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B3 conclui união de clearings e pode liberar R$ 21 bilhões em garantias

A B3 finalizou às 06 horas de hoje a implantação da segunda fase do Projeto de Integração da Pós-Negociação, que consiste na migração das operações dos mercados de renda variável e renda fixa privada para a clearing multiativos. Com esta migração, R$ 21 bilhões de capital de garantias dos investidores serão devolvidos para o mercado, com a preservação completa dos sistemas de segurança da clearing.

Somadas as fases 1, ocorrida em 2014, e 2 do projeto, chega-se ao total de R$ 41 bilhões de capital de garantias devolvidas, diz a bolsa em comunicado.

A clearing multiativos tem uma capacidade para gerenciar 10 milhões de transações por dia e permite que os participantes dos seus mercados sejam mantidos informados dos requisitos de risco e margem de garantia em tempo real ao longo de todo o funcionamento do mercado.

“Com mais esta etapa de migração, a B3 e seus participantes modernizam e simplificam suas infraestruturas tecnológicas e também reduzem os custos de middle e back office com uma maior padronização de regras, processos e rotinas”, informa a bolsa.
Na primeira fase do projeto, ocorrida em 2014, o registro, a compensação, a liquidação e o gerenciamento de risco de operações com derivativos financeiros e de commodities, mercado de balcão (swaps, termo de moeda e opções flexíveis) e mercado a vista de ouro migraram para a clearing multiativos.

Em 11 de agosto deste ano, o Banco Central (BC) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) concederam à B3 as autorizações necessárias à implementação da 2ª fase do Projeto. Com isso, foram encerradas as atividades de compensação, liquidação e de gerenciamento de riscos da antiga Câmara de Ações da BM&FBovespa em 25 de agosto.

Nova bolsa

A integração das clearings abre caminho para que outras bolsas possam utilizar o serviço, conforme determinou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a aprovar a fusão da BM&FBovespa com a Cetip. O presidente da bolsa, Gilson Finkelsztain, informou que há uma negociação com a Americas Trading System Brasil (ATS Brasil) e com a Americas Clearing System (ACS) para o uso da infraestrutura da clearing para uma nova bolsa de valores. A Bolsa de Nova York (Nyse), que participava do projeto da nova bolsa e tinha 20% da ATS Brasil, deixou a sociedade em junho.

Sistema de controle de riscos

A clearing multiativos conta com o CORE (Close-out Risk Evaluation), um dos mais modernos e seguros sistemas de administração de risco do mundo. O CORE possibilita maior eficiência na alocação de capital por realizar a avaliação conjunta de risco de portfólios heterogêneos, compostos por diferentes tipos de ativos, contratos e garantias nos Mercados de Bolsa e Balcão.

O sistema simula milhares de trajetórias de preços possíveis para os ativos, contratos e garantias presentes na carteira do investidor, por meio de técnicas de modelagem diferentes que se complementam, fornecendo maior robustez ao cálculo de risco, explica a bolsa em comunicado.

Como será a liberação das garantias

A bolsa explicou como se dará a liberação das garantias pela união das clearings. Muitos gestores nacionais e internacionais fazem estratégias de arbitragem, do tipo Long e Short, no mercado de ações. Nela, um investidor toma emprestado (no mercado de aluguel de ativos da B3) ações que tenham um peso grande na carteira do Índice Bovespa, com o objetivo de “shortear”, ou ficar vendido, ganhando com a queda da ação que terá de devolver no futuro.

Estes papéis não precisam representar exatamente a carteira do Ibovespa, mas podem estar próximos ou semelhantes à carteira. Assim, o investidor toma os papéis, vende, e para fazer o hedge desta operação, (a ponta “long” da estratégia Long e Short) ele compra o índice futuro de Ibovespa. Assim, caso a bolsa suba demais, ele ganha no mercado futuro e compensa em parte as perdas com a subida da ação na qual estava vendido.

No passado, sem a integração das clearings, a ponta Short era liquidada e garantida com títulos ou outras garantias numa clearing e a ponta Long, que está no futuro de Ibovespa, era liquidada e garantida com outras garantias  em outra clearing.

À medida que as duas operações ocorrem numa mesma clearing, o sistema consegue compreender que os riscos do investidor em cada uma das pontas da estratégia são opostos e tendem a se compensar. Assim acontece a economia de garantia para o mercado, com a redução da chamada de margem de garantia do investidor feita pela bolsa quando o risco aumenta.

Neste exemplo, a margem pode ser até de 80% menor em relação ao modelo anterior, uma quantia extremamente relevante para os clientes em termos de eficiência operacional, estima a bolsa.

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