Arena Especial, Banco Central

Copom surpreende, corta juros em 0,75 ponto e promete mais; Selic cai para 13%

O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu a maioria do mercado e anunciou hoje um corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros do país, a Selic, que passou de 13,75% para 13% ao ano. Grande parte do mercado esperava um corte menor, de 0,5 ponto, pelo conservadorismo do Banco Central (BC). Mas prevaleceu a preocupação com a fraqueza da economia, que está “aquém do esperado”, segundo o Copom. Foi o maior corte dos juros básicos desde abril de 2012, quando a taxa caiu de 9,75% ao ano para 9%.

E vem mais por aí

Além do corte maior de hoje, o Copom indicou no fim do comunicado que o ritmo de redução dos juros deve se manter nos 0,75 ponto ao menos por algumas reuniões, o que vai levar o mercado a rever suas projeções de juros futuros para o curto prazo. Mais cortes de 0,75 ponto, portanto, vem aí. Ou, na linguagem “coponesa”, “diante do ambiente com expectativas de inflação ancoradas, o Comitê entende que o atual cenário, com um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado, já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização.”

Ruim para CDI e Selic, bom para prefixados e NTN-B

A decisão representa uma redução dos ganhos das aplicações atreladas ao juro diário Selic, seja em fundos DI ou no Tesouro Direto, em LFT, seja em CDBs, LCI e LCAs, corrigidas pelo CDI, juro privado diário. Já as aplicações prefixadas, em LTN ou NTN-F ou mesmo as corrigidas pela inflação, as NTN-B, devem dar um pulo de rentabilidade amanhã com o ajuste das taxas. Quanto menor o prazo, maior deve ser o impacto. Fundos renda fixa também se beneficiam da queda mais acentuada dos juros, pois possuem títulos prefixados antigos com juros maiores.

Já o impacto no crédito será pequeno, mas começará a ser sentido nos próximos dias. O Bradesco já anunciou hoje um corte em suas taxas de empréstimos.

Atoleiro da economia surpreende

A saída da recessão será portanto mais demorada e gradual que a prevista, admite o BC. O cenário externo menos agitado do que se esperava após a eleição de Donald Trump também ajudou na decisão do BC de cortar mais os juros. O mesmo ocorre com a inflação, que segundo o Copom estaria caindo de maneira mais ampla e atingindo setores mais sensíveis à atividade econômica, o que seria uma referência ao setor de serviços. O Copom mencionou hoje o IPCA de 2016, de 6,29%, abaixo da meta de 6,5% e das expectativas do mercado como sinal de que a inflação está comportada. E as projeções têm se comportado próximas da meta de 4,5% para os próximos anos.

Reformas ajudam a derrubar os juros

Além disso, a aprovação do teto dos gastos públicos e o encaminhamento das reformas estruturais, entre elas da Previdência também abrem espaço para uma inflação menor mesmo com uma taxa de juros menor.

O Copom cita alguns riscos, como a incerteza no cenário externo, que pode dificultar o processo de desinflação, a inflação de serviços, que requer atenção contínua e o processo de aprovação de reformas. Mas prevalece no cenário atual a inflação e as suas expectativas ancoradas e a atividade bastante enfraquecida e as reformas caminhando.

A seguir, a íntegra do comunicado do Copom:

“O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 13,00% a.a., sem viés.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores sugere atividade econômica aquém do esperado. A evidência disponível sinaliza que a retomada da atividade econômica deve ser ainda mais demorada e gradual que a antecipada previamente;

No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto.  Entretanto, até o momento, os efeitos do fim do interregno benigno têm sido limitados;

A inflação recente continuou mais favorável que o esperado. Há evidências de que o processo de desinflação mais difundida tenha atingido também componentes mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico;

A inflação acumulada no ano passado alcançou 6,3%, bem abaixo do esperado há poucos meses e dentro do intervalo de tolerância da meta para a inflação estabelecido para 2016;

As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus recuaram para em torno de 4,8% para 2017, e mantiveram-se ancoradas ao redor de 4,5% para 2018 e horizontes mais distantes;

As projeções condicionais do Copom também recuaram em relação às divulgadas no Relatório de Inflação passado, que foram baseadas no conjunto de informações disponíveis até 9 de dezembro de 2016. Dentre outros fatores, os recuos nas projeções foram influenciados por dados de inflação e atividade econômica divulgados desde então. As projeções no cenário de referência encontram-se em torno de 4,0% e 3,4% para 2017 e 2018, respectivamente. Já no cenário de mercado, situam-se em torno de 4,4% e 4,5% para 2017 e 2018, respectivamente; e

Os passos no processo de encaminhamento e aprovação das reformas fiscais têm sido positivos até o momento.

O Comitê ressalta os seguintes riscos para o cenário básico para a inflação:

Por um lado, (i) o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação; (ii) o processo de desinflação de alguns componentes do IPCA mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária requer atenção contínua; (iii) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas;

Por outro lado, (iv) a atividade econômica mais fraca e o elevado nível de ociosidade na economia podem produzir desinflação mais rápida que a refletida nas projeções do Copom; (v) a inflação tem se mostrado mais favorável, o que pode sinalizar menor persistência no processo inflacionário; e (vi) o processo de aprovação e implementação das reformas e ajustes necessários na economia pode ocorrer de forma mais célere que o antecipado.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 13,00% a.a., sem viés. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com intensificação da flexibilização monetária em curso.

O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,25% e sinalizar uma intensidade maior de queda para a próxima reunião. Entretanto, diante do ambiente com expectativas de inflação ancoradas, o Comitê entende que o atual cenário, com um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado, já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização. A extensão do ciclo e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados acima.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.”

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