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Café na Arena: fundos de recebíveis crescem com retração de crédito e Basileia 3

O aperto de liquidez nos bancos, que estão evitando aumentar os empréstimos para as empresas, levou a um aumento do interesse pelas operações de crédito estruturado, como as vendas de recebíveis e os fundos de direitos creditórios (Fidc) este ano, afirma Carlos Fagundes, sócio fundador da Integral Trust. A empresa é especializada em montar essas operações estruturadas, além de prestar consultoria para bancos.

Em entrevista ao Café na Arena, Fagundes falou do potencial de crescimento dos Fidcs e de outros instrumentos de captação via mercado de capitais e também sobre o impacto das regras de Basileia 3 sobre os bancos. Segundo ele, Basileia 3 vai exigir mais capital dos bancos, o que pode limitar as operações de crédito das instituições no futuro. Isso também deve incentivar um maior uso do mercado de capitais pelas empresas para obter recursos.

Migração para recebíveis

Segundo Fagundes, está ocorrendo uma migração dos negócios de financiamento convencionais para operações de crédito estruturado, como fundos de direitos creditórios, por uma questão simples. Os bancos estão com restrições para assumir novos riscos de crédito, o mercado internacional está relativamente fechado para empresas brasileiras e as linhas de bancos estatais também estão menos frequentes. Então, a migração natural é para transações do mercado de capitais. E crédito estruturado é ótima alternativa e vem cobrindo essa necessidade das empresas.

Mercado ainda pequeno

Para Fagundes, o problema é que o mercado de capitais brasileiro ainda é muito pequeno em relação ao tamanho de nossa economia. E é em momentos como o atual que as empresas aprendem a usá-lo. Ele diz que existe oferta de recursos para comprar essas operações, em geral grandes investidores, como fundos de pensão, seguradoras, fundos de renda fixa de crédito privado, todos buscando aplicações garantidas e mais seguras e com retornos acima da taxa básica do CDI. E, para as empresas, é uma boa fonte de capital de giro.

E há opções que atendem tanto pequenas empresas, por meio de fundos para cadeias de fornecedores de grandes empresas, como para corporações de grande porte venderem seus recebíveis. Indústrias, comércio e agora concessionárias de serviços, como água, luz e telefone, colocam as contas a receber em fundos de recebíveis e antecipam os valores com taxas mais baixas.

Basileia 3 tornará capital mais caro

Fagundes explica também que esse processo deve se acentual à medida que o país adotar as regras de Basileia 3, que devem exigir maior qualidade do capital dos bancos. Como o banco só pode emprestar um determinado percentual de seu capital, alguns terão de fazer aportes, ou seja, os acionistas terão de colocar mais dinheiro na empresa para continuar emprestando o mesmo que hoje. E, com isso, o capital deve ficar mais caro e passará a ser um limitador dos empréstimos, assim como hoje é a captação de recursos, o chamado funding.

Limpeza do capital até 2018

No Brasil, o ajuste a Basileia 3 ocorrerá em duas fases relevantes. Na primeira, até 2018, haverá uma limpeza do capital dos bancos, com a retirada de ativos de menor qualidade, caso principalmente do crédito tributário, que é o valor que o banco pode descontar do lucro no futuro por ter pago imposto a mais. Mas esse é um ativo de difícil realização, explica Fagundes, pois o banco precisa ter lucro para abater, e não serve para cobrir riscos de liquidez em um momento de problema estrutural.

Papéis que são quase ações

Outro impacto relevante será a requalificação dos instrumentos híbridos de capital, que vai até 2023. Esses instrumentos são títulos que podem ser considerados como capital do banco, ou seja, podem ser usados pelo banco em casos de emergência, quase como ações. Por exemplo, nos hibrido de capital de dívida, como são chamados os títulos de renda fixa especiais emitidos pelos bancos, em alguns casos eles têm de ser perpétuos. Em outras situações, eles têm de ser canceláveis no caso de o banco entrar em dificuldades. Ou seja, se o banco tiver dificuldades, ele não paga o título cancelável.

Concentração versus FinTechs

Fagundes espera ainda que a concentração do mercado bancário brasileiro continue, com ocorre no resto do mundo. Uma expansão pode ocorrer, porém, com a entrada no mercado de empresas que também ofereçam serviços bancários, mas com alta tecnologia, as chamadas FinTechs.

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