Ações na Arena, Corretoras

Venda de fatia da XP para o Itaú pode valorizar concorrentes; Easynvest quer dobrar de tamanho

A venda de participação relevante do capital da XP Investimentos, maior corretora independente do mercado, para o Itaú Unibanco, fechada ontem, deve valorizar outras corretoras independentes com estratégias semelhantes. Mesmo que a compra tenha sido de 49,9% do capital total e 30% do votante, com opção de compra do restante do controle nos próximos anos, e que a gestão continue com os antigos sócios, fica difícil para a XP manter o discurso de independência total após a operação, o que pode levar parte de seus clientes ou agentes autônomos para outras corretoras.

Além disso, alguma contrapartida o Itaú deverá obter, seja na parte operacional, das liquidações de operações dos clientes, seja na oferta de seus produtos. Há ainda todo o compliance e controles que o Itaú, como maior banco privado do país, levará para dentro da XP.

Em contato com a Arena do Pavini, a assessoria da XP destacou que o controle e a gestão continuam com a XP, sem qualquer mudança para o cliente e o agente autônomo. Disse ainda que não existe qualquer tipo de integração operacional ou comercial com o banco. E que não procede a informação que o Itaú levará para a XP seu sistema de  compliance e controles.  

Agentes autônomos

Há expectativa grande com relação à reação dos agentes autônomos, muitos dos quais esperavam usar a abertura de capital para vender parte de sua participação na empresa. Como a abertura e capital será cancelada, eles perderam essa oportunidade. Além disso, agora terão de cumprir regras mais rígidas de prestação de contas, outro efeito esperado pelo mercado da operação. Houve ainda um processo de concentração forte nos últimos anos, com a XP adquirindo sua principal concorrente, a Rico Investimentos no fim do ano passado. Antes, ela já havia adquirido a Clear, especializada em operações eletrônicas.

Campanhas aumentam o interesse das pessoas

Ao mesmo tempo, toda a campanha feita pela XP nos últimos meses contra os bancos deve aumentar a procura dos investidores pelas corretoras independentes com modelos parecidos de investimentos diversificados voltados para pessoas físicas. Uma das beneficiadas desse novo cenário deve ser a Easynvest, que já corria por fora antes da venda da participação da XP, tendo inclusive atraído o investimento de um fundo de private equity americano, o Advent.

A corretora tem metas ambiciosas de crescimento, explica Márcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest. O número de clientes vem crescendo com as campanhas e os investimentos, afirma o diretor. “Temos hoje 170 mil clientes ativos, quase 40 mil a mais que os 132 mil no começo do ano”, diz. A maior parte são investidores de renda fixa, atraídos pela isenção. “Mas é normal, pois a renda variável é uma parcela menor do portfólio dos brasileiros”, afirma.

Dobrar de tamanho

O foco da Easynvest é dobrar de tamanho e chegar aos 310 mil clientes ativos no fim do ano e R$ 20 bilhões de ativos sob custódia, o que significa dobrar o volume de R$ 11 bilhões custodiados de hoje. Esse crescimento deve vir com as inovações que estão sendo implementadas pela corretora. “Estamos contratando mais gente, melhorando nosso back office, nossos processos”, diz.

Nesse ponto, a sócia Advent veio para reforçar esse crescimento, melhorando a governança da empresa, explica Cardoso. “Estamos promovendo uma mudança de cultura para ter governança mais rígida, processos mais rígidos”, explica. Para isso, a corretora conta com a ajuda de três consultorias contratadas para aperfeiçoar seus processos.

Isenção de tarifas

A Easynvest sempre teve uma política agressiva de tarifas para conquistar clientes. “Nunca cobraram nada na renda fixa, não temos taxa de custódia, corretagem mínima”, explica Cardoso. “O valor do nosso negócio está na negociação com os parceiros que temos dentro de casa, não nas tarifas”, afirma. Outra preocupação é não ter taxas escondidas.

Já na renda variável, a Easynvest   cobra corretagem com teto, até 100 operações, cada uma R$ 10, com teto de R$ 1 mil. “Isso independente do volume, acima de 100 operações não paga mais”, diz.  Antes, havia uma corretagem mínima, de R$ 30, o que causava alguma confusão. Essa cobrança mínima acabou este ano.

Cardoso diz que o giro de negócios com ações aumentou com a mudança de tarifas e a melhora da bolsa, mas o mercado ainda é pequeno. As pessoas físicas representam menos de 20% do volume da bolsa, e muitos são negociadores pesados. “Nosso foco não é esse, do giro diário, é o do investidor de médio e longo prazo”, explica.

O leque de investimentos oferecido pela corretora também cresceu, e inclui desde operaçõe estruturadas, os chamados COEs, debêntures, fundos, Tesouro Direto e títulos privados.”Conseguimos uma diversificação razoável no universo de produtos que os investidores estão buscando”, afirma.

Sem assessores

A proposta da Easynvest, porém, não é ter assessores, explica Cardoso. “Não queremos atendimento pessoal, é tudo eletrônico, não ter ninguém fazendo assessoria para o investidor”, diz. Segundo ele, a corretor acredita que há uma parcela de investidores capaz de tomar suas próprias decisões de investimentos. “Assim como tem muita gente que vai comprar um carro e perde tempo para estudar, outros compram porque amigo tem um”, diz.

São públicos diferentes, com interesses diferentes e com uma demanda que está longe de ser atendida, acredita. “Há uma quantidade limitada de instituições financeiras atuando de maneira agressiva nesse segmento, mas tem espaço”, afirma.

Entre as melhorias estão sistemas que permitem o acesso aos clientes para tirar dúvidas e aumentar o foco em determinados produtos e áreas, entre elas a distribuição de fundos de terceiros. “Acreditamos que até fim do ano conseguiremos entregar uma serie de mudanças que permitam atender a demanda que o cliente tem”, diz.

Competição com os bancos

Segundo Cardoso, a competição com os bancos é diferente. Os bancos têm uma quantidade de produtos e serviços que as corretoras não oferecem. “O problema está na forma como eles se relacionam com os clientes”, diz. Por isso, muitas stardups de crédito e investimentos estão quebrando conceitos. “O Itaú é um banco ágil, percebe que tem de fazer alguma alteração e está buscando criar esse movimento para capturar ou segurar clientes que estão eventualmente saindo”, diz.

BTG Pactual

Os ganhadores do negócio entre Itaú e XP incluem, além da Easynvest, o BTG Pactual, que poderá colocar sua plataforma digital como uma alternativa fora dos grandes bancos de varejo, diz Felipe Miranda, sócio da Empiricus em artigo divulgado esta semana. “Embora ainda tenham um porte bem menor e não impactem o sistema com a relevância que poderiam, ambos poderão se apropriar do discurso da desbancarização anteriormente proferido com assertividade e precisão pela XP”. Já quem perde são os investodores, afirma Miranda, pois perdem “aquela que vinha sendo a única alternativa crível, viável e com impacto material em relação aos bancos”.

 

 

 

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