Ações na Arena, Oferta pública

Terminam hoje reservas de ações do Carrefour e da Biotoscana

Terminam hoje as reservas das ações de duas aberturas de capital (IPO), do Carrefour e da empresa farmacêutica Biotoscana. O Carrefou está abrindo seu capital por meio de sua subsidiária, o Atacadão, e deve levantar um valor de R$ 4 bilhões a R$ 5,6 bilhões se as ações saírem pelo preço mais alto. Será portanto a maior oferta de ações deste ano. O valor indicativo das ações vai variar de R$ 15 a R$ 19, com preço intermediário de R$ 17.

Já a Biotoscana, que tem como sócios o fundo americano Advent e a Essex Woodlands, tem sede em Luxemburgo e atua em toda a América Latina, na área de medicamentos especiais para doenças raras, câncer doenças infecciosas e é mais voltada para hospitais, clínicas. Por ser uma empresa estrangeira, ela vai emitir recibos de ações, os chamados Brasiliam Depositary Recepts (BDR) e pode levantar R$ 850 milhões.  Desse valor, 60% vão para os sócios e 40% ficarão com a empresa.

Entre 2014 e 2016, a receita líquida da Biotoscana cresceu de R$ 406,4 milhões para R$ 795,5 milhões, equivalente a um crescimento anual de 39,8%.  Segundo o Estadão, a demanda pelo papel teria superado em duas vezes a oferta, considerando o piso de preço da ação, de R$ 24,50.

Do total da oferta do Carrefour, a maior parte, R$ 3,9 bilhões, será de ações novas, de emissão primária, que irão para o caixa da empresa para pagamento de dívidas e reforço do capital de giro e crescimento, o que já é um bom sinal, pois o dinheiro será reinvestido no negócio.

Já R$ 1,7 bilhão serão papéis de sócios, ou seja, oferta secundária, do Carrefour Brasil (Atacadão S/A), Carrefour Nederland e Península Participações, do empresário Abílio Diniz. Com isso, o valor total da empresa poderá chegar a R$ 37,6 bilhões, divididos em 73,5% com o Carrefour, 11,5% com a Península e 15% no mercado.

Cálculos do UBS

O valor final do Carrefour Brasil nesse cálculo está acima do estimado pelo suíço UBS, de € 8,7 bilhões, ou R$ 31,8 bilhões, tendo como base as vendas líquidas, de R$ 52,2 bilhões, e a margem em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida ou Ebitda) de 7,5% e um valor de empresa, que representa o patrimônio mais a dívida em relação ao Ebtida (EV/Ebtida) de 8 vezes.

Maior em alimentos

O Carrefour é o maior varejista de alimentos em volume de vendas e área total, sendo a única varejista brasileira com presença em todo o país. São 150 cidades e 26 Estados. Seu braço de atacado para pessoas físicas, ou atacarejo, o Atacadão, também é líder no segmento, com faturamento de R$ 7,9 bilhões no primeiro trimestre, sendo 83% vindos de alimentos.

Segundo Caio Farme D’Amoed, da BlueChip Invest, a visão é positiva para as ações do Carrefour, considerando todos os aspectos positivos do negócio, alta rentabilidade e perspectivas de crescimento. A indicação de compra é de até R$ 17 por ação.

Riscos e pontos fracos

Entre os pontos negativos, estão a alta concorrência e baixa nível de margens do setor, o enfraquecimento da atividade econômica e um controlador estrangeiro com mais de 70% das ações, que apesar do tag alongo de 100% pode representar risco para os minoritários, apesar da presença de Abilio Diniz como grande minoritário.

Royalties para a matriz

A empresa anunciou recentemente que sua matriz vai cobrar royalties pela marca, que podem chegar a 0,125% das venda líquidas do segmento Varejo do Carrefour, que respondem por 39% do total. Considerando vendas totais de R$ 52 bilhões, a parcela de varejo seria de aproximadamente R$ 20 bilhões e o royalty chegaria a R$ 25 milhões. Isso pode impactar o dividendo dos acionistas, avalia a consultoria Eleven Financial Research.

Vantagens sobre o Pão de Açúcar

O Carrefour tem, porém, vantagens sobre o Pão de Açúcar. Seu prazo médio de estoques é de 45 dias, ante 53 do concorrente. O prazo médio de pagamento é de 76 dias, menor que os 82 do Pão de Açúcar. E o prazo médio das contas a receber é de 7 dias, ante 5 do Pão. A margem Ebitda do Carrefour também é maior que o do Pão de Açúcar pela maior presença do Atacadão, que tem margem de 6%, enquanto o atacarejo do concorrente, o Assai tem margem de 4,7%.

Atacadão tem peso maior no Carrefour

E o Atacadão já representa 61% das vendas líquidas do Carrefour, enquanto o Assai no Pão de Açucar representa apenas 38,27%.

O Carrefour também tem um índice de vendas por metro quadrado maior, pela margem mais alta e pelo maior fluxo de clientes e compras, já que tem um giro 70% superior pela maior presença do atacarejo.

Caso o papel saia por R$ 19,00, ele seria avaliado em 11,3 vezes seu valor de negócio (Enterprise Value, EV, equivalente a seu patrimônio mais dívida líquida) em relação a sua geração de caixa (Ebidta ou Lajida). A RS 17,00, a relação seria de 10,3% e a R$ 15,00, 9,3 vezes.

Prêmios sobre o Pão de Açúcar

Com isso, mesmo que na faixa mais baixa, o Carrefour sairia com um prêmio de 10% sobre o concorrente Pão de Açúcar, diz a BlueChip Invest. Na faixa intermediária, o prêmio seria de 20% e, na mais alta, 30%. Se os lotes complementares e adicionais forem vendidos, o valor do Carrefour (EV/Ebtda) na faixa intermediária, de R$ 17,00, subiria para 11 vezes o Ebitda, ou 29% de prêmio sobre o Pão de Açúcar.

Mas outros fatores seriam favoráveis ao Carrefour. Pelo preço intermediário, de R$ 17,00, o grupo teria um preço em relação ao lucro (P/L) de 32 vezes, menor que os 42,8 do Pão de Açúcar. A taxa de retorno sobre o capital investido, (ROIC), por sua vez, seria bem maior, 31,42%, ante 12,75% a do Pão de Açúcar, ou 2,5 vezes maior.

 

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