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Brasil crescerá 4% em 2018, aposta Itaú; mas recuperação de perdas demorará mais

Após dois anos de forte recessão, a economia brasileira mostra sinais de estabilização e pode voltar a crescer 4% já em 2018. A projeção é do departamento econômico do banco Itaú Unibanco, em relatório enviado aos clientes. Mesmo assim, o país só vai recuperar a riqueza que perdeu com a recessão dos últimos anos após 2018.

Após dois anos de forte recessão, a economia brasileira mostra sinais de estabilização e pode voltar a crescer 4% já em 2018. A projeção é do departamento econômico do banco Itaú Unibanco, em relatório enviado aos clientes. Mesmo assim, o país só vai recuperar a riqueza que perdeu com a recessão dos últimos anos após 2018.

Segundo o banco, que era comandando até recentemente pelo economista Ilan Goldfajn, hoje presidente do Banco Central (BC), a recuperação deve ocorrer gradualmente. “Por ora, a retomada está sendo impulsionada por um ciclo de estoques”, diz o banco, referindo-se aos estoques baixos de produtos, que exigirão das empresas maior produção para sua reposição.

Já a sustentabilidade da recuperação mais à frente depende da retomada mais ampla da demanda, afirma o banco. A redução das dívidas das empresas, os juros mais baixos e a evolução mais favorável dos preços das commodities levarão a uma retomada do investimento, acredita o Itaú. Mais adiante, a recuperação ganhará força com a volta do consumo, reflexo da melhora do mercado de trabalho e dos juros menores. “Projetamos que o PIB cresça 2,0% em 2017 e 4,0% em 2018” diz o relatório. “Entretanto, esse cenário depende crucialmente da aprovação das reformas fiscais.”

Estoques primeiro, investimento depois

A queda do investimento explica a maior parte da contração do PIB brasileiro, diz o Itaú. Os investimentos registraram contração de 26% deste o máximo alcançado no terceiro trimestre de 2013. A formação bruta de capital fixo, outro nome para a taxa de investimento do país, teve dez trimestres consecutivos de queda, voltando a crescer apenas no segundo trimestre de 2016. Na comparação mensal, porém, o indicador mostra alguma estabilização e há sinais que o investimento está começando a se recuperar.

Segundo o Itaú, exercícios econométricos sugerem que o investimento é determinado por uma combinação de fatores externos (preços das commodities) e domésticos (taxa de juros e alavancagem (endividamento) das empresas). A elevada alavancagem das empresas foi o principal fator por trás da queda do investimento na recessão atual, avalia o banco.

Menor endividamento ajuda o investimento

“As estimativas apontam que 1 ponto percentual a mais de alavancagem das empresas reduz o investimento como proporção do PIB potencial em 0,6 ponto percentual”, diz o relatório. Com esse raciocínio, entre 2014 e 2015, a alavancagem contribuiu com cerca de -8 pontos percentuais  na contração de 24% do investimento no período. Além disso, os juros elevados e a queda dos preços das commodities também afetaram negativamente o investimento no período, em -6 e -5 pontos, respectivamente.

Juro menor já neste ano

Para o banco, os fundamentos apontam para uma retomada do investimento à frente. Em primeiro lugar, as taxas de juros básicas do Banco Central irão cair. “Esperamos que o banco central inicie um ciclo de corte de juros ainda em 2016, como já é antecipado pelas taxas de juros de mercado”, diz o relatório. “Na nossa visão, a flexibilização monetária irá se estender pelo ano de 2017, favorecendo a expansão da demanda no ano seguinte”, avalia o banco. Em segundo lugar, o Itaú projeta que o cenário de estabilização dos preços das commodities se sustentará nos próximos anos, também favorecendo a retomada do investimento.

Câmbio e juro aumentam margens

Por fim, com relação à alavancagem, a tendência é de queda, diante da redução dos juros e aumento das margens das empresas, afirma o Itaú. O recuo da dívida líquida das empresas é explicado pela apreciação recente da taxa de câmbio e pela queda esperada dos juros. As margens, por sua vez, serão impulsionadas não pela receita, mas sim por custos de produção menores. “Ambos os fatores já estão levando à desalavancagem das empresas”, afirma o Itaú. O recuo da alavancagem entre o último trimestre de 2015 e o segundo trimestre de 2016 é explicado pela apreciação do câmbio e pela queda dos custos. À frente, os juros menores e os custos mais baixos permitirão que a desalavancagem das empresas se intensifique.

Desemprego demora mais a cair

Os custos de produção das empresas, por sua vez, devem cair devido à elevada ociosidade nos mercados de fatores de produção, seja no uso do parque industrial, seja no mercado de mão de obra. A taxa de desemprego está perto do máximo histórico e deve permanecer em patamares elevados nos próximos dois anos.

Com isso, o custo unitário do trabalho (CUT)  fica menos pressionado, aumentando as margens das empresas. Ajustado pela capacidade instalada, o CUT cresceu 20% durante o período de boom, mas reverteu essa tendência a partir de 2015. Desde então, o indicador recuou, voltando para o patamar de 2010.

Aluguéis mais baratos

Outro sinal de menor pressão de custos para empresas vem dos aluguéis. O Índice FipeZap que acompanha a evolução dos aluguéis de imóveis comerciais registrou uma queda de cerca de 35% entre o início de 2013 e julho de 2016, corrigindo pela inflação do período. Acumulado em doze meses, o índice registrou queda em termos reais de 17,7% em julho e de 19,6% na cidade de São Paulo.

“Em suma, os fundamentos (juros, alavancagem das empresas e preços das commodities) apontam para uma retomada do investimento adiante”, afirma o Itaú em relatório. “Em nossa visão, o investimento irá voltar a crescer mesmo com a capacidade ociosa elevada na economia”, acrescenta. O banco diz acreditar que há uma relação entre as duas variáveis. “No entanto, os exercícios econométricos sugerem que o nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) não antecede o crescimento do investimento, mas sim o contrário”.

A volta do consumo, segundo passo

Durante a recessão, o consumo recuou 9%, voltando a patamares de 2011, calcula o banco. Os juros elevados e a deterioração do mercado de trabalho explicam esse movimento. Mais adiante, ambos os fundamentos apontam para a recuperação do consumo, acredita o Itaú. A recuperação do mercado de trabalho demora um tempo maior para ocorrer, uma vez que o emprego responde com defasagens ao ciclo econômico. Dessa forma, a retomada ganha força com a volta do consumo apenas a partir de 2018, junto com a retomada do mercado de trabalho.

Retomada começará em marcha lenta

O Itaú projeta que a retomada da economia brasileira ocorrerá gradualmente. No primeiro momento, ocorre estabilização do crescimento, reflexo do ciclo de recomposição de estoques. Esse movimento já está ocorrendo no segundo semestre desse ano. A segunda etapa da recuperação é a volta do investimento, diante da desalavancagem das empresas, juros mais baixos e da evolução mais favorável dos preços das commodities. “No entanto, a intensidade da volta do investimento depende do nível da alavancagem das empresas e da fraqueza do mercado de trabalho”, diz o Itaú.

O crescimento do PIB de 2017 é mais limitado pela ainda elevada alavancagem das empresas. Por fim, mais adiante, a recuperação ganha força com a volta do consumo, reflexo da melhora do mercado de trabalho e dos juros menores. Mas esse cenário de retomada depende crucialmente da aprovação das reformas fiscais.

PIB perdido, só em 2018

Além disso, destaca o Itaú,a recuperação é cíclica e não significa um aumento do PIB potencial da economia brasileira. A retomada irá ocorrer a partir de um patamar baixo de PIB. “Em nosso cenário, o PIB só recupera o seu nível pré-recessão após 2018, e, em termos per capita, apenas em 2020”.

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