Arena Especial, Educação Financeira

Confira 7 dicas para quem perdeu o emprego e 7 para quem tem medo de perder

Dizem que recessão é quando seus amigos perdem o emprego. E que depressão é quando você perde o seu. À parte o humor negro, a piada descreve bem o impacto emocional da demissão sobre a maioria das pessoas, e que pode ir do choque inicial até a depressão, atingindo não só o empregado, mas também a família. Uma forma de reduzir esse impacto e seus efeitos, inevitáveis, já que todos os empregados estão sujeitos, mais cedo ou mais tarde, a ter de partir para novos desafios, o primeiro deles, encontrar  uma nova vaga, é estar preparado financeiramente para o imprevisto.

Uma boa reserva financeira ajuda, assim, não só a pagar as contas enquanto se busca um novo emprego, mas também a aliviar o impacto psicológico da perda de renda e da incerteza com o futuro. E dá mais estabilidade emocional para a pessoa procurar com calma uma nova colocação, explica Vinícius Azambuja, educador financeiro da Novi Soluções Financeiras. Outras providências, como manter uma rede de relações fora da empresa em que se trabalha também aumenta as chances de recolocação.

Especializado em orientar pessoas demitidas, além de cuidar da área educacional da Novi, Azambuja presta serviços para empresas de realocação profissional e diz que quem se prepara tem vantagens não só financeiras, mas psicológicas para superar o processo. “A pessoa fica mais equipada, mais preparada, e assim não aceita a primeira proposta que aparece e tem tempo para pensar, para mudar de carreira ou buscar um emprego melhor”, diz. Ele observa que, com a crise, aumentou o tempo que as pessoas levam para encontrar um novo emprego, e por isso é preciso guardar um pouco mais de dinheiro.

Azambuja fez uma lista com sete conselhos para quem está trabalhando, mas quer se preparar para um imprevisto. Já para quem perdeu o emprego e não se preparou, o educador faz outras sete sugestões para enfrentar a emergência de forma racional e organizada.

Antes da demissão, o que se pode fazer?

1)      Networking, ou empregabilidade: é preciso sair do “mundinho” da empresa, mantendo uma rede de relacionamentos com pessoas de outras companhias, aconselha o consultor. Segundo ele, 60% das realocações ocorre por conta de relacionamentos, e não por envio de currículos ou pesquisas. “A pessoa que chama um conhecido abre mão de uma série de pré-requisitos, o que aumenta as chances de conseguir uma vaga mais rápido”, diz.

2)      Orçamento organizado: não se deve esperar o desemprego para arrumar as contas, afirma Azambuja. Controlar bem as despesas e as receitas e organizar as aplicações dos recursos que sobrarem são fundamentais para qualquer família. Infelizmente, diz o especialista, a maioria das pessoas não tem educação financeira para organizar seu orçamento e só corre fazer isso quando a dificuldade surge. Vários sites oferecem serviços de planilhas financeiras eletrônicas gratuitas que ajudam nessa organização e no controle dos gastos, algumas que alimentam as informações de forma automática.

3)      Gastar menos do que se ganha sempre: essa é a recomendação básica e a mais difícil de ser seguida, diz Azambuja, até porque muita gente mantém um padrão de vida acima do que poderia ter. É o caso do funcionário público altamente endividado pela oferta farta de crédito consignado nos bancos para uma categoria que não tem perspectiva de aumento de renda. O primeiro passo é fazer o orçamento e cortar o que é supérfluo até conseguir alguma sobra e evitar as compras por impulso ou financiadas.

4)      Guardar de 10% a 20% do que se ganha: o ideal é que se consiga guardar pelo menos esses percentuais para financiar os sonhos, um fundo de reserva e a aposentadoria. O primeiro passo é formar uma poupança forçada equivalente a oito meses de despesas. Depois, guardar uma parte do dinheiro para a aposentadoria ou para a compra de um bem ou pagar uma viagem. O ideal, diz Azambuja, é que a pessoa comece aos poucos, investindo o que sobra,  e se autofinancie, em vez de pegar um empréstimo pagando juros para comprar o que quer. Uma alternativa é guardar parte dos aumentos salariais ou dos bônus ou dissídios, do 13º salário ou a restituição de imposto, e não aumentar as despesas por conta deles ou gastá-los de uma vez.

5)       Trocar dívidas caras por mais baratas: a maior parte dos brasileiros se endividou com a compra de supérfluos, como bens de consumo, carros, móveis, roupas, eletroeletrônicos ou viagens. E, muitas vezes, usou para financiar essas compras linhas como cheque especial ou cartão de crédito, que cobram juros muito altos. Ou mesmo linhas de lojas ou financeiras, mais altas que a média. O ideal é fazer um levantamento e renegociar esses débitos, trocando-os por linhas mais baratas, como crédito consignado ou crédito com garantia em bens, como o refinanciamento de carros ou de imóveis, o home equity.

6)      É importante também proteger o patrimônio e o padrão de vida da família: com seguros de vida para o caso de morte ou invalidez. Há ainda a opção dos seguros resgatáveis, nos quais além da proteção o segurado consegue receber parte do que pagou. São também opções para a sucessão, pois permitem deixar uma quantia para os filhos ou a mulher.

7)      Simplifique ao máximo a vida: o último conselho de Azambuja vale para todos e em qualquer ocasião. Ninguém precisa ter dez cartões de crédito de bancos, lojas, supermercados, clubes de futebol, todos cobrando anuidades ou seguros e ainda expondo o usuário ao risco de fraudes. O mesmo vale para contas correntes em bancos. Comer mais em casa, se divertir com a família com um vídeo alugado em vez de ir ao cinema e gastar com ingresso, pipoca ou refrigerante, ir a um parque em vez de um shopping, são opções que podem garantir bons momentos mesmo sem gastos extras. E evitar as compras por impulso, que normalmente se mostram depois desnecessárias ou caras em termos de preço ou financiamento. É possível ainda fazer receita sobre o patrimônio, vendendo ou alugando o carro ou imóvel de praia ou de campo. “Hoje é moda a economia compartilhada, como o aluguel de carros pelo BlaBlaCar”, diz.

Se a demissão já aconteceu:

1)      Toda família unida com objetivo e transparência: é fundamental que quem perdeu o emprego reúna a família e discuta a nova situação. Segundo o consultor, é comum o marido, envergonhado, esconder por algum tempo que perdeu o emprego e a mulher continuar gastando como se nada tivesse acontecido. “É preciso reunir a mulher e os filhos e discutir as ações que cada um pode adotar para equilibrar o orçamento até que a coisa melhore”, diz. A participação de todos voluntariamente pode ajudar a família a se unir para enfrentar a dificuldade e detectar desperdícios e reduzir o impacto dos cortes de gastos.

2)      Mudar o comportamento de consumo: o segundo passo é ajustar os gastos à nova situação para que as economias durem o maior tempo possível. Nesse caso, uma mudança no padrão de vida é inevitável, o que não é simples. “É muito fácil subir o padrão de vida, difícil é descer”, afirma Azambuja. Muitas vezes, a família já estava com um padrão de vida muito acima da renda, mas não percebia, e quando vem o desemprego, a queda é mais complicada.

3)      Fazer um orçamento realista: a maior parte das pessoas nem sequer se preocupa em fazer um orçamento, o que facilita os gastos desnecessários e impede a poupança. Assim, o primeiro passo é ter um controle de todas as despesas para ter clareza o tamanho do “buraco” que se terá de cobrir.

4)      Cortar despesas ao extremo: essa é uma das medidas mais difíceis na reorganização da vida do desemprego, buscar onde cortar despesas. Um dos conselhos de Azambuja é calcular quanto um pequeno gasto mensal representa por ano. Uma assinatura de tevê a cabo de R$ 300 por mês pode representar R$ 3,6 mil por ano por exemplo. Um café por dia na rua pode representar R$ 40 por mês ou R$ 500 por ano. “Deve-se buscar coisas supérfluas, que podem ser cortadas ou reduzidas e que não façam grande falta para a família”, diz.

Há também estratégias para reduzir gastos, como preferir as compras no atacado, o chamado “atacarejo”, em vez de compras em supermercados tradicionais. “No atacado, a economia pode chegar a 20% em relação ao supermercado e a pessoa pode fazer compras compartilhadas com amigos ou vizinhos ou parentes”, diz.

Serviços de telefonia e internet também subiram muito de preço nos últimos anos e muita gente nem sequer sabe quanto paga no celular ou no tablete. “Muitas vezes, a pessoa paga por um serviço que nem usa”, diz. Há casos de serviços que acompanham assinaturas digitais e que nem são usados, como discos virtuais, antivírus ou serviços de identificação de chamada. Há ainda clubes e academias pouco usadas pela família, mas que pesam no orçamento.

Na farmácia, também é possível economizar. “Muita gente compra remédios e não pergunta se tem desconto, o que é muito comum hoje, além dos descontos de convênios e da Farmácia Popular”, lembra Azambuja. Alguns laboratórios também oferecem descontos para remédios de uso contínuo. Uma das grandes despesas, os planos de saúde, porém, não tem muitas opções. “Há as associações de classes que podem ter planos alternativos, mas isso vai depender da categoria”, diz.

De qualquer maneira, o mais importante é que a pessoa “desça do salto alto”, seja mais humilde e não tenha vergonha de pesquisas e renegociar. Um exemplo são as escolas particulares. Os pais devem procurar a escola e explicar a situação e pedir algum desconto. “Muitas escolas preferem uma conversa franca a um calote, a escola até está aberta, mas a pessoa tem de se dispor a ir negociar”, diz.

A negociação é fundamental também para as dívidas. “Os bancos estão renegociando furiosamente as dívidas pois sabem que é melhor garantir algo do que perder tudo”, diz Azambuja, lembrando que os juros que os bancos cobram já são altos para compensar essas perdas. Conseguir uma taxa de juros mais baixa, mais prazo e um bom desconto em troca da continuidade do pagamento ajuda bastante até a pessoa conseguir uma nova colocação.

5)      Dinheiro da rescisão e reservas: o dinheiro que for recebido e as economias devem ser divididos em duas partes. A primeira deve ficar em aplicações conservadoras, com alta liquidez, que garantam até oito meses de desemprego. O prazo de realocação calculado pelo SCPC era de seis meses até um ano passado, mas aumentou para oito. A parte que sobrar pode ir para aplicações de maior prazo e melhor rentabilidade, mas sem risco, como fundos de investimentos, Tesouro Direto e papéis de bancos como LCI, LCA e CDB.

6)      Fuja de novas dívidas e compras: não é hora de usar o dinheiro da rescisão para comprar aquela casa ou trocar de carro ou reformar o guarda-roupa, recomenda Azambuja. Nem mesmo quitar a casa própria é recomendável, já que o financiamento imobiliário costuma ter juros baixos. “Só se a pessoa já tiver uma reserva muito boa, pois caso contrário é preferível ter liquidez para uma emergência do que quitar o empréstimo”, diz o especialista. A lógica é que qualquer empréstimo de emergência que a pessoa precisar terá taxa mais alta que o financiamento imobiliário.

7)      Atenção à economia compartilhada: Azambuja diz que, hoje, já não é mais necessário comprar um bem para ter seu uso. E, ao mesmo tempo, há oportunidades de se fazer dinheiro com os bens que se tem, alugando o próprio carro ou equipamentos como furadeiras.  O mais importante, diz o especialista, é que a crise do desemprego pode fazer a pessoa perceber que não precisa de muita coisa que tem. “A dificuldade pode despertar o consumo mais consciente, simplificar a vida das pessoas e das famílias”, diz, citando pessoas que têm conta em quatro ou cinco bancos de empregos antigos e que acabam custando tarifas ou tempo de acompanhamento. É a hora também de repensar o que realmente é importante para a família.

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