Arena Especial, Política Econômica

Combinação de Trump com desencanto local piora expectativa para economia, diz Gustavo Franco

Nas últimas duas semanas, houve uma combinação desfavorável de eventos que reduziram o otimismo com a economia brasileira, afirma Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Rio Bravo Investimentos. A eleição do candidato republicano Donald Trump nos Estados Unidos trouxe preocupação com a economia mundial, que se juntou ao desencanto com os andamentos domésticos da politica economia. “As pessoas estavam esperando mais protagonismo da área econômica, uma coisa mais orientada por uma agenda reformista que fosse além da PEC do teto dos gastos, mas o que acontece é que o noticiário continua pesado em política local, em problemas que nunca terminam, e isso provocou a decepção”, explica.

Franco diz que todos esperavam que a economia pudesse ajudar a politica e a politica a economia. “E vemos que a economia não está produzindo boas noticias no tamanho e necessidade para ajudar e politica, e também politica não ajuda a economia”, avalia. Por isso, estamos vendo uma mudança das projeções para pior. “Estávamos já encomendando uma recuperação que não veio, e isso afeta as projeções para a economia neste ano e para o ano que vem, o que é uma pena”, diz. “Mas isso não quer dizer que o jogo está perdido, só que a recuperação vai ser mais lenta que o esperado”, afirma.

Sobre o crescimento do PIB no ano que vem, Franco afirma que o número será influenciado pelos dados deste ano ainda. “Tem muito carry over”, diz, acrescentando que “o que temos hoje é que estamos estagnados e o nível de atividade presente está parado, ameaçando melhorar no fim do ano, mas com avanços muito ralinhos”. Ele lembra que esta época seria sazonalmente boa, de recuperação, pelas festas de fim de ano e o pagamento do 13º salário. “Mas essa retomada não está vindo, pelo cenário de incerteza um pouco pior pela política e pelo Trump, que piorou”, diz.

Sobre se o BC deveria acelerar a redução dos juros, Franco diz que essa é uma questão difícil, pois há notícias que justificam tanto manter o corte quando aumentar. “Tem notícias para os dois lados, e não se sabe com certeza o que vai acontecer quando Trump assumir”, lembra. “Pode ser até que, se ele for mais mão aberta no fiscal, talvez seja bom para a economia americana e isso pode ajudar o resto do mundo”, afirma. “Fala-se em estímulos fiscais, mas é preciso ver o que vai ocorrer, como foi com o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que na hora todos viram tragédias e depois acham que não será tudo isso”, afirma Franco, que acha que Trump pode ate´surpreender. “Não gosto do personagem, mas isso não impede que ele faça coisas positivas”, diz.

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