o estágio do ciclo de flexibilização tornaram adequada a redução da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual nesta reunião. Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, e em razão do estágio do ciclo de flexibilização, o Comitê vê, neste momento, como adequada uma nova redução moderada na magnitude de flexibilização monetária. Essa visão para a próxima reunião é mais suscetível a mudanças na evolução do cenário e seus riscos que nas reuniões anteriores. Para frente, o Comitê entende que o atual estágio do ciclo recomenda cautela na condução da política monetária. O Copom ressalta que o processo de flexibilização monetária continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.
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