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Com dez pregões de alta e 79 mil pontos, Ibovespa acumula ganho de 8,8%, mas risco é maior

O Índice Bovespa terminou a primeira semana de 2018 batendo recordes de pontos todos os dias. Na sexta-feira, fechou em 79.071 pontos, com alta de 0,54 e acumulando 3,49% na semana. Mas a decolagem do índice começou antes, em 19 de dezembro, quando o principal indicador do mercado acionário brasileiro estava em 72.680 pontos. De lá para cá, em dez pregões, o Ibovespa só subiu e acumula agora 8,8% de ganho, mais que todo o juro Selic esperado para 2018, de 6,75%.

Mas não é só no Brasil que as ações estão subindo sem parar. O movimento global começou no fim de 2017 e ganhou força neste início de ano. A expectativa de crescimento mundial mais forte puxado pelos Estados Unidos, China e Europa, com inflação baixa, o que permite juros ainda modestos por mais tempo, foi reforçada por novos dados semana passada. E houve também sinais de redução da tensão geopolítica, com a Coreia do Norte abrindo canais de diálogo com a Coreia do Sul.

Esse clima fez as bolsas do mundo todo baterem recordes na semana passada. O Índice Dow Jones superou os 25 mil pontos e o Standard & Poor’s 500 segue nas máximas, assim como o Nasdaq. E mesmo o Índice Nikkei, no Japão, que luta há décadas com uma recessão crônica, está no maior nível desde 1992. As commodities também estão em alta e o petróleo tipo Brent está de novo perto dos US$ 70,00 o barril.

Oito dias de entrada de estrangeiros na bolsa

No Brasil, o otimismo internacional aparece no fluxo de estrangeiros, com saldo de R$ 1,260 bilhão só nesta semana. Já são oito dias de entrada líquida de recursos na bolsa brasileira, destaca o BB Investimentos. Mas o risco segue elevado para o investidor, que não deve se deixar levar pelo entusiasmo, pois uma alta tão rápida pode levar a uma realização de lucros em breve.

Risco do Brasil é o menor desde 2014

Não foi só a bolsa que refletiu o aumento do otimismo mundial. O ano começou também com dólar em forte queda (2,5% na semana, para R$ 3,22), assim como os juros (o contrato futuro de DI para janeiro de 2021 caiu para 8,88%), observa José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “O ambiente externo ajudou bastante, principalmente pelo efeito da liquidez global sobre a percepção de risco dos países emergentes (Credit Default Swaps, ou CDS, que refletem o risco dos países, em queda)”, diz. O CDS do Brasil recuou para 1,47 ponto percentual, o menor nível desde 2014 na sexta-feira.  Gonçalves atribui a melhora também a fatores locais, como o esforço do governo na semana entre o Natal e o ano novo na busca de condições para aprovar a “reforma” da Previdência em fevereiro, acrescenta o economista.

Cenário ainda frágil

O risco, porém, continua presente. As agências de risco internacionais ainda avaliam a frágil situação fiscal do Brasil e podem rebaixar o rating do país, coroando toda a incerteza que há sobre as contas públicas deste ano, que não vão fechar se o governo não aprovar medidas para compensar a perda de arrecadação com as que não passaram no Congresso no fim do ano passado, como a tributação sobre fundos fechados e o aumento da contribuição à Previdência dos servidores públicos. E há ainda o julgamento do recurso ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, que pode definir o cenário da disputa presidencial. Sem contar a reforma da Previdência, que terá de ser aprovada neste governo ou no próximo, e que terá uma nova fase depois do Carnaval. E toda a disputa pela Presidência, que deverá definir o futuro do país nos próximos quatro anos.

Mais investidores em bolsa

Outro fator que favorece a alta da bolsa é o fato que as fundações de seguridade que tiveram resultados melhores em 2017 ficam bastante estimuladas para absorver parcelas de risco maiores e com isso cobrir parte do déficit atuarial de exercícios anteriores, avalia Álvaro Bandeira, do home broker Modalmais. Isso é válido também para outros gestores de fundos multimercados. “Essa ampliação de risco é completamente amparada na recuperação da economia global e menor risco geopolítico”, diz em relatório.

Risco de realização de lucros

Ele alerta, porém, que, depois de tantas altas e valorizações, “existem lucros recentes a serem apropriados e é possível que, em determinados momentos, a pressão vendedora seja maior”. Para a bolsa continuar subindo, vai ser preciso manter e ampliar o fluxo canalizado para ações. “Temos que considerar ainda que a situação local não é exatamente como ‘céu de brigadeiro’, e a volatilidade vai permanecer elevada por um bom tempo”, alerta.

Dois fatores de alta fundamentais, diz Bandeira, são o julgamento de Lula dia 24 e o encaminhamento da reforma da Previdência, que começa em 19 de fevereiro. E há os riscos internacionais, que se não estão visíveis no cenário econômico, podem surgir nos conflitos regionais como recentemente no Irã e em Israel. Olhando os gráficos apenas, Bandeira diz que o Ibovespa terá de “consolidar” um nível de 79.200 pontos para partir depois para 80 mil.

Mas no curto prazo, não é possível saber para onde vai a bolsa. O certo é que há o risco de realização depois de tantas altas, e uma realização não só no Brasil, mas no mundo todo. A questão é qual será a intensidade e a duração desse ajuste.

 

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